PSD e CDS temem danos na imagem de partidos das contas certas
Proximidade das eleições não dá margem às oposições internas para críticas mais violentas a Rio e a Cristas.
É indisfarçável o incómodo da direita perante a crise política criada pelo primeiro-ministro, mas, dada a proximidade de eleições, as oposições internas parecem não querer assumir críticas públicas.
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É indisfarçável o incómodo da direita perante a crise política criada pelo primeiro-ministro, mas, dada a proximidade de eleições, as oposições internas parecem não querer assumir críticas públicas.
No PSD e no CDS cresceram os receios de uma maior fragilidade nas próximas eleições (europeias e legislativas) depois de Rui Rio e Assunção Cristas terem dado o dito por não dito e admitirem recuar na votação final global do diploma dos professores. É que os dois partidos viveram boa parte da legislatura a remeter para os apoios à esquerda do Governo a aprovação de diplomas fundamentais. Agora vão permitir que as alterações indesejadas pelo Governo chumbem, contribuindo para que António Costa não concretize a demissão de primeiro-ministro.
Mas o mais assustador para sociais-democratas e centristas, segundo fontes contactadas pelo PÚBLICO, é que o líder do PS se apropriou de uma das bandeiras da direita: a das contas certas. A responsabilidade orçamental era uma marca do discurso de Rui Rio e uma herança na mensagem de Assunção Cristas. No caso do PSD, o líder fez questão de propagar que castigou quem fez gastos excessivos na campanha das autárquicas de 2017 (na era de Passos Coelho) e que pôs as contas do partido em ordem. A proximidade das eleições – e, no caso do PSD, o pacto de não agressão a Rui Rio desde a crise provocada por Luís Montenegro – leva a que os críticos internos não assumam a censura às direcções do PSD e do CDS-PP. Só no CDS se ouviu António Pires de Lima, ex-ministro da Economia e colega de Assunção Cristas no anterior Conselho de Ministros, dizer com estrondo: “Ou se está com os contribuintes ou com Mário Nogueira”. A frase merecerá a concordância de alguns centristas, embora também critiquem o timing em que foi dita.
No PSD, o recuo e as desautorizações estão à vista. A coordenadora do PSD na comissão de Educação, Margarida Mano, assumiu, na sexta-feira, que não via motivos para o partido alterar a sua posição sobre o diploma dos professores. Depois do recuo deste domingo de Rui Rio, a deputada não se pronunciou. Mas no Facebook colocou uma imagem de Sá Carneiro e uma frase do fundador do PSD, que no actual contexto se revela enigmática: “A política sem risco é uma chatice, sem ética é uma vergonha”.