Oito horas no mar à espera de ser salvo, num naufrágio que fez 70 mortos

Barco de pesca tunisino conseguiu salvar apenas 16 pessoas depois de o barco onde seguiam se ter afundado e de terem morrido pelo menos 70 pessoas, no pior naufrágio no Mediterrâneo de 2019

Fotogaleria

Há quase oito horas que Manzour Mohammed Metwella, um egípcio de 21 anos, tentava manter-se à tona da água, quando um barco pesqueiro tunisino o salvou. Depois de ver morrer afogados dezenas de companheiros que seguiam no mesmo barco em que pretendiam chegar à Europa, Manzour estava sem forças e preparava-se para desistir. “Deus enviou pescadores para nos salvarem. Se tivessem chegado dez minutos mais tarde, creio que me teria deixado ir”, disse ao Le Monde.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Há quase oito horas que Manzour Mohammed Metwella, um egípcio de 21 anos, tentava manter-se à tona da água, quando um barco pesqueiro tunisino o salvou. Depois de ver morrer afogados dezenas de companheiros que seguiam no mesmo barco em que pretendiam chegar à Europa, Manzour estava sem forças e preparava-se para desistir. “Deus enviou pescadores para nos salvarem. Se tivessem chegado dez minutos mais tarde, creio que me teria deixado ir”, disse ao Le Monde.

Manzour foi um dos 16 sobreviventes do pior naufrágio no mar Mediterrâneo desde o início do ano. Na madrugada de sexta-feira, uma embarcação com cerca de 90 pessoas a bordo saiu da Líbia tendo como destino o continente europeu. Mas quase de imediato o barco começou a afundar-se, contam os sobreviventes, num raro relato após terem sido resgatados ao largo da costa da Tunísia. Segundo as autoridades locais, pelo menos 70 pessoas morreram.

“Esta é uma lembrança trágica e terrível dos riscos que ainda enfrentam aqueles que tentam atravessar o Mediterrâneo”, afirmou o enviado especial para o Mediterrâneo do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), Vincent Cochetel. A taxa de mortalidade na travessia do Mediterrâneo por imigrantes em situação ilegal mantém-se elevada. Desde o início do ano, 164 pessoas morreram no mar, o que equivale a uma morte por cada três migrantes que conseguem chegar à Europa, segundo o ACNUR.

Com a chegada dos meses mais quentes, é provável que o número de pessoas a tentar fazer a travessia aumente. No sábado, a guarda costeira de Malta resgatou um grupo de 85 migrantes que estavam a bordo de uma embarcação de madeira prestes a afundar-se.

A travessia do Mediterrâneo tem-se tornado cada vez mais perigosa, especialmente depois do fim da Operação Mare Nostrum, organizada pelo Governo italiano, em 2014, e substituída pela Operação Sophia, concentrada na vigilância marítima e no desmantelamento de redes de tráfico de seres humanos, e não em salvamentos. As organizações não-governamentais que operam barcos de resgate também enfrentam cada vez mais dificuldades para levar a cabo a sua missão.