À procura do passado perdido no palmarés do IndieLisboa
Os premiados do festival de 2019 são filmes sobre o tempo que passou: De los Nombres de las Cabras e Past Perfect na competição internacional, A Minha Avó Trelótótó e A Casa, a Verdadeira e a Seguinte no concurso nacional
Num ano em que as imagens e a sua manipulação foram temas centrais da programação competitiva do IndieLisboa, não é surpresa que tenham sido filmes à volta do poder da imagem que tenham levado os prémios principais do certame português.
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Num ano em que as imagens e a sua manipulação foram temas centrais da programação competitiva do IndieLisboa, não é surpresa que tenham sido filmes à volta do poder da imagem que tenham levado os prémios principais do certame português.
Na competição internacional, o prémio máximo coube ao documentário ensaístico da dupla espanhola Miguel G. Morales e Sílvia Navarro Martín De los Nombres de las Cabras, que recorre a materiais de arquivo para criar uma imagem dos Guanches, um povo aborígene de Tenerife hoje desaparecido. Nas curtas, o vencedor foi o português Jorge Jácome, com Past Perfect, a sua curta experimental sobre as memórias que foi estreada em Berlim.
Na competição nacional, Catarina Ruivo ganhou o prémio de longas com A Minha Avó Trelótótó, que traça a partir de materiais e arquivos familiares a vida da sua avó Júlia, enquanto a melhor curta foi A Casa, a Verdadeira e a Seguinte, Ainda Está por Fazer, onde Sílvia das Fadas visita uma série de casas utópicas por esse mundo fora.
Apesar dos galardões terem sido atribuídos por júris diferentes, os filmes premiados têm em comum forte trabalho de experimentação formal sobre a imagem e a narrativa, misturando arquivos documentais, reconstituições, narrativas não lineares. E filmes que, todos eles, reflectem também uma sensação de perda – de um passado, de uma identidade, de uma pessoa – e a vontade de usar as imagens para os recuperar.
É um palmarés coerente, que volta (à imagem do que aconteceu em anos anteriores) a tombar na ideia do cinema do real, mas que nesse processo passou ao lado dos melhores títulos apresentados no certame. É o caso da melhor longa nacional a concurso, Campo, de Tiago Hespanha, que se ficou apenas pela melhor realização; ou da espantosa curta de Catarina Mourão O Mar Enrola na Areia (que se ficou por uma menção especial no concurso nacional), que trabalha os materiais de arquivo com grande força narrativa.
O júri da competição internacional de longas (Adina Pintilie e Ivo Ferreira, cineastas, e Boyd van Hoeij, crítico e programador) atribuiu ainda ex-aequo o prémio especial do júri a duas ficções bastante diferentes, Jessica Forever, aventura fantástica da dupla francesa Caroline Poggi e Jonathan Vinel (este ano alvo de retrospectiva), e Thou Shalt Not Kill, drama médico dos romenos Gabi Sarga e Catalin Rotaru.
Os concursos nacionais de longas e curtas foram julgados pelos programadores Arnaud Gourmelen, Iván Villarmea Álvarez e Patrick Holzapfel, que premiaram A Minha Avó Trelótótó, Campo, A Casa, a Verdadeira e a Seguinte e ainda a curta de Afonso Mota Poder Fantasma, que põe em cena muita da actual geração de estudantes cujos filmes têm viajado internacionalmente (como Duarte Coimbra ou David Pinheiro Vicente). Dois outros filmes portugueses foram ainda premiados: o documentário de Rita Maia e Vasco Viana Batida de Lisboa (prémio IndieMusic) e a curta de Cristèle Alves Meira Invisível Herói (prémio Árvore da Vida, atribuído pela Igreja Católica). O prémio da secção Novíssimos, dedicada a cineastas estreantes em contexto escolar ou de auto-produção, coube ao documentário de André Ferreira Estas Mãos São Minhas.
Entretanto, esta segunda-feira foram anunciados os prémios do público, que distinguiram os filmes Bait, de Mark Jenkin (Reino Unido), na longa-metragem; Guaxuma, na curta; e Morcego, de Julia Ocker (Alemanha), com o Prémio IndieJunior.
Os premiados serão exibidos no cinema Ideal, em Lisboa, nas próximas segunda (13), terça (14) e quarta (15), às 18h00 e 22h00. O IndieLisboa encerra oficialmente este domingo às 18h00 com a antestreia de Sinónimos de Nadav Lapid, Urso de Ouro de Berlim em 2018.
Palmarés
Competição Internacional
Grande Prémio Cidade de Lisboa: De los Nombres de las Cabras, de Miguel G. Morales e Sílvia Navarro Martín (Espanha)
Prémio Especial do Júri (ex-aequo): Jessica Forever, de Caroline Poggi e Jonathan Vinel (França), e Thou Shalt Not Kill, de Gabi Virginia Sarga e Catalin Rotaru (Roménia)
Grande Prémio de Curta-Metragem: Past Perfect, de Jorge Jácome (Portugal)
Melhor Curta de Animação: Guaxuma, de Nara Normande (Brasil)
Melhor Curta de Documentário: Swatted, de Ismaël Joffrou Chandoutis (França)
Melhor Curta de Ficção: The Girl with Two Heads, de Betzabé Garcia (Reino Unido)
Competição Nacional
Melhor Longa-Metragem: A Minha Avó Trelótótó, de Catarina Ruivo
Melhor Realizador: Tiago Hespanha, por Campo
Melhor Curta-Metragem: A Casa, a Verdadeira e a Seguinte, Ainda Está por Fazer, de Sílvia das Fadas
Prémio Novo Talento: Poder Fantasma, de Afonso Mota
Prémio Novíssimos: Estas Mãos São Minhas, de André Ferreira
Prémio Silvestre de Longas-Metragens (ex-aequo): I Do Not Care if We Go Down in History as Barbarians de Radu Jude (Roménia), e M. de Yolande Zauberman (França)
Prémio Silvestre de Curtas-Metragens: Sete Anos em Maio de Affonso Uchôa (Brasil)
Prémio Indie Music: Batida de Lisboa, de Rita Maia e Vasco Viana (Portugal)
Prémio Universidades: Present.Perfect, de Shengze Zhu (China)
Prémio Amnistia Internacional: Sete Anos em Maio
Prémio Árvore da Vida: Invisível Herói de Cristèle Alves Meira (Portugal)
Prémio Escolas: Guaxuma
Prémios do Público
Longa-Metragem - Bait, de Mark Jenkin (Reino Unido)
Curta-Metragem - Guaxuma
IndieJunior - Morcego, de Julia Ocker (Alemanha)
Notícia actualizada com os Prémios do Público.