Estudo revela que fim da UE até 2040 é “possibilidade realista” para maioria dos europeus

Inquérito divulgado não engloba Portugal e revela que dois terços dos europeus acreditam que ser membro da União Europeia é uma coisa boa.

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Maioria dos inquiridos considera que ser membro da UE é uma coisa boa daniel Rocha

A maioria dos europeus acredita que a desintegração da União Europeia (UE) é uma “possibilidade realista” nos próximos 10 a 20 anos, apesar do apoio ao bloco comunitário registar actualmente níveis recordes, segundo um estudo realizado em 14 Estados-membros.

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A maioria dos europeus acredita que a desintegração da União Europeia (UE) é uma “possibilidade realista” nos próximos 10 a 20 anos, apesar do apoio ao bloco comunitário registar actualmente níveis recordes, segundo um estudo realizado em 14 Estados-membros.

A pouco mais de uma semana das eleições europeias, o estudo da YouGov, desenvolvido para o think-tank - grupo de reflexão - Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR) e que não inclui Portugal, mostra que metade ou mais de metade dos cidadãos da Eslováquia (66%), França (58%), Roménia (58%), Polónia (58%), Itália (58%), Grécia (57%), República Checa (56%), Hungria (53%), Holanda (52%), Alemanha (51%) e Áustria (50%) acredita que o fim da UE poderá acontecer até 2040.

Dos 14 países analisados -- que representam mais de 70% dos mandatos no Parlamento Europeu (PE) -- só na Suécia (44%), Dinamarca (42%) e em Espanha (40%) a hipótese de a desintegração do projecto europeu ser uma realidade a longo prazo regista níveis inferiores aos 50%. O documento destaca que quase 92% dos eleitores europeus inquiridos acham que irão perder se a UE entrar em colapso.

“O desafio para os pró-europeus é usar este medo de perda para mobilizar a sua maioria silenciosa e garantir que não sejam apenas os partidos anti sistema que se manifestam em 26 de Maio [dia em que a maioria dos 28 Estados-membros da UE votam]”, refere o ECFR, na sua página na Internet, numa referência ao desempenho dos actuais líderes europeus e ao surgimento de governos populistas em vários países do bloco comunitário.

O estudo, publicado na passada quarta-feira à noite por um conjunto de jornais internacionais como o britânico The Guardian ou o italiano La Stampa, mostra também que, quase sete décadas depois da criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), a origem de todo o caminho da integração europeia, três em cada 10 cidadãos europeus inquiridos pensam que um conflito entre os países da UE é também uma “possibilidade realista”.

Por exemplo, mais de um terço dos inquiridos em França (34%) e na Polónia (33%) acredita que uma guerra é possível entre Estados-membros.

O estudo, cujo trabalho de campo decorreu em Março passado, também mostra que os europeus estão igualmente preocupados com a falta de prosperidade.

No total dos 14 países, menos de um terço dos inquiridos chega ao fim do mês com dinheiro para gastar em bens não essenciais. Quando observado país a país, o estudo constata que a resposta a esta matéria em sete países (Espanha, Itália, Polónia, França, Roménia, Hungria e Grécia) fica abaixo dos 30%.

Apesar destas conclusões, que reflectem as preocupações generalizadas associadas às eleições europeias, o grupo de reflexão destaca que o apoio ao projecto europeu regista actualmente os níveis mais altos em mais de três décadas (desde 1983): dois terços dos europeus acreditam que ser membro da UE é uma coisa boa.

“Os pró-europeus precisam de oferecer aos eleitores ideias arrojadas que tenham impacto emocional e façam sentir à maioria silenciosa que vale a pena comparecer no final de Maio. Ainda não é tarde demais. Com um eleitorado europeu volátil, há até 97 milhões de eleitores que ainda poderão ser persuadidos a votar em partidos diferentes”, indica o diretor do ECFR , Mark Leonard, citado pelo jornal britânico The Guardian.