“Range Anxiety” e a necessidade do carregamento ultrarápido para os veículos elétricos
Estas são áreas nas quais o setor automóvel deverá trabalhar intensa e ativamente, alavancando a forte ligação às universidades e centros de investigação.
O futuro do setor automóvel e da mobilidade será determinado por modificações nos hábitos das pessoas, sustentabilidade do planeta, progressos tecnológicos e novos agentes com novos modelos de negócio.
Ao nível tecnológico, este setor atravessa um período de mudança profunda, direcionado para um futuro de veículos de condução autónoma, conectados em rede, partilhados e movidos a eletricidade. Pretende-se melhorar a mobilidade dos utilizadores, aumentar a previsibilidade e segurança dos veículos – tornando-os mais cómodos e otimizando os seus percursos –, assim como a sua taxa de utilização e eficiência. E, como não podia deixar de ser, descarbonizar a economia, diminuindo o impacto ambiental da sua utilização.
A eletrificação da mobilidade traz benefícios inequívocos para o setor dos transportes. Em Portugal, o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 perspetiva um decréscimo relativo do consumo de energia final do setor de 37%, em 2015, para 19%, em 2050. A isto, acresce uma redução das importações de petróleo, que é um dos grandes responsáveis pelo défice das transações comerciais do país, dada a utilização de uma fonte endógena e renovável: a energia elétrica. Por isso, em breve, o setor automóvel será cada vez mais indissociável do veículo elétrico (VEs), muito por conta das políticas de incentivo à eletrificação, adoção crescente deste tipo de veículos e investimento nas infraestruturas de carregamento.
A Europa tem em curso políticas de incentivo que fomentam a mobilidade elétrica, sendo já vários os países e cidades europeias que adotaram datas-objetivo para a proibição de circulação dos não elétricos. A crescente consciencialização ambiental, ajudada por uma política europeia de forte penalização nas emissões, tem condicionado as estratégias de produto dos fabricantes automóveis. Alguns já anunciaram o fim dos seus modelos a diesel, ao mesmo tempo que lançarão mais de 350 novos modelos de VEs até 2025, de acordo com a McKinsey.
Em 2018, Portugal ficou no sétimo lugar relativamente aos países com maior percentagem de VEs sobre a totalidade dos veículos vendidos, com 3,4% (dados da Statista). A adoção massiva dos veículos elétricos, dos atuais três para mais de 40 milhões em 2025, está dependente da existência de uma infraestrutura de carregamento de VEs adequada, estimando-se, de acordo com a UBS, necessário um investimento de 360 biliões de dólares americanos nos próximos oito anos.
Um dos grandes desafios atuais, e principal obstáculo à adoção do VE, designa-se por “range anxiety”: a ansiedade provocada nos condutores pela autonomia reduzida dos VEs disponíveis no mercado (~300-400kms), mas também pelo elevado tempo requerido para carregar as baterias. Este é um ponto que a indústria deverá trabalhar, apostando em inovação tecnológica sistemática, passando de soluções de carregamento lento, para rápido até ao atual ultrarápido. Os carregadores ultrarápidos (350kW), que estão a ser instalados atualmente na Europa e América do Norte, como o Electrify America e Allego (Mega-E), são os carregadores mais potentes da atualidade e, por isso, os mais rápidos do mundo. São capazes de carregar a bateria de um veículo elétrico em poucos minutos, mas, infelizmente, as baterias ainda não estão suficientemente desenvolvidas para aceitar e armazenar essa energia.
O carregamento ultrarápido será o futuro, possivelmente com potências ainda mais altas, mas, por agora, esta tecnologia ainda não está disponível. Assim, pode dizer-se que neste momento a referida ansiedade deve-se sobretudo ao desajustamento entre a capacidade das baterias e a rede de carregamento. Prevê-se, no entanto, que o setor continue a desenvolver-se a grande ritmo, não apenas na área das baterias, mas também em áreas de integração de fontes renováveis, armazenamento local de energia, gestão inteligente da potência “Smart Charging”, bidirecionalidade de energia e integração com as redes elétricas. Estas são áreas nas quais o setor automóvel deverá trabalhar intensa e ativamente, alavancando a forte ligação às universidades e centros de investigação.
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O futuro do setor automóvel e da mobilidade será determinado por modificações nos hábitos das pessoas, sustentabilidade do planeta, progressos tecnológicos e novos agentes com novos modelos de negócio.
Ao nível tecnológico, este setor atravessa um período de mudança profunda, direcionado para um futuro de veículos de condução autónoma, conectados em rede, partilhados e movidos a eletricidade. Pretende-se melhorar a mobilidade dos utilizadores, aumentar a previsibilidade e segurança dos veículos – tornando-os mais cómodos e otimizando os seus percursos –, assim como a sua taxa de utilização e eficiência. E, como não podia deixar de ser, descarbonizar a economia, diminuindo o impacto ambiental da sua utilização.
A eletrificação da mobilidade traz benefícios inequívocos para o setor dos transportes. Em Portugal, o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 perspetiva um decréscimo relativo do consumo de energia final do setor de 37%, em 2015, para 19%, em 2050. A isto, acresce uma redução das importações de petróleo, que é um dos grandes responsáveis pelo défice das transações comerciais do país, dada a utilização de uma fonte endógena e renovável: a energia elétrica. Por isso, em breve, o setor automóvel será cada vez mais indissociável do veículo elétrico (VEs), muito por conta das políticas de incentivo à eletrificação, adoção crescente deste tipo de veículos e investimento nas infraestruturas de carregamento.
A Europa tem em curso políticas de incentivo que fomentam a mobilidade elétrica, sendo já vários os países e cidades europeias que adotaram datas-objetivo para a proibição de circulação dos não elétricos. A crescente consciencialização ambiental, ajudada por uma política europeia de forte penalização nas emissões, tem condicionado as estratégias de produto dos fabricantes automóveis. Alguns já anunciaram o fim dos seus modelos a diesel, ao mesmo tempo que lançarão mais de 350 novos modelos de VEs até 2025, de acordo com a McKinsey.
Em 2018, Portugal ficou no sétimo lugar relativamente aos países com maior percentagem de VEs sobre a totalidade dos veículos vendidos, com 3,4% (dados da Statista). A adoção massiva dos veículos elétricos, dos atuais três para mais de 40 milhões em 2025, está dependente da existência de uma infraestrutura de carregamento de VEs adequada, estimando-se, de acordo com a UBS, necessário um investimento de 360 biliões de dólares americanos nos próximos oito anos.
Um dos grandes desafios atuais, e principal obstáculo à adoção do VE, designa-se por “range anxiety”: a ansiedade provocada nos condutores pela autonomia reduzida dos VEs disponíveis no mercado (~300-400kms), mas também pelo elevado tempo requerido para carregar as baterias. Este é um ponto que a indústria deverá trabalhar, apostando em inovação tecnológica sistemática, passando de soluções de carregamento lento, para rápido até ao atual ultrarápido. Os carregadores ultrarápidos (350kW), que estão a ser instalados atualmente na Europa e América do Norte, como o Electrify America e Allego (Mega-E), são os carregadores mais potentes da atualidade e, por isso, os mais rápidos do mundo. São capazes de carregar a bateria de um veículo elétrico em poucos minutos, mas, infelizmente, as baterias ainda não estão suficientemente desenvolvidas para aceitar e armazenar essa energia.
O carregamento ultrarápido será o futuro, possivelmente com potências ainda mais altas, mas, por agora, esta tecnologia ainda não está disponível. Assim, pode dizer-se que neste momento a referida ansiedade deve-se sobretudo ao desajustamento entre a capacidade das baterias e a rede de carregamento. Prevê-se, no entanto, que o setor continue a desenvolver-se a grande ritmo, não apenas na área das baterias, mas também em áreas de integração de fontes renováveis, armazenamento local de energia, gestão inteligente da potência “Smart Charging”, bidirecionalidade de energia e integração com as redes elétricas. Estas são áreas nas quais o setor automóvel deverá trabalhar intensa e ativamente, alavancando a forte ligação às universidades e centros de investigação.
Pedro Domingues participa na conferência Academia Meets Auto-Industry, iniciativa promovida pelo Técnico Lisboa – Instituto Superior Técnico (IST) e pela Mobinov (cluster do setor automóvel), a 16 e 17 de maio, em Lisboa
O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico