Morreu o neurocientista Fernando Lopes da Silva

Investigador português vivia na Holanda desde 1965, onde se dedicou à investigação dos aspectos biofísicos da actividade eléctrica do cérebro e a organização funcional das redes neuronais, incluindo a origem de fenómenos epilépticos.

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Fernando Lopes Silva em 2002, quando recebeu o título de doutor honoris causa pela Universidade do Porto MARCO MAURÍCIO/PÚBLICO

O neurocientista Fernando Lopes da Silva, radicado na Holanda há várias décadas, morreu aos 84 anos, anunciou o Ministério da Ciência português em comunicado esta terça-feira. Os aspectos biofísicos da actividade eléctrica do cérebro e a organização funcional das redes neuronais – em particular do córtex cerebral e do sistema límbico – estiveram entre os principais interesses de investigação do cientista português. A origem de fenómenos epilépticos foi um dos seus grandes temas de investigação.

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O neurocientista Fernando Lopes da Silva, radicado na Holanda há várias décadas, morreu aos 84 anos, anunciou o Ministério da Ciência português em comunicado esta terça-feira. Os aspectos biofísicos da actividade eléctrica do cérebro e a organização funcional das redes neuronais – em particular do córtex cerebral e do sistema límbico – estiveram entre os principais interesses de investigação do cientista português. A origem de fenómenos epilépticos foi um dos seus grandes temas de investigação.

Nascido em Lisboa a 24 de Janeiro de 1935, Fernando Lopes da Silva licenciou-se em medicina pela Universidade de Lisboa em 1959. Em 1965, partiu para a Holanda, onde veio a trabalhar durante toda a sua carreira como investigador e docente nas universidades de Utrecht, Twente e Amesterdão.

Logo em 1965 começou por se juntar como investigador a um instituto na Holanda, o Grupo de Investigação do Cérebro. Em 1970, obteve o doutoramento em neurofisiologia pela Universidade de Utrecht. Em 1980, foi nomeado professor catedrático de fisiologia geral na Faculdade de Ciências da Universidade de Amesterdão. E de 1993 a 2000 foi director do então recém-criado Instituto de Neurobiologia da Universidade de Amesterdão. Jubilou-se nesta última universidade em 2000, tornando-se professor emérito.

Depois da jubilação, assumiu as funções, em 2003, de presidente do Conselho de Supervisão Científica do Centro de Neurogenómica e Investigação Cognitiva, na Universidade Livre de Amesterdão. Também veio dar aulas em Portugal: a partir de 2000 como professor visitante da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e, desde 2005, como professor do Instituto Superior Técnico de Lisboa, aqui “com a função principal de organizar, promover e estimular uma estreita ligação entre a engenharia e a medicina através de um novo curso em engenharia biomédica”, nota o comunicado do Ministério da Ciência.

Na Universidade de Coimbra, o neurocientista estava em pleno exercício das suas funções no Conselho Geral, sendo coordenador da Comissão Ad hoc para o Desenvolvimento da Rede de Escolas de Doutoramento. “A Universidade de Coimbra perde, com o desaparecimento do doutor Lopes da Silva, uma voz autorizada no Conselho Geral, com destaque para a política de investigação”, lamenta o reitor da Universidade de Coimbra, Amílcar Falcão, em comunicado. Também João Caraça, presidente do Conselho Geral da Universidade Coimbra, lamenta a morte de Fernando Lopes da Silva, que “teve uma vida distintíssima” e foi “uma pessoa que foi reconhecidamente excepcional do ponto de vista científico e humano”.

Entre os prémios e reconhecimentos em Portugal está a atribuição de vários títulos de doutor honoris causa: em 1997, pela Universidade de Lisboa, em 2002 pela Universidade do Porto. Em 2000, o Presidente da República Jorge Sampaio concedeu-lhe o grande-colar de oficial da Ordem de Santiago da Espada, por notáveis realizações no campo da ciência, arte e literatura. Em 2004 recebeu o Prémio Universidade de Coimbra para “pessoa de nacionalidade portuguesa que tenha dado um contributo relevante e inovador nos campos da cultura ou da ciência”.

A nível internacional, também foram várias as distinções. Além do doutoramento honoris causa em 2007 pela Universidade de Helsínquia (Finlândia), em 1985 já tinha sido eleito membro da Academia Real Holandesa de Artes e Ciências. Em 1995 tornou-se membro honorário da Sociedade Britânica de Neurofisiologia Clínica. Em 1999, recebeu o Prémio Herbert H. Jasper, atribuído pela Sociedade Americana de Neurofisiologia Clínica por uma “vida de extraordinárias contribuições para o campo da neurofisiologia clínica”. Em 2001, a Rainha da Holanda atribuiu-lhe o grau de Cavaleiro da Ordem do Leão Holandês em reconhecimento pelas suas realizações em ciência.