Isabel Saldanha fotografou as famílias que vivem “um dia de cada vez”

É fotógrafa, escreve e tem um blogue. Isabel Saldanha aceitou o repto da Fundação Ronald McDonald e fixou as vidas das famílias com filhos doentes. Hoje é Dia Internacional da Família.

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Há três anos que estão longe da sua casa, em Moçambique, rumaram ao Porto porque Akyrah tem um problema de saúde grave. Se estivesse no seu país, a mãe acredita que a menina de 4 anos não sobreviveria. Genevy, das Filipinas, deixou de contar as vezes em que a sua pequena filha Mavy já esteve internada. António era para estar internado três dias que se prolongaram por três meses, contam os pais Ana e Pedro. Vanda ouviu vezes sem conta para “ter coragem” quando a única coisa que queria saber era o que tinha a sua filha Isaura. Com estas e outras famílias, a fotógrafa Isabel Saldanha aprendeu que a vida se vive “um dia de cada vez” e foi este o nome que deu à exposição itinerante que inaugura esta quarta-feira em Lisboa, mas que irá até ao Porto e a Coimbra. Hoje é o Dia Internacional da Família.

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Há três anos que estão longe da sua casa, em Moçambique, rumaram ao Porto porque Akyrah tem um problema de saúde grave. Se estivesse no seu país, a mãe acredita que a menina de 4 anos não sobreviveria. Genevy, das Filipinas, deixou de contar as vezes em que a sua pequena filha Mavy já esteve internada. António era para estar internado três dias que se prolongaram por três meses, contam os pais Ana e Pedro. Vanda ouviu vezes sem conta para “ter coragem” quando a única coisa que queria saber era o que tinha a sua filha Isaura. Com estas e outras famílias, a fotógrafa Isabel Saldanha aprendeu que a vida se vive “um dia de cada vez” e foi este o nome que deu à exposição itinerante que inaugura esta quarta-feira em Lisboa, mas que irá até ao Porto e a Coimbra. Hoje é o Dia Internacional da Família.

Foto
A fotógrafa Isabel Saldanha DR

Isabel Saldanha foi desafiada pela Fundação Infantil Ronald McDonald e pela McDonald's Portugal para retratar a vida de algumas das famílias que já foram acolhidas nas casas que a fundação tem em Lisboa e no Porto. Estas servem de residência a famílias que estão deslocadas e têm crianças em tratamento hospitalar. Pelas residências – a de Lisboa foi inaugurada em 2008, fica perto do Hospital Dona Estefânia e apoia o Centro Hospitalar Lisboa Central; a do Porto, nasceu em 2013, situa-se no campus do Hospital de S. João, apoia o Centro Hospitalar S. João e o IPO-Porto –; e pelo espaço infantil, inaugurado em 2017, no Hospital de Santa Maria em Lisboa (onde as famílias podem descansar, lavar as suas roupas ou fazer as suas refeições, já passaram mais de 2650 famílias. O tempo médio de permanência nas casas é de 22 dias em Lisboa e 65 dias no Porto.

São famílias com histórias “impactantes”, as que Isabel Saldanha fotografou, revela ao PÚBLICO. Antes de o fazer, conversou com cada uma delas e havia uma frase comum que lhe repetiam – “um dia de cada vez” –, pois nem sempre é possível saber como vai ser o dia ou mesmo a hora seguinte na vida dos seus filhos; porque nem sempre é possível traçar planos quando os mais pequenos estão internados dias, meses, anos. “Tudo recai sobre as mães. Muitas não são de cá, algumas viram os pais dos seus filhos desaparecer, ficam sem referências familiares, num sofrimento emocional enorme e [contudo] têm um foco tão grande nos seus filhos. São mulheres heróicas”, resume a fotógrafa que começou a vida profissional há cerca de sete anos e já fotografou figuras públicas como Cristina Ferreira

Houve dias, quando falava com as mães, que tinha um misto de sentimentos. Por um lado, Isabel Saldanha sente-se privilegiada por as suas filhas serem saudáveis. Por outro, sentia “quase que inveja – ninguém pode ter inveja de alguém que tem um filho doente – da coragem destas mulheres”. “Uma coisa comum a todas é que não se enaltecem, são corajosas a falar, mas sentem-se envergonhadas [perante a objectiva]”, acrescenta. São mulheres que são solidárias com as que vivem o mesmo que elas. “A vida tirou-lhes muito, mas deu-lhes uma comunhão, uma essência que quem não vive o que elas vivem, não se apercebe. É duro: vivem uma situação frágil, mas com muita força​”, define.

Neste projecto, a fotógrafa conseguiu conciliar a imagem e o texto. Estudou Línguas, Literatura e Cultura, e está a finalizar o seu primeiro romance, no qual trabalha há cinco anos, além de escrever no seu blogue. Os textos que acompanham cada imagem são da sua autoria e resultam das conversas que teve com cada família. Depois de conhecer as histórias destas famílias tentava criar uma “situação fotográfica que enaltecesse as suas histórias”. No futuro, quer fazer projectos em que consiga aliar a imagem e o texto, tudo da sua autoria. “Comoveu-me muito”, conclui, acrescentando que se sente grata pelo que recebeu durante esta experiência.

Desde 1974, em Filadélfia (EUA), que a fundação – que é uma IPSS – tem como missão ajudar as famílias com crianças hospitalizadas, com o mote de proporcionar-lhes “uma casa longe de casa”. Actualmente, existem 368 casas Ronald McDonald construídas perto de hospitais pediátricos em 43 países, informa a organização em comunicado.