Histórico ANC a caminho da vitória na África do Sul, mas com o pior resultado de sempre

Partido nunca tinha vencido com menos de 60% dos votos, mas desta vez deve ficar-se pelos 57%. População descontente com corrupção, desemprego e desigualdades raciais no acesso às terras e habitação.

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O melhor resultado do ANC foi alcançado em 2004, com 69% dos votos Reuters/PHILIMON BULAWAYO

O Congresso Nacional Africano está a caminho de uma nova vitória nas eleições legislativas na África do Sul, tal como se previa, mas desta vez com um resultado aquém da História do partido – ao que tudo indica, é a primeira vez desde 1994 que vai receber menos de 60% dos votos.

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O Congresso Nacional Africano está a caminho de uma nova vitória nas eleições legislativas na África do Sul, tal como se previa, mas desta vez com um resultado aquém da História do partido – ao que tudo indica, é a primeira vez desde 1994 que vai receber menos de 60% dos votos.

Nas eleições de quarta-feira, muitos sul-africanos mostraram o seu desagrado com a corrupção, a elevada taxa de desemprego e as desigualdades raciais, que persistem 25 anos depois das eleições que marcaram o fim do domínio da minoria branca, o regime de apartheid. Mas outro sinal claro destas eleições é a apatia dos eleitores: mais de metade dos eleitores que poderiam ter votado nestas eleições não foram votar. Este fenómeno é especialmente notório entre os mais jovens, com menos de 30 anos.

“Faço parte do ANC, mas não votei neles desta vez”, disse à Reuters o trabalhador da construção civil Thabo Makhene. “Eles têm de levar um abanão. Perderam a moral, a maneira como geram o Estado, e roubam o dinheiro público.”​

As previsões para as eleições deste ano são o mais duro golpe para o ANC desde esse momento histórico em 1994 – o antigo partido de Nelson Mandela nunca tinha chegado ao poder com menos de 60% dos votos, e agora terá conquistado cerca de 57%.

O principal partido da oposição, a Aliança Democrática, tinha 21% quando estavam contados mais de mais de 90% dos distritos eleitorais. O partido Combatentes pela Liberdade Económica, da esquerda, tinha 10% – será, aliás, o único a crescer em relação a 2014, quando teve 6%.

Segundo o Banco Mundial, a sociedade da África do Sul continua a ser uma das mais desiguais em todo o mundo, onde a disparidade racial na propriedade das terras, das habitações e dos serviços é ainda muito pronunciada.

“O ANC vai ser eleito com um mínimo de 27% da população eleitoral total a apoiá-lo, comparando com 47% em 1999”, sublinhou Attard Montalto, da empresa Intellidex, citado pela agência Reuters.

O líder do ANC, Cyril Ramaphosa, prometeu combater a corrupção, reduzir o desemprego e atenuar as disparidades raciais na distribuição das terras quando foi eleito, em Dezembro de 2017, derrotando um adversário interno apoiado pelo antigo Presidente sul-africano Jacob Zuma. Mas os seus esforços têm sido atrasados pelo peso que alguns apoiantes de Zuma ainda têm no partido.

O melhor resultado de sempre do ANC foi em 2004, quando o antigo Presidente sul-africano Thabo Mbeki obteve mais de 69% dos votos. Mas o apoio ao partido caiu com a liderança de Jacob Zuma, que perdeu o controlo de grandes cidades, como Joanesburgo, nas eleições locais de 2016.

Ainda assim, o ANC controla oito das nove províncias do país, com a Aliança Democrática a controlar uma desde as eleições de 2009.