Catarina Martins critica “armadilha da direita” e mudanças de opinião sobre professores
Líder do BE diz não fazer sentido aprovar propostas de PSD e CDS que anulam a possibilidade de contagem integral do tempo de serviço e até podem servir para “rever a carreira em baixa” e “retirar direitos” aos professores.
A coordenadora do BE considerou nesta quarta-feira “absolutamente insano” que “toda a gente ande a mudar de opinião” sobre os professores e apelou à coerência dos partidos, recusando a “armadilha da direita” que permite que Bruxelas decida sobre as carreiras.
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A coordenadora do BE considerou nesta quarta-feira “absolutamente insano” que “toda a gente ande a mudar de opinião” sobre os professores e apelou à coerência dos partidos, recusando a “armadilha da direita” que permite que Bruxelas decida sobre as carreiras.
Em entrevista à Radio Renascença, Catarina Martins assegurou que o partido não vai mudar as suas votações sobre esta questão, mesmo com a ameaça de queda do Governo.
“É absolutamente insano e eu acho que diminui a democracia que toda a gente ande a mudar de opinião. O PS pensava uma coisa agora pensa outra, a direita pensava uma coisa agora pensa outra. Os próprios sindicatos já pensaram uma coisa e agora pensam outra, não pode ser, não é assim”, criticou.
Se “todos os partidos fossem coerentes e mantivessem o seu voto na sexta-feira”, seria possível, por um lado, “manter a porta aberta a que o próximo Governo fizesse a contagem do tempo de serviço”, não só para professores como para as restantes carreiras especiais da função pública, apelou Catarina Martins.
“O Governo seguramente encontraria outras soluções que ache importantes na negociação, como sempre fizemos até aqui”, acrescentou. Na perspectiva da líder bloquista, “se toda a gente fosse coerente como o Bloco de Esquerda está a ser, resolviam-se todos os problemas, os mais gerais e os mais específicos, pelo menos abrindo portas as negociações futuras”.
“O PSD e CDS querem, julgo eu, enganar os professores - acho que não conseguem, porque os professores percebem - ao dizer algo como: nós vamos contar o tempo de serviço e depois pôr lá uma norma que diz mas isto só vale se o pacto de estabilidade o permitir”, acusou.
Assim, o BE recusa “cair na armadilha da direita” de dizer que “é Bruxelas que decide sobre as carreiras, porque o que aconteceu sempre, até agora, é que isso serviu para puxar para baixo” as condições dos trabalhadores portugueses.
“O BE não vai mudar nada no seu voto. Nós já votamos contra essas condições, vamos votar contra essas condições outra vez. Não há nenhuma novidade na posição do Bloco. Ao contrário de outros partidos, nós sabíamos o que estávamos a votar e a proposta que tínhamos”, atirou.
Catarina Martins avisou que PSD e CDS querem “indexar um direito laboral ao programa de estabilidade, o que quer dizer que o próximo Governo pode estar a negociar em baixa e não em alta os direitos de quem trabalha”.
“Peço aos professores para pensarem: tem algum sentido nós aprovarmos uma medida que não só anula a possibilidade de contagem integral do tempo de serviço como ainda por cima pode vir a ser utilizada como desculpa no futuro para rever a carreira em baixa, para lhes retirar direitos”, questionou.
Questionada se isto não são politiquices - como disse o líder da Fenprof, Mário Nogueira - a dirigente do BE foi peremptória: “é uma questão de princípio e não resolve nada aos professores”.
Catarina Martins tinha começado por deixar claro que “o que for decidido para os professores” tem que ser aplicado a todas as carreiras especiais da função pública que estão congeladas.
Na recta final da entrevista, a líder do BE considerou grave o facto de ser “fácil bater nos professores em Portugal”.
Catarina Martins não deixou ainda de responder a uma outra pergunta. Questionada sobre a possibilidade de o BE estar ou não disposto para integrar um Governo com o PS, a coordenadora bloquista deixa essa decisão com os eleitores. “Não iremos para o Governo a não ser que o voto nos leve”, diz. Tudo depende, sublinha, da relação de forças no próximo Parlamento, porque “o Bloco não é flor de lapela de ninguém”.
“Há uma coisa que eu aprendi nestes quatro anos: é gelo nos pulsos e fazermos por melhorar a vida das pessoas”, acrescenta.