I.M. Pei: um americano em Paris
I.M. Pei foi um arquitecto de sínteses impossíveis, que garantiu, nas circunstâncias mais desfavoráveis, que as suas obras contribuíssem para a consolidação do valor colectivo da cultura ocidental.
I. M. Pei formou-se na esteira dos arquitectos modernos, capazes de combinar a abstracção formal com a potência simbólica dos edifícios. Numa síntese improvável de grandes nomes da arquitectura americana que o antecederam, algures entre Louis Kahn e Philip Johnson, Pei foi capaz de incorporar as transformações da prática da arquitectura no pós-guerra, respondendo às exigências técnicas e à demanda por capacidade de resposta das grandes firmas. Projectou com eficiência edifícios de escritórios, torres de habitação, grandes complexos comerciais e, em simultâneo, respondeu aos anseios de representação dos grandes edifícios culturais, como a National Gallery de Washington.
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I. M. Pei formou-se na esteira dos arquitectos modernos, capazes de combinar a abstracção formal com a potência simbólica dos edifícios. Numa síntese improvável de grandes nomes da arquitectura americana que o antecederam, algures entre Louis Kahn e Philip Johnson, Pei foi capaz de incorporar as transformações da prática da arquitectura no pós-guerra, respondendo às exigências técnicas e à demanda por capacidade de resposta das grandes firmas. Projectou com eficiência edifícios de escritórios, torres de habitação, grandes complexos comerciais e, em simultâneo, respondeu aos anseios de representação dos grandes edifícios culturais, como a National Gallery de Washington.
A geometria, a forma e a qualidade perene dos materiais utilizados caracterizaram essa arquitectura de compromisso, capaz de modelar o espaço e a sua luz para potenciar a experiência física dos habitantes dos seus edifícios e assegurar aos promotores da obra um notável retorno simbólico. É por isso que a sua firma tanto trabalhou para edifícios institucionais, entre estados e fundações, como para promotores privados, sem nunca abdicar da qualidade da arquitectura, da sua dimensão social e da sua posição cultural.
O ponto alto desse percurso foi, sem dúvida, a capacidade de intervir no Museu do Louvre, a referência maior da cultura francesa e ocidental. O que ele conseguiu, numa obra com uma raríssima complexidade infra-estrutural e patrimonial, foi transformar o complexo numa entidade articulada, e introduzir-lhe uma nova função comercial, em consonância com a crescente comodificação da cultura. Para além da pirâmide, que inscreveu no Louvre uma nova simbologia da era Miterrand, e de importantes trabalhos de consolidação da estrutura do edifício, que permitiram preservar o valor patrimonial do conjunto, Pei transformou o museu num grande centro comercial, em sintonia com a mercantilização da cultura que caracteriza o nosso tempo. E fê-lo com uma dignidade, dimensão e rigor capazes de se inscreverem em continuidade com as características singulares do monumento preexistente.
Pei foi um arquitecto de sínteses impossíveis, que garantiu, nas circunstâncias mais desfavoráveis, que as suas obras contribuíssem para a consolidação do valor colectivo da cultura ocidental. Seguindo o legado moderno, fê-lo através da monumentalidade, da abstracção formal, do controlo dos materiais, da luz e das dinâmicas do movimento das pessoas no espaço. A sua grande contribuição foi prolongar esse legado para o tempo complexo da economia de mercado, persuadindo os clientes mais difíceis a valorizar a arquitectura e a qualidade da construção.
Arquitecto, professor, curador e crítico do PÚBLICO