Um elo vital para a sociedade
Se o “pai” do Serviço Nacional de Saúde, António Arnaut, dizia que “as farmácias são a mão longa do SNS”, a distribuição farmacêutica será o sistema circulatório que permite o seu funcionamento.
Na azáfama do nosso quotidiano, temos por hábito não reconhecer a importância de certos agentes que, sendo menos visíveis, asseguram, sem falhar, determinados serviços e bens essenciais. E não o fazemos por essa simples razão, porque não falham. Por não falharem, damos por garantido. E o que é garantido, por vezes, não é devidamente valorizado.
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Na azáfama do nosso quotidiano, temos por hábito não reconhecer a importância de certos agentes que, sendo menos visíveis, asseguram, sem falhar, determinados serviços e bens essenciais. E não o fazemos por essa simples razão, porque não falham. Por não falharem, damos por garantido. E o que é garantido, por vezes, não é devidamente valorizado.
Este é um círculo vicioso que devemos corrigir. Haverá, por aí, diversos exemplos, mas abordarei, em concreto, a distribuição farmacêutica de serviço completo.
Poderá não saber, mas existe um elo vital no circuito farmacêutico que permite que os medicamentos e outras tecnologias de saúde produzidos pela indústria cheguem às farmácias. A distribuição farmacêutica de serviço completo desempenha esse serviço de interesse público absolutamente essencial, assegurando, em média três vezes ao dia, um fornecimento atempado e adequado às farmácias em qualquer localização do país, sem exceção ou diferenciação, disponibilizando uma gama completa de tecnologias de saúde, independentemente do seu preço, margem comercial ou rotação.
Contribuem, portanto, para garantir o medicamento certo, no tempo certo, no local certo, para ser dispensado ao cidadão certo.
É um verdadeiro exemplo de serviço de interesse público, porque é, igualmente, um garante da coesão territorial. Qualquer que seja a localização da sua farmácia preferencial, a distribuição assegura que é devidamente abastecida.
Tudo isto acontece porque, diariamente, mais de 700 viaturas especializadas percorrem o equivalente a cinco voltas ao mundo, para entregar mais de 800 mil medicamentos e produtos de saúde, pelo nosso Portugal fora.
Contudo, existem preocupações com a sustentabilidade do setor, que se estendem transversalmente a todo o circuito. Desde 2008, o mercado de medicamentos sofreu uma redução superior a 640 milhões de euros (-22,8%), à qual acresceu uma redução de margens igualmente de 23% (decretada a nível governamental). Esta degradação contínua do preço dos medicamentos tem vindo a colocar em risco um serviço essencial.
A distribuição farmacêutica é o setor da cadeia do medicamento com a rentabilidade mais baixa, apresentando, em média, 1,2% de margem EBITDA e 0,4% de rentabilidade líquida, indicadores que comprovam uma margem reduzida para compensar os encargos operacionais do serviço público prestado e, inerentemente, de salvaguarda da saúde pública.
Por estas razões, assistimos, há poucos anos, ao fechar de portas de um distribuidor farmacêutico, que não resistiu à pressão económico-financeira.
E não haverá margem para uma redução adicional dos custos operacionais? Não... porque isso implicaria prejudicar o nosso serviço de interesse público e a coesão territorial. E isso é, para nós, inaceitável!
Se o “pai” do Serviço Nacional de Saúde, António Arnaut, dizia que “as farmácias são a mão longa do SNS”, a distribuição farmacêutica será o sistema circulatório que permite o seu funcionamento.
Por estas e outras tantas razões, este setor é um elo vital da nossa sociedade.
Saibamos nós, sociedade, pugnar por políticas setoriais que promovam um verdadeiro investimento na saúde, visando e defendendo os nossos garantes de coesão territorial.
O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico