Peru avança com aeroporto em Machu Picchu e o mundo teme a “destruição”
Mais de 200 especialistas mundiais escreveram ao Presidente peruano a pedir o fim da construção do aeroporto internacional, a 20 minutos da cidadela inca.
Já começou a ser trabalhado o solo para acolher o novo aeroporto internacional que vai permitir aos turistas voar directamente para muito perto de Machu Picchu. Mas arqueólogos, historiadores e residentes estão preocupados com os efeitos da construção da infra-estrutura, localizada a 30 quilómetros da cidadela sagrada, um projecto polémico desde que foi anunciado há sete anos.
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Já começou a ser trabalhado o solo para acolher o novo aeroporto internacional que vai permitir aos turistas voar directamente para muito perto de Machu Picchu. Mas arqueólogos, historiadores e residentes estão preocupados com os efeitos da construção da infra-estrutura, localizada a 30 quilómetros da cidadela sagrada, um projecto polémico desde que foi anunciado há sete anos.
Segundo o jornal britânico The Guardian, as escavadoras já estão a moldar o terreno para a construção em Chinchero. Ao jornal, Natalia Majluf, historiadora de arte da Universidade de Cambridge, de origem peruana e organizadora de uma petição contra o projecto, recorda que no local “há rotas que foram construídas pelos incas” e garante que a obra “irá destrui-las”.
Um grupo de 200 especialistas, entre arqueólogos, cientistas e historiadores, do Peru e de outros países, enviou uma carta aberta ao Presidente do país, Martín Vizcarra, manifestando-se contra o aeroporto. Na missiva, adianta a BBC na sua edição para a América Latina, escreve-se que esta construção em Chinchero "terá, inevitavelmente, efeitos nefastos em toda a zona”, exemplificando-se com “o ruído, o aumento do trânsito e a urbanização informal e descontrolada”. Mas vão mais longe: levará à "destruição” da “incomparável paisagem da cordilheira”, sublinham, dando como certo que “o projecto implicaria afectar para sempre a harmonia milenar deste universo”.
Em 2017, mais de 1,5 milhões de pessoas visitaram a cidadela, quase o dobro do limite recomendado pela UNESCO, o que tem fragilizado as ruínas e a paisagem local e levou a organização das Nações Unidas a exigir soluções ao Governo peruano. Actualmente, os visitantes podem chegar ao aeroporto de Cuzco que só tem uma pista e está limitado a aeronaves pequenas provenientes de Lima, capital do Peru, e La Paz, na Bolívia.
Pablo Del Valle, antropólogo peruano, citado pelo The Guardian, diz que é “irónico e contraditório que queiram construir um aeroporto a 20 minutos do Vale Sagrado dos Incas”. Já uma residente de Chinchero, Alejandrina Contreras, diz que vive “em paz” e que “não há crimes”, mas que com a construção do aeroporto “isso pode mudar”.
Porém, para o Governo do Peru, não há duvidas. O ministro das Finanças do país, Carlos Oliva, garantiu já que o aeroporto “vai ser construído o mais cedo possível” e que é suportado por “diversos estudos técnicos”.
O avanço aparentemente definitivo da obra surge quase em simultâneo, curiosamente, com novas medidas de gestão e restrição do número de visitantes a Machu Picchu, com alguns dos locais a terem apenas três horas disponíveis para visitas até ao final de Maio.