Cinco coisas que aprendemos numa semana de crise política

Uff, a crise acabou. Marcelo já está liberto para falar. Costa perdeu um amigo. A capacidade de “lost in translation” no espaço público é imensa.

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nuno ferreira santos
  1. O Presidente da República consegue ficar calado. Sete dias inteirinhos, mais de 160 horas, um recorde absoluto em Marcelo, o omnipresente e omnifalante. O retiro do Presidente foi bom para deixar todos os envolvidos em liberdade, sem que o chefe de Estado – em vésperas de eleições, momento especialmente delicado – tivesse interferido, ou “avisado”, ou dando qualquer ar de sua graça. Foi um momento desafiador do mandato presidencial e Marcelo conseguiu passar por ele sem dizer qualquer frase errada para nenhum dos interlocutores, o que é sempre uma garantia quando se fica calado. Muita gente já não acreditava na capacidade de silêncio do Presidente – Marcelo mostrou que sabe quando deve travar a fundo.
  2. O PSD já tem uma medida do programa eleitoral para as legislativas. Falta o desenho, mas depois de já se ter comprometido com o assunto, quando anunciou que o PSD chumbaria a contagem integral do tempo de serviço dos professores se a norma travão não fosse aprovada, ontem anunciou à Rádio Renascença que “é possível reconhecer o tempo com relativamente pouco dinheiro”, que “não tem que ser reconhecido todo em dinheiro e salário” e “pode ser em redução do horário de trabalho, em aposentação mais cedo para os professores que têm esse tempo acumulado”. Os professores que se vão recusar a votar no PS nas europeias e nas legislativas podem escolher esta opção.
  3. A crise ajudou a consolidar aquela que era a frase-chave do programa informal do PS para as eleições do ano: “Contas certas”. Nos últimos dias, não há dirigente socialista que a não repita até ao cansaço. Se antes da crise a estratégia socialista já passava por mostrar os sucessos de Mário Centeno, o caso dos professores veio dar oportunidade para que o PS reivindique de vez para si uma marca que não tinha. Recorde-se que nos últimos anos o principal argumento da direita contra o PS tem sido a gestão dos governos de José Sócrates e a crise financeira que levou ao memorando da troika.
  4. “Nós não suportamos o PS”. A capacidade de “lost in translation” é imensa no espaço público e foi uma constante durante a crise – ninguém percebeu o que o outro estava a fazer (ou dizer) ou dizia que tinha feito. Rio negou que o PSD tivesse aprovado alguma coisa de relevante na Comissão de Educação. Os números de Mário Centeno não bateram com os da Unidade Técnica de Apoio Orçamental. O tom de “perdido na tradução” teve o seu apogeu quando Fernando Negrão disse esta manhã no Parlamento “nós não suportamos o PS”, dirigindo-se aos parceiros de esquerda. Ao adaptar o verbo inglês “to support”, causou algum burburinho. Porfírio Silva, do PS, condenou o “discurso de ódio”. No fim, Fernando Negrão teve que justificar que, apesar da tensão da semana, não havia corte de relações com o PS.
  5. António Costa perdeu um amigo, Rui Rio. Pode ser bom para o PSD, independentemente das circunstâncias que não foram brilhantes para os sociais-democratas.

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  1. O Presidente da República consegue ficar calado. Sete dias inteirinhos, mais de 160 horas, um recorde absoluto em Marcelo, o omnipresente e omnifalante. O retiro do Presidente foi bom para deixar todos os envolvidos em liberdade, sem que o chefe de Estado – em vésperas de eleições, momento especialmente delicado – tivesse interferido, ou “avisado”, ou dando qualquer ar de sua graça. Foi um momento desafiador do mandato presidencial e Marcelo conseguiu passar por ele sem dizer qualquer frase errada para nenhum dos interlocutores, o que é sempre uma garantia quando se fica calado. Muita gente já não acreditava na capacidade de silêncio do Presidente – Marcelo mostrou que sabe quando deve travar a fundo.
  2. O PSD já tem uma medida do programa eleitoral para as legislativas. Falta o desenho, mas depois de já se ter comprometido com o assunto, quando anunciou que o PSD chumbaria a contagem integral do tempo de serviço dos professores se a norma travão não fosse aprovada, ontem anunciou à Rádio Renascença que “é possível reconhecer o tempo com relativamente pouco dinheiro”, que “não tem que ser reconhecido todo em dinheiro e salário” e “pode ser em redução do horário de trabalho, em aposentação mais cedo para os professores que têm esse tempo acumulado”. Os professores que se vão recusar a votar no PS nas europeias e nas legislativas podem escolher esta opção.
  3. A crise ajudou a consolidar aquela que era a frase-chave do programa informal do PS para as eleições do ano: “Contas certas”. Nos últimos dias, não há dirigente socialista que a não repita até ao cansaço. Se antes da crise a estratégia socialista já passava por mostrar os sucessos de Mário Centeno, o caso dos professores veio dar oportunidade para que o PS reivindique de vez para si uma marca que não tinha. Recorde-se que nos últimos anos o principal argumento da direita contra o PS tem sido a gestão dos governos de José Sócrates e a crise financeira que levou ao memorando da troika.
  4. “Nós não suportamos o PS”. A capacidade de “lost in translation” é imensa no espaço público e foi uma constante durante a crise – ninguém percebeu o que o outro estava a fazer (ou dizer) ou dizia que tinha feito. Rio negou que o PSD tivesse aprovado alguma coisa de relevante na Comissão de Educação. Os números de Mário Centeno não bateram com os da Unidade Técnica de Apoio Orçamental. O tom de “perdido na tradução” teve o seu apogeu quando Fernando Negrão disse esta manhã no Parlamento “nós não suportamos o PS”, dirigindo-se aos parceiros de esquerda. Ao adaptar o verbo inglês “to support”, causou algum burburinho. Porfírio Silva, do PS, condenou o “discurso de ódio”. No fim, Fernando Negrão teve que justificar que, apesar da tensão da semana, não havia corte de relações com o PS.
  5. António Costa perdeu um amigo, Rui Rio. Pode ser bom para o PSD, independentemente das circunstâncias que não foram brilhantes para os sociais-democratas.