A sociedade é “conservadora”, por isso o deputado Duarte Pacheco abriu a camisa
Deputado social-democrata posa na última edição da revista Men’s Health Portugal de camisa aberta, a exibir a forma física.
Aos 53 anos, o deputado do PSD Duarte Pacheco é a capa da última edição da revista Men’s Health Portugal. Nela, o secretário da mesa da Assembleia da República posa de camisa aberta, com o título de “deputado mais fit de Portugal”. Segundo a publicação mensal, Duarte Pacheco “prova que ter uma agenda preenchida e um vida stressante não é desculpa para escapar à prática de exercício físico regular e aos cuidados com a saúde”.
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Aos 53 anos, o deputado do PSD Duarte Pacheco é a capa da última edição da revista Men’s Health Portugal. Nela, o secretário da mesa da Assembleia da República posa de camisa aberta, com o título de “deputado mais fit de Portugal”. Segundo a publicação mensal, Duarte Pacheco “prova que ter uma agenda preenchida e um vida stressante não é desculpa para escapar à prática de exercício físico regular e aos cuidados com a saúde”.
Não é a primeira vez que o social-democrata exibe o seu corpo — costuma partilhar nas redes sociais, ocasionalmente, fotografias na praia e no ginásio. E foi mesmo isso que levou a revista a lançar o desafio de figurar a capa do especial de perda de peso. Duarte Pacheco nem é o primeiro político a despir-se para uma revista: em 2015, Joana Amaral Dias posou nua e grávida para a capa da revista de Cristina Ferreira, com o namorado. No que toca a abordagens mais informais, também nos últimos meses vários políticos têm ido ao programa de Cristina Ferreira, mostrando um lado mais descontraído.
Naturalmente, a capa de Duarte Pacheco — que chegou às bancas no fim-de-semana — chamou a atenção. Ao PÚBLICO, o deputado confessa que hesitou em aceitar o convite, há alguns meses, e que ponderou bastante, antes de tomar a decisão. “Não é uma coisa que se possa decidir de ânimo leve. Tenho consciência de que a sociedade portuguesa é conservadora”. Não tinha grandes expectativas sobre qual seria a reacção do público, mas sabia que provavelmente não passaria despercebido.
Enumera as razões que o levaram a um ‘sim’: “Em primeiro lugar, tentar demonstrar às pessoas que os políticos podem ter vida além da política”, que “são pessoas normais, de carne e osso”. Depois, tendo em conta o “problema grave de obesidade no nosso país”, quis apontar como é possível ter uma vida ocupada, praticando exercício físico e tendo uma alimentação equilibrada ao mesmo tempo. O deputado garante que não se trata de um acto político. No entanto, afirma a importância da alimentação e do exercício físico como um tema que costuma levar às escolas que visita.
“Um tiro ao lado”
Gabriela Pinheiro, consultora de imagem, está habituada a trabalhar com figuras públicas, incluindo políticos, e admite que ficou surpreendida ao ver a capa da revista, pela sua “ousadia”. Tendo em conta que em Portugal os políticos costumam estar mais “presos a estereótipos”, considera a produção “uma lufada de ar fresco”.
“Trata-se de uma tentativa de aproximação ao público, que lá fora já se faz mais”, avalia ao PÚBLICO. E está em linha com a tendência que tem observado entre as figuras políticas: procuram, cada vez mais, transmitir uma imagem mais descontraída, mostrar o dia-a-dia e o seu lado mais causal, garante. Para Pinheiro, isso é um reflexo de uma sociedade em que é cada vez mais difícil chamar a atenção. “O palco está muito mais nas redes sociais”, comenta.
Carlos Coelho, presidente da agência Ivity Brand Corp, por outro lado, classifica a decisão do deputado como “um tiro ao lado”. O especialista de marketing avalia-a como uma solução “superficial” para ganhar notoriedade, que ao mesmo tempo “retira credibilidade”. “É fácil ter notoriedade. A arte difícil é conseguir notoriedade com conteúdo”, comenta. “Esse é o desafio de comunicação de qualquer marca: como conseguir notoriedade, mas com reputação.” Ainda assim, identifica alguns pontos a favor: “Tem o lado positivo de sair de um quadro comum de comunicação” e o “lado da pessoa que vai ao ginásio”.
Numa questão, Gabriela Pinheiro e Carlos Coelho estão de acordo: que os políticos em Portugal têm uma comunicação bastante conservadora, sobretudo em comparação com outros países. “Tomam riscos, mas é para o lado oposto — por serem demasiado conservadores. É igualmente arriscado, pela passividade”, comenta Carlos Coelho. Essa questão não passa ao lado do deputado do PSD, que afirma: “É preciso cortar com o cinzentismo na política”. Assim, admite que quis também, de certa forma, contribuir para alterar mentalidades.
Carlos Coelho avisa que as soluções rápidas para ganhar notoriedade acabam por ser contraproducentes. “Não me parece que a via [a seguir] seja uma situação de escândalo. Isso vai afastar ainda mais as pessoas da política. Por desconsiderarem [os políticos]”. Além disso, há uma probabilidade de se ficar conhecido pelo factor choque e não acções políticas que tomam.
E se essas acções não atraírem, de longe, a mesma atenção? “Sempre achei que na política não é válida a notoriedade sem conteúdo. As pessoas de facto não ligam, mas os políticos não têm feito muito [nesse sentido]”, responde Carlos Coelho. Há poucos políticos que se posicionem entre estes dois extremos, comenta ainda, criticando a área da política por ter uma comunicação “pouco profissionalizada”. “Acho que se leva pouco a sério [a comunicação]. Sempre que se fala em comunicação, a sociedade vê como coisa supérflua”, acrescenta.
Gabriela Pinheiro sublinha a importância de definir bem qual a mensagem que se quer passar, para que seja bem entendida pelo público. No caso de Joana Amaral Dias, “fiquei confusa”, admite. “Pode haver um objectivo, mas tem de haver compreensão do público”. Por contraste, considera que “é clara” a mensagem de Duarte Pacheco. “Acho que está a falar para toda a população.”