Um fantasma continua a percorrer a Ibéria
Pedimos ao ministro do Ambiente que neste espaço raiano não se abra esta caixa de Pandora, da qual sabemos que só pode vir destruição.
Temos tido que confrontar em várias batalhas esse fantasma, portugueses e espanhóis contra Moloch.
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Temos tido que confrontar em várias batalhas esse fantasma, portugueses e espanhóis contra Moloch.
Recordo a luta, vitoriosa, contra a central nuclear de Sayago, já antes tínhamos enterrado a de Ferrel. Em Moral de Sayago continua presente uma enorme plataforma hoje inútil e esperando, porque não, uma central fotovoltaica.
Não esqueço o cemitério nuclear de alta actividade de Aldeavila de la Ribera, que nas arribas do Douro, em frente a Freixo de Espada à Cinta, ao arrepio da legislação europeia e das regras ambientais e de boa vizinhança, nos quiseram impor. Saudamos com um bom vinho do Douro que este continue sem outras (rádio) actividades.
A central de Vadecaballeros, na Andaluzia, também com a nossa oposição aí jaz para posteridade.
Já em Almaraz, já passaram a centena incidentes e quase acidentes, e aí a tibieza incompreensível do nosso governo permite que em infracção com os acordos de exploração, e com a ajuda do malfadado ATI (armazém temporário, que arrisca ser para sempre!), se prevê, embora seja duvidoso que as empresas aguentem o que terão que investir, mais seis anos de funcionamento, quando seria com o desmantelamento que se geraria mais e melhor emprego local e potencialidades de desenvolvimento.
Depois, inutilmente a não ser para a especulação e os mercados, apareceu a mina de urânio de Retortillo, que já devastou solos e que nunca deverá chegar a exploração.
Temos a nossa experiência dessa luta. Desde os anos 70, também com diversos encontros ibéricos, que lutámos (até contra os próprios trabalhadores, que hoje morrem de leucemias e neoplasias) pelo encerramento das de Urgeiriça, que fecharam e das quais temos toneladas de minério acumulado, que assim devem continuar, e não vão parar a locais menos próprios (quaisquer o são).
Já com os ex-trabalhadores dessa contribuímos para que em Nisa, um dos melhores queijos do mundo, a sustentabilidade local e os valores do património e das águas não tenham visto outra mina de urânio em cima da vila.
Mas toda esta conversa vem aqui porque a 25 kms da nossa fronteira, sobre o Alcarache, afluente do Guadiana, ignorada por cá mas objecto de mobilizações massivas nos concelhos, nos cinco concelhos limítrofes da raia de Mourão, onde os cinco presidentes municipais e as populações já disseram “Dehesa Sin Uranio”, com cartazes em todas as janelas e ruas e até na traseira de camiões que percorrem toda Espanha.
Pois aí, entre Zahinos e Vila Nueva del Fresno, a mesma empresa especuladora que ataca em Salamanca já deitou as suas garras e o processo para iniciar os furos só está embargado por recurso, embora tenha a oposição dos proprietários da superfície, dos municípios e, até ver, do Governo Regional da Extremadura.
O nosso movimento já alertou a presidente de Mourão e os órgãos municipais de Barrancos que se devem mobilizar para o empenho cívico. Não se ouve, não se ouve nada por aí, mas basta pôr um pé em Vila Nueva del Fresno e está lá tudo.
Já solicitámos ao presidente da Comissão de Ambiente do Parlamento, que tem feito notável trabalho, a sua intervenção. Mas é ao nosso ministro do Ambiente, com tendência para entradas de leão, que gostaríamos de inquirir:
1. Por que razão não o ouvimos sobre esta projectada mina de urânio, quase em cima da fronteira e sobre afluente de rio internacional?
2. Será que ao arrepio dos tratados não foi informado pelo governo espanhol?
Se foi e não o ouvimos é de lamentar e de exigir a sua palavra e empenho, se não foi é de pedir-lhe que, tal como fez inicialmente em relação ao ATI de Almaraz (tendo depois vestido a pele de cordeiro), apresente o nosso protesto e exigência que neste nosso espaço comum, a dehesa, o montado, os rios internacionais e o espaço onde temos inúmeras espécies únicas, que é Rede Natura, e onde homens e mulheres tentam lutar contra o isolamento e as omissões do poder central, onde procuramos manter a convivialidade e a possibilidade de futuro, que neste espaço raiano não se abra esta caixa de Pandora, da qual sabemos que só pode vir destruição, seja sobre a forma de contaminação dos solos e dos ares, seja pelas escorrências radioactivas, que poderão acabar nos e com os nossos azeites. Movimento Dehesa Sin Uranio e FAPAS