Pior seca em 37 anos põe 40% dos norte-coreanos em risco de fome

Níveis de precipitação atingiram níveis mínimos das últimas décadas e agravaram a já de si reduzida produção alimentar norte-coreana. ONU teme que a escassez de comida e a fome afectem 10 milhões de norte-coreanos.

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A pior seca das últimas quatro décadas ameaça pôr a Coreia do Norte no trilho de uma séria e preocupante crise alimentar. A falta de chuva e o seu impacto negativo na produção alimentar no país de Kim Jong-un levam a Cruz Vermelha e as Nações Unidas a anteverem que dez milhões de norte-coreanos – 40% da população – fiquem numa situação de “necessidade urgente de comida e assistência”, especialmente as crianças, os idosos e os que já sofrem de desnutrição. Imprensa do regime confirma níveis mínimos de precipitação e assegura “medidas revolucionárias de prevenção dos danos” causados pela seca.

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A pior seca das últimas quatro décadas ameaça pôr a Coreia do Norte no trilho de uma séria e preocupante crise alimentar. A falta de chuva e o seu impacto negativo na produção alimentar no país de Kim Jong-un levam a Cruz Vermelha e as Nações Unidas a anteverem que dez milhões de norte-coreanos – 40% da população – fiquem numa situação de “necessidade urgente de comida e assistência”, especialmente as crianças, os idosos e os que já sofrem de desnutrição. Imprensa do regime confirma níveis mínimos de precipitação e assegura “medidas revolucionárias de prevenção dos danos” causados pela seca.

Na quarta-feira a agência noticiosa estatal anunciou ter registado, nos primeiros cinco meses do ano, uma redução da precipitação em mais de 42% da média dos anos anteriores. Um recorde negativo que, segundo a KCNA, não se verificava desde 1982, e que pode vir a ser agravado, uma vez que os serviços de meteorologia norte-coreanos não prevêem chuvas fortes até ao final do mês.

O New York Times escreve que preço do arroz e do milho mantém-se estável na Coreia do Norte e que, por enquanto, ainda não há relatos de casos de “fome em massa”. A ONU afirma, no entanto, em comunicado, que o Governo de Kim Jong-un já está a reduzir as rações diárias de comida e que a situação vai agravar-se entre Junho e Setembro, “se não forem tomadas acções humanitárias adequadas e urgentes” no imediato. 

O jornal norte-americano refere que a Coreia do Sul está a considerar o fornecimento de ajuda humanitária e que o Japão só admite fazê-lo mediante sinais do regime de abdicar do seu programa de desenvolvimento nuclear.

A Cruz Vermelha está a angariar fundos para a instalação de bombas de água no país e alerta para o facto de a produção alimentar já estar em queda, pelo menos desde 2017 – regista uma diminuição de 12%, em 2018, em relação ao ano anterior. A organização mostra ainda preocupação com a situação dos menores que já sofrem com fome no seu dia-a-dia.

“Estamos particularmente preocupados com o impacto que esta seca precoce vai ter nas crianças e nos adultos que já lutam pela sobrevivência. Antes da seca já se verifica que uma em cada cinco crianças, com menos de cinco anos, sofre de raquitismo por causa de má alimentação”, refere, citado pelo Guardian, o responsável pela delegação da Cruz Vermelha na Coreia do Norte, Mohamed Babiker.

O território norte-coreano já tinha sido afectado por graves secas em 2015 e 2017 que afectaram seriamente as suas colheitas de arroz, milho, soja e batata. Na altura, como em ocasiões anteriores, o regime comunista responsabilizou a ONU e os Estados Unidos pelos prejuízos, muito por culpa das sanções que lhe foram impostas, na sequência da realização de ensaios balísticos e nucleares.

A pior crise alimentar das últimas décadas na Coreia do Norte ocorreu entre meados dos anos 90 e início do século XXI, na ressaca da implosão da União Soviética e entre períodos de graves cheias e seca severas. O número total de mortos nunca foi oficializado, mas as estimativas apontam para mais de dois milhões.