“Continuo uma sonhadora, continuo a perder-me noutros mundos”
Num palco de Nova Iorque, Patti Smith falou ao mundo em nome do planeta. Mais comprometida com a causa ambiental do que nunca, a artista deu um concerto que há-de constar da história da sua vida. No momento em que chega a Portugal Devoção, o seu livro mais recente, falou do acto de criação, da razão pela qual escreve e de como quebrou regras cedo demais numa cidade que não estava preparada para que elas fossem quebradas. Não se arrepende. “Sempre fiz o que quis”, diz aos 72 anos, numa entrevista ao lado de casa.
Patti Smith entra no café e parece maior do que o seu tamanho. A mulher de longos cabelos brancos sorri e no sorriso os olhos quase se fecham, enquanto pergunta por uma mesa calma. Aquela onde costuma sentar-se todas as manhãs não está ocupada, mas fica na pequena passagem junto ao balcão; demasiado ruidosa para uma entrevista. Acaba por escolher uma junto à janela, de frente para a pequena sala onde pouco mais de uma dezena de pessoas toma café, bebe um copo, petisca ou simplesmente conversa numa tarde de sexta-feira, em Nova Iorque. Ali, todos a reconhecem, mas ninguém a faz sentir-se diferente. Um estranho a assistir diria apenas que acabou de entrar uma mulher cheia de magnetismo. Sentou-se, conversou usando muitos gestos para sublinhar as palavras, sorriu, deu algumas gargalhadas, e houve momentos em que parecia quase chorar na transparência dos olhos verdes. Isso enquanto bebia um chá, segurando, por vezes, a caneca entre as mãos. A voz era límpida e só o modo como de vez em quando esfregava os olhos fazia denotar algum cansaço.