May aceita sair de cena depois da nova votação do “Brexit”
Primeira-ministra britânica vai abandonar o cargo e a liderança do Partido Conservador mesmo que o acordo de saída com a UE seja aprovado em Junho. Boris Johnson quer ser candidato à liderança tory.
O atribulado percurso de Theresa May à frente dos destinos do Reino Unido está a chegar ao fim. Pressionada há muito por diferentes facções do Partido Conservador para renunciar ao cargo de primeira-ministra, devido à gestão desastrosa do processo do “Brexit”, a (ainda) líder do Governo britânico aceitou agendar os próximos passos para designação de um sucessor, para depois da quarta votação do acordo de saída do Reino Unido da União Europeia, previsto para a primeira semana de Junho, no Parlamento.
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O atribulado percurso de Theresa May à frente dos destinos do Reino Unido está a chegar ao fim. Pressionada há muito por diferentes facções do Partido Conservador para renunciar ao cargo de primeira-ministra, devido à gestão desastrosa do processo do “Brexit”, a (ainda) líder do Governo britânico aceitou agendar os próximos passos para designação de um sucessor, para depois da quarta votação do acordo de saída do Reino Unido da União Europeia, previsto para a primeira semana de Junho, no Parlamento.
A abdicação de May foi acordada, pela própria, durante uma reunião, esta quinta-feira, do Comité 1992 – que reúne todos os deputados conservadores sem cargos no Governo – e deverá abrir caminho para uma feroz corrida à liderança do partido, ainda antes do Verão. Candidatos não faltam, mas a contenda contará com a participação do brexiteer e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Boris Jonhson, que assumiu essa vontade ainda antes de conhecido o veredicto do grupo parlamentar.
“A primeira-ministra está determinada em assegurar a nossa saída da União Europeia e a desenvolver esforços para garantir a votação da proposta de lei sobre o acordo de saída se realiza na semana que começa a 3 de Junho”, referiu, em comunicado, o líder do Comité 1922, Graham Brady. “E acordámos que nos voltaremos a reunir depois da votação para definir um calendário para a eleição de um novo líder do Partido Conservador”, acrescentou.
Nos termos do compromisso assumido com os deputados tories, May renunciará ao cargo quer o seu acordo seja novamente rejeitado pela Câmara dos Comuns, quer seja aprovado – neste segundo caso, apenas lhe proporcionará as semanas necessárias para finalizar o procedimento legislativo. Uma formulação que, segundo as informações recolhidas pelo Guardian junto dos que participaram no encontro à porta fechada, acabou por satisfazer os conservadores eurocépticos que exigiam a definição de uma data de saída concreta.
Fontes próximas do executivo disseram à BBC que May está a pensar em demitir-se caso o acordo que negociou com Bruxelas seja chumbado pela quarta vez na câmara baixa de Westminster, como se espera. Os três chumbos já registados obrigaram ao adiamento do “Brexit”, de 29 de Março para 31 de Outubro, e à participação britânica nas eleições para o Parlamento Europeu.
“Claro que vou tentar”
Minutos antes de conhecidos os termos do acordo entre Theresa May e os deputados tories, Boris Johnson confirmou estar disponível para suceder à primeira-ministra, com quem se incompatibilizou no Governo, devido à sua opção por um “soft-Brexit”, em detrimento de um corte total do Reino Unido com a UE. “É claro que vou tentar. Não acredito que seja segredo para ninguém”, disse Johnson, sem surpresas, num evento em Manchester.
O antigo chefe da Diplomacia britânica e ex-mayor de Londres é um dos principais favoritos da ala brexiteer conservadora. Outros possíveis candidatos dessa facção são Michael Gove, actual ministro do Ambiente ou os ex-ministros do “Brexit”, Dominic Raab e David Davis. Do lado remainer, Jeremy Hunt (ministro dos Negócios Estrangeiros) e Sajid Javid (ministro do Interior) são potenciais participantes, numa corrida que promete dividir ainda mais o já dividido Partido Conservador.
O assentimento de May à definição de um calendário para a sua saída é o resultado do impasse em que se encontra o “Brexit”, bloqueado há meses pelas divergências em volta do backstop, a cláusula de salvaguarda que Bruxelas exige para manter aberta a fronteira entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda. E para desespero da primeira-ministra, o processo empancou nas negociações entre o Governo e o Partido Trabalhista, tendo em vista uma solução para que se possa aprovar um acordo de saída no Parlamento.
O partido de Jeremy Corbyn propõe a existência de uma união aduaneira pós-“Brexit”, entre Reino Unido e UE. Mas como May rejeita esse cenário, o líder da oposição já fez saber que uma quarta votação do mesmo acordo de nada servirá.
Ainda que a prazo, May vai manter-se à frente do executivo até à votação de Junho, tendo pelo meio umas eleições europeias que já não previa (nem queria) realizar. As sondagens são tenebrosas para os conservadores, colocando-os a disputar o quarto lugar com o Partido Verde – que só tem um deputado na actual Câmara dos Comuns. Em primeiro lugar nas intenções de voto surge o Partido do “Brexit”, de Nigel Farage, seguido do Labour e Liberais Democratas.
Com Ana Gomes Ferreira