Não há escassez de motivos que distingam a Nova Gramática do Latim de Frederico Lourenço das suas predecessoras. Desde logo, convém relembrar que não é exactamente habitual que se publique entre nós um livro desta natureza. A progressiva rarefacção do estudo do Latim nas escolas (para nada dizer do Grego) poderá explicar esse facto — mas talvez não o justifique exclusivamente. Acresce que este é tanto um compêndio da língua latina quanto uma abordagem fundamental da sua cultura e literatura. Assim, este livro nunca deixa de ser uma descrição exacta, clara e consumada das regras e dos meandros mais intricados da “floresta antiga” (p.39) de que falam uns versos de Vergílio citados por Frederico Lourenço; e, no entanto, as explicações e os esclarecimentos são a cada passo acompanhados de intervenções que apresentam contextos históricos, recuam e avançam na cronologia, exemplificam com os mais consumados momentos da literatura latina. Motivo pelo qual a exposição se faz sempre — elegante, sóbria e claramente — com o recurso a trechos de poetas, prosadores e dramaturgos que compõem o vasto panteão da literatura latina. Para citar apenas um exemplo, no capítulo “Introdução aos casos”, o caso nominativo é exemplificado com uma citação das Metamorfoses de Ovídio, mas também com palavras extraídas de um grafito de Pompeios; o vocativo é servido por nada menos do que excertos de Vergílio, Marcial e Catulo. César, Horácio, Propércio e Plauto, por exemplo, farão as honras dos restantes casos. Esta prática, que se mantém ao longo da Nova Gramática do Latim — e que se amplia, com trechos mais longos —, vê-se reforçada com a inclusão de uma “Antologia de textos” que conclui o volume. Trata-se de um elenco aparentemente breve, composto de vinte e quatro espécimes; contudo, cada um dos excertos é antecedido de uma introdução individual, e todos eles são comentados em pormenor, do ponto de vista vocabular, morfológico sintáctico e histórico — além de serem alvo de análises comparativas. Por outro lado, o arco compreendido nesta antologia estende-se do século III a.C., com uma passagem retirada de uma comédia de Plauto, ao século VIII d.C, através de um excerto do Venerável Beda. De César e Salústio a Santo Agostinho e São Jerónimo, passando por Tito Lívio, Vergílio, Propércio e Petrónio, estamos perante alguns dos mais ilustres exemplos da historiografia latina, mas também da patrística e do labor de tradução da Vulgata. A estes se juntam a poesia do período de ouro da literatura latina e a notável “revolução” de um Satyricon. São, por conseguinte, os longos séculos da literatura latina, nas suas diversas e aliciantes fases, que aqui se representam.
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Não há escassez de motivos que distingam a Nova Gramática do Latim de Frederico Lourenço das suas predecessoras. Desde logo, convém relembrar que não é exactamente habitual que se publique entre nós um livro desta natureza. A progressiva rarefacção do estudo do Latim nas escolas (para nada dizer do Grego) poderá explicar esse facto — mas talvez não o justifique exclusivamente. Acresce que este é tanto um compêndio da língua latina quanto uma abordagem fundamental da sua cultura e literatura. Assim, este livro nunca deixa de ser uma descrição exacta, clara e consumada das regras e dos meandros mais intricados da “floresta antiga” (p.39) de que falam uns versos de Vergílio citados por Frederico Lourenço; e, no entanto, as explicações e os esclarecimentos são a cada passo acompanhados de intervenções que apresentam contextos históricos, recuam e avançam na cronologia, exemplificam com os mais consumados momentos da literatura latina. Motivo pelo qual a exposição se faz sempre — elegante, sóbria e claramente — com o recurso a trechos de poetas, prosadores e dramaturgos que compõem o vasto panteão da literatura latina. Para citar apenas um exemplo, no capítulo “Introdução aos casos”, o caso nominativo é exemplificado com uma citação das Metamorfoses de Ovídio, mas também com palavras extraídas de um grafito de Pompeios; o vocativo é servido por nada menos do que excertos de Vergílio, Marcial e Catulo. César, Horácio, Propércio e Plauto, por exemplo, farão as honras dos restantes casos. Esta prática, que se mantém ao longo da Nova Gramática do Latim — e que se amplia, com trechos mais longos —, vê-se reforçada com a inclusão de uma “Antologia de textos” que conclui o volume. Trata-se de um elenco aparentemente breve, composto de vinte e quatro espécimes; contudo, cada um dos excertos é antecedido de uma introdução individual, e todos eles são comentados em pormenor, do ponto de vista vocabular, morfológico sintáctico e histórico — além de serem alvo de análises comparativas. Por outro lado, o arco compreendido nesta antologia estende-se do século III a.C., com uma passagem retirada de uma comédia de Plauto, ao século VIII d.C, através de um excerto do Venerável Beda. De César e Salústio a Santo Agostinho e São Jerónimo, passando por Tito Lívio, Vergílio, Propércio e Petrónio, estamos perante alguns dos mais ilustres exemplos da historiografia latina, mas também da patrística e do labor de tradução da Vulgata. A estes se juntam a poesia do período de ouro da literatura latina e a notável “revolução” de um Satyricon. São, por conseguinte, os longos séculos da literatura latina, nas suas diversas e aliciantes fases, que aqui se representam.