Cidadãos criam movimento contra prédio de 60 metros no quarteirão da Portugália em Lisboa
Movimento Stop Torre 60m Portugália afirma que a “torre descaracteriza e fere a identidade arquitectónica dos bairros envolventes”. Esta quinta-feira, a Ordem dos Arquitectos promove uma sessão de debate público do projecto.
Um conjunto de moradores de Arroios e de outras zonas de Lisboa lançou, esta quarta-feira, um movimento que está contra a construção de um edifício de 60 metros, previsto para a Avenida de Almirante Reis, no âmbito do projecto de requalificação do quarteirão da Portugália.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Um conjunto de moradores de Arroios e de outras zonas de Lisboa lançou, esta quarta-feira, um movimento que está contra a construção de um edifício de 60 metros, previsto para a Avenida de Almirante Reis, no âmbito do projecto de requalificação do quarteirão da Portugália.
Para o Movimento Stop Torre 60m Portugália — assim se chama este movimento cívico —, a “torre projectada descaracteriza e fere a identidade arquitectónica dos bairros envolventes”, uma vez que apresenta “uma volumetria muito superior à existente” nesta parte da cidade. Ao PÚBLICO, Rita Cruz, membro deste movimento, e que é também uma das promotoras da criação do Jardim do Caracol da Penha, refere ainda que, da forma como está projectado, o edifício vai “interferir no sistema de vistas dos Miradouros da Penha de França, do Monte Agudo” e do futuro jardim, cuja obra foi adjudicada na semana passada.
Apesar de reconhecer que é necessário requalificar aquela área junto à antiga fábrica de cerveja, hoje devoluta, o movimento entende que o prédio criará uma “violenta área de sombra sobre as casas e ruas circundantes, diminuindo consideravelmente a qualidade da vivência da população residente e visitante”.
No Portugália Plaza, cujo projecto é da autoria do atelier ARX, além do prédio de 16 pisos e 60,2 metros de altura, serão construídos mais três edifícios. Além das novas construções, o antigo edifício da Fábrica da Cerveja e o famoso restaurante vão ser reabilitados e a proposta prevê que se mantenha “o máximo possível das pré-existências”, como os pilares metálicos e respectivos capitéis e as lajes abobadilhas.
Este será um projecto sobretudo habitacional, estando prevista a construção de 85 apartamentos com tipologias entre o T0 e o T4, “com um layout e design funcional e contemporâneo, dirigido a famílias e jovens profissionais portugueses de classe média”, explicam os promotores. Terá ainda 16 escritórios e espaços de co-work e uma zona comercial no piso térreo que rodeará as duas praças interiores que serão criadas e pelas quais será possível circular entre a Avenida Almirante Reis e a Rua António Pedro. Estão previstos ainda cinco pisos subterrâneos, sendo que serão também criados 65 lugares de estacionamento para habitação, 67 para uso comercial e 288 lugares de estacionamento público coberto.
Esta é a primeira fase de um projecto que deverá terminar com a intervenção na parcela do quarteirão que está actualmente ocupada pelo edifício Plasana — e para o qual já existe um PIP aprovado —, para onde está prevista a criação de um “espaço multiusos, de âmbito cultural” com 1400 metros quadrados.
O projecto de arquitectura é da autoria do gabinete ARX Portugal, dos arquitectos Nuno Mateus e José Mateus, que ganharam um concurso de ideias lançado em 2016 pela Essentia Portugal, que coordena a obra, depois de a primeira proposta ter sido rejeitada pelo município. O promotor é o Fundo Sete Colinas, gerido e representado por Silvip – Sociedade Gestora de Fundos de Investimento Imobiliário, que investirá no quarteirão cerca de 40 milhões de euros.
Os serviços camarários que apreciaram o projecto entendem que este será “uma mais-valia urbana, face ao anterior licenciado, reduzindo a área edificável, desmaterializando e desconstruindo a imagem adensada de quarteirão”. E que este possibilita a “supressão de uma ferida urbana que tarda em ser sarada e que se arrisca em eternizar”.
A informação sobre o projecto foi durante esta semana disponibilizada pela autarquia no seu site. Perante as críticas de alguns cidadãos, a câmara de Lisboa organizou duas sessões de debate público do projecto. Esta quinta-feira, às 18h30, realiza-se a primeira que terá lugar no auditório da sede da Ordem dos Arquitectos. A segunda está marcada para a próxima terça-feira, à mesma hora, no Mercado Forno do Tijolo, em Arroios.
O Movimento Stop Torre 60m Portugália fez ainda saber que lançará uma petição nos próximos dias, que quer depois fazer chegar à Assembleia Municipal de Lisboa.