Como as cabeças dos bebés se moldam durante o parto

Estudo revela em imagens 3D, conseguidas por ressonância magnética, o que acontece ao cérebro de um feto antes, durante e depois do exigente trabalho de parto. Os resultados confirmam algumas ideias e podem ajudar a melhor detectar e prevenir riscos ligados ao parto.

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Não é novidade que as cabeças dos bebés mudam de forma durante o parto. Trata-se da chamada “moldagem da cabeça fetal ao canal de parto”. No entanto, os detalhes desta resposta natural do feto no momento que começa desde que sai do útero e se move pelo canal de parto até nascer ainda estão por esclarecer. O estudo, publicado agora na revista científica PlosOne, revela pela primeira vez um conjunto de imagens em 3D recolhidas através de ressonâncias magnéticas feitas antes e durante o trabalho de parto ajudam a reconstituir este exigente processo e mostram como o cérebro fetal é afectado pela moldagem dos ossos cranianos. E talvez possa ajudar a evitar partos difíceis que à primeira vista tinham tudo para correr “normalmente”.

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Não é novidade que as cabeças dos bebés mudam de forma durante o parto. Trata-se da chamada “moldagem da cabeça fetal ao canal de parto”. No entanto, os detalhes desta resposta natural do feto no momento que começa desde que sai do útero e se move pelo canal de parto até nascer ainda estão por esclarecer. O estudo, publicado agora na revista científica PlosOne, revela pela primeira vez um conjunto de imagens em 3D recolhidas através de ressonâncias magnéticas feitas antes e durante o trabalho de parto ajudam a reconstituir este exigente processo e mostram como o cérebro fetal é afectado pela moldagem dos ossos cranianos. E talvez possa ajudar a evitar partos difíceis que à primeira vista tinham tudo para correr “normalmente”.

Os cientistas submeteram 27 grávidas a ressonâncias magnéticas antes de entrarem em trabalho de parto. Destas, sete mulheres foram seguidas no momento do trabalho de parto e especificamente durante a segunda fase que é o momento da expulsão e do nascimento, durante a qual o feto percorre o canal de parto. Nos sete casos, foi observada e confirmada a moldagem da cabeça fetal. Respondendo ao delicado momento, a cabeça dos bebés assume uma forma característica comum que os cientistas chamam “moldagem pão de açúcar”, numa alusão à silhueta que também deu o nome ao célebre morro do Rio de Janeiro, no Brasil.

Mas se já sabíamos que este fenómeno de moldagem era comum, qual é a novidade aqui? “Sim, a moldagem da cabeça do feto é um fenómeno bem conhecido, mas apenas nos fetos onde ela persiste após o nascimento (cerca de 20% dos partos) com uma ‘forma de pão de açúcar’”, responde ao PÚBLICO Olivier Ami, da Universidade de Auvergne, em Clermont Ferrand, França, que coordenou a equipa que apresenta estes resultados. O que é novo aqui, sublinha, “é que todos os fetos observados mostraram moldagem da cabeça no meio do canal, o que é diferente do que pensávamos anteriormente”.

O estudo mostra que as crianças experimentam maiores tensões cranianas do que se pensava durante o nascimento, pressões potencialmente subjacentes ao sangramento assintomático do cérebro e da retina que surgem em muitos recém-nascidos após o parto vaginal. Olivier Ami resume: “Durante o parto vaginal, a forma do cérebro fetal sofre uma deformação em vários graus, dependendo do grau de sobreposição dos ossos do crânio. A moldagem do crânio do feto não é visível na maioria dos recém-nascidos após o nascimento. Alguns crânios aceitam a deformação (complacência) e permitem uma entrega fácil, enquanto outros não se deformam facilmente.”

O que é, afinal, um “parto normal"?

A análise das imagens recolhidas revelou a moldagem da cabeça do feto durante a segunda fase do trabalho de parto nos sete bebés observados, com diferentes partes do crânio em sobreposição e em diferentes graus. “Dois dos três bebés com o maior grau de moldagem da cabeça nasceram por cesariana de emergência, e o terceiro nasceu por via vaginal com o mínimo de esforço expulsivo”, revela ainda o artigo.

“O facto de duas cabeças fetais apresentarem uma moldagem significativa e ainda assim não terem permitido um parto vaginal e de o bebé com a moldagem mais significativa ter nascido sem muito esforço materno mostra que não foi possível antecipar a capacidade de a cabeça fetal se adaptar ao canal do parto”, diz Olivier Ami. Por outro lado, os investigadores concluíram também que o mesmo bebé que apresentou a moldagem mais significativa num parto aparentemente normal, nasceu com o índice de Apgar (um método usado para avaliar rapidamente a saúde de um recém-nascido) mais baixo de todos os bebés seguidos no estudo. Por isso, os investigadores questionam a actual definição “um parto normal”.

“Na verdade, considera-se um parto normal quando uma parturiente dá à luz por meios naturais, com apenas alguns esforços expulsivos da mãe. Esta definição não tem em consideração a capacidade de a cabeça fetal se deformar (complacência). Se a complacência da cabeça fetal for alta, o crânio e o cérebro podem sofrer uma deformação significativa quando o canal do parto é atravessado, e a condição da criança ao nascer pode não ser boa”, defendem. Assim, “o parto deve talvez ser considerado normal quando uma parturiente dá à luz naturalmente com apenas alguns esforços de expulsão, e se o seu filho está bem e não tem consequências devido às mudanças de forma de seu cérebro durante o processo”.

Esta investigação, argumentam ainda no artigo, “demonstra o valor do estudo 3D com ressonâncias magnéticas durante a segunda fase do trabalho de parto para revelar como o cérebro fetal é afectado pela moldagem dos ossos cranianos”. Recorda-se ainda que “os seres humanos têm uma bacia que é menos propícia à fácil passagem da grande cabeça fetal do que outros mamíferos”. Por isso, para a avaliação de um parto vaginal seguro é considerado o tamanho e a forma da bacia materna, a maleabilidade dos tecidos moles do canal do parto durante o parto, a quantidade de contracções uterinas e o tamanho da cabeça fetal. “Mesmo quando o parto vaginal é possível, o processo de nascimento pode ser traumático para o bebé, com hemorragias cerebrais assintomáticas e hemorragias retinianas que ocorrem em até 43% dos recém-nascidos de parto vaginal”, notam os investigadores.

O que este estudo parece mostrar é que poderá ser possível antecipar (e prevenir) os partos mais difíceis e traumáticos para os fetos. “O próximo passo é calibrar os softwares de simulação usando imagens para tentar prever a deformação cerebral fetal necessária para passar pelo canal do parto”, confirma Olivier Ami.