“Derrota parlamentar absoluta” e “jogada orçamental”: a crise política portuguesa vista pela imprensa internacional
Ameaça de demissão de António Costa não passou despercebida à comunicação social além-fronteiras. No meio de elogios à estabilidade até aqui demonstrada pelo primeiro-ministro, fica o aviso de que Portugal poderá ter eleições antecipadas e assistir ao fim da “geringonça”.
A ameaça de demissão de António Costa na sequência da aprovação pelo conjunto da oposição, nesta quinta-feira, no Parlamento, do descongelamento integral do tempo de serviço dos professores teve eco na imprensa internacional, com vários órgãos a dar destaque à possibilidade de Portugal registar um cenário de eleições legislativas antecipadas.
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A ameaça de demissão de António Costa na sequência da aprovação pelo conjunto da oposição, nesta quinta-feira, no Parlamento, do descongelamento integral do tempo de serviço dos professores teve eco na imprensa internacional, com vários órgãos a dar destaque à possibilidade de Portugal registar um cenário de eleições legislativas antecipadas.
Em Espanha, o El País descreve a intervenção de sexta-feira do primeiro-ministro como um “discurso inédito nesta legislatura”, destacando o facto de os parceiros de coligação terem qualificado o discurso de António Costa como uma “chantagem inadmissível”, explicando que a instabilidade teve origem numa “derrota parlamentar absoluta” do Partido Socialista (PS).
“O primeiro-ministro convocou na manhã de sexta-feira uma reunião extraordinária do núcleo duro do seu Governo, depois de os seus aliados — Partido Comunista e Bloco de Esquerda — terem unido forças com a oposição de centro-direita para pôr fim ao congelamento dos salários dos professores. Os comunistas falam de ‘cálculo’ eleitoral de Costa e a direita do CDS pede que [o Governo] apresente uma moção de confiança. O que deu origem [a esta situação] foi uma derrota parlamentar absoluta, com os seus parceiros e a oposição votando contra o Governo”, pode ler-se no diário espanhol.
A Bloomberg escreve que Portugal “poderá estar a dirigir-se para eleições depois da jogada orçamental de Costa”. A agência descreve António Costa como “um símbolo de estabilidade” desde que assumiu o papel de primeiro-ministro, enfatizado o “crescimento económico” e o apoio dos partidos de coligação para a aprovação de orçamentos que “o ajudaram a baixar o desemprego e diminuir o défice”.
O Financial Times alerta que as diferentes posições entre os partidos de esquerda e o PS na questão do descongelamento integral do tempo de serviço dos professores “ameaçam acabar com a aliança” celebrada em 2015 entre o PS, BE, PCP e PEV. Coligação que, relembra o jornal, permitiu a António Costa governar com uma maioria no parlamento desde Novembro desse mesmo ano. O Financial Times escreve que o desacordo poderá originar eleições legislativas antecipadas, relembrando que o défice desceu para o nível mais baixo dos últimos 45 anos.
O Politico Europe afirma que, até este momento de maior tensão, António Costa tem sido capaz de evitar “fissuras” entre os parceiros de coligação, frisando a parceria de governação portuguesa é “delicada” e que qualquer perturbação “pode desencadear uma crise política”.
O site de notícias políticas europeu cita ainda a metáfora futebolística que Mário Centeno utilizou na noite de sexta-feira, numa entrevista concedida à SIC Notícias. “Acredito que Mourinho e Guardiola, quando um estava no Real Madrid e o outro no Barcelona, discutiam mais as tácticas dos seus clubes do que aquelas pessoas que ontem votaram o documento discutiram a educação em Portugal”, afirmou o ministro das Finanças, classificado o diploma aprovado pelas restantes forças políticas como “irresponsável”.
Notícia corrigida: A notícia identificava o Politico como site norte-americano, mas a notícia em causa surge no Politico Europe.