Uma Europa Sustentável - O desafio das Europeias que os políticos não aceitaram e que os portugueses devem exigir
É urgente uma mudança de paradigma, é urgente pensar de forma global e colocar a natureza, a base de toda a vida, em primeiro lugar. Disso depende a nossa sobrevivência.
Os resultados das próximas eleições para a União Europeia (UE) vão, com certeza, afetar o modo de vida dos cidadãos europeus, e de todos os portugueses, nos próximos anos. Mais de 80% das leis ambientais portuguesas resultam de legislação europeia.
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Os resultados das próximas eleições para a União Europeia (UE) vão, com certeza, afetar o modo de vida dos cidadãos europeus, e de todos os portugueses, nos próximos anos. Mais de 80% das leis ambientais portuguesas resultam de legislação europeia.
Apelando a um pacto de sustentabilidade a WWF, World Wide Fund for Nature, lançou no final do ano passado o seu “Manifesto para uma Europa Sustentável”, onde alertava para que os futuros líderes da UE deveriam colocar o bem-estar das pessoas no centro das suas reflexões e das suas ações. Este é o desejo de milhões de cidadãos europeus segundo os últimos dados do Eurobarómetro, em particular dos jovens até aos 30 anos para quem o combate às alterações climáticas deve ser a prioridade da intervenção política nestas eleições.
O pacto político proposto pela WWF, assente num conjunto de objetivos e ações sobre alterações climáticas, proteção da natureza e desenvolvimento sustentável, a ser levado a cabo nos próximos cinco anos, seria a chave para salvaguardar o bem-estar das pessoas na Europa e para garantir que os desejos das gerações futuras são legitimados.
Tais objetivos e ações representariam um reforço da segurança, melhorias na saúde e mais empregos para os europeus e aumentaria a competitividade económica, contribuindo para uma Europa globalmente forte e respeitada.
A WWF pediu reuniões com os eurodeputados portugueses e com todos os cabeças de lista às Eleições Europeias para apresentar e debater este manifesto e os temas do impacto crescente das alterações climáticas e da degradação ambiental alertando para o facto de que os políticos não deveriam esquecer que os cidadãos estão apreensivos com estas questões e que os seus programas partidários as deveriam incluir de forma inequívoca.
Na hora do balanço sobre quem de facto deu prioridade estratégica a estas questões quase nada há a dizer. Praticamente nenhum partido tem nos seus planos medidas concretas de combate às alterações climáticas e à degradação da natureza. A maior parte das propostas são ambíguas ao mencionarem estes temas optando por partilhar desejos avulsos sem concretizar como atingir esses desígnios.
Os políticos portugueses perderam, de novo, a oportunidade para travar as alterações climáticas e marcar uma posição de liderança num tema que vai distinguir a agenda internacional das próximas décadas, privilegiando políticas de curto prazo em detrimento de medidas estratégicas com foco na sustentabilidade.
É esta a hora dos nossos líderes políticos perceberem que o futuro de todos nós só é possível num planeta onde a natureza prospera e florestas, oceanos e rios cumprem as suas importantes funções e onde a biodiversidade prospera. Mas a julgar pelos programas eleitorais dos principais partidos nacionais às eleições de 26 de maio estamos num caminho lento e sinuoso. A nossa classe política teima em cometer os mesmos erros esperando resultados diferentes.
Combater as alterações climáticas e conter a degradação ambiental são requisitos base para se construir uma Europa verdadeiramente estável, mais segura, mais competitiva e com mais influência no panorama global. Só protegendo a natureza, que é a base da vida humana, poderemos ter uma Europa criadora de empregos a longo prazo e economicamente próspera e que defende o bem-estar dos seus cidadãos.
Os nossos líderes políticos não mostram visão nem determinação, não sendo capazes de romper com o pensamento instituído, a forma de agir de sempre e com as respostas políticas habituais.
A proposta da WWF de uma transição sustentável, que deveria ser feita agora, sem hesitações, para salvaguardar rios livres e água de qualidade, florestas e ecossistemas saudáveis e paisagens naturais inspiradoras, não foi aceite, mantendo Portugal no início do caminho que nos permitirá coexistir de forma sustentável com a natureza da qual dependemos. Esse deveria ter sido o grande desafio e a grande responsabilidade dos líderes políticos nacionais nestas eleições europeias.
A realidade é clara para quase todos: a vida selvagem diminuiu drasticamente desde 1970. As estatísticas são assustadoras e mostram que as populações globais de peixes, aves, mamíferos, anfíbios e répteis diminuíram em média 60% entre 1970 e 2014. As principais ameaças às espécies estão diretamente ligadas às atividades humanas, incluindo perda e degradação de habitats e sobre exploração da vida selvagem.
A humanidade, em geral, continua a exercer uma pressão sem precedentes sobre a natureza contribuindo para a sua perda acelerada. Medidas avulsas de proteção da natureza já não bastam para travar a degradação que estamos a causar. É urgente uma mudança de paradigma, é urgente pensar de forma global e colocar a natureza, a base de toda a vida, em primeiro lugar. Disso depende a nossa sobrevivência.