Os “zucas” são irmãos dos “tugas”
Se os alunos de Direito não estão de acordo com o resultado do “zuca” que lhes passou à frente, devem apresentar queixa nos devidos órgãos da faculdade. Mas não, é melhor o apedrejamento.
Sejamos claros: a xenofobia é crime. A lei existe e está em vigor desde Setembro de 2017 com o nome “regime jurídico da prevenção, da proibição e do combate à discriminação, em razão da origem racial e étnica, cor, nacionalidade, ascendência e território de origem”.
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Sejamos claros: a xenofobia é crime. A lei existe e está em vigor desde Setembro de 2017 com o nome “regime jurídico da prevenção, da proibição e do combate à discriminação, em razão da origem racial e étnica, cor, nacionalidade, ascendência e território de origem”.
Para quem não sabe, a lei em questão pune a discriminação e xenofobia com multas que podem chegar a mais de 8500 euros, se forem cometidos por pessoas colectivas, e a mais de 4200, se cometidas por um indivíduo.
A xenofobia é crime e os alunos brasileiros da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa sabem-no.
Ironia do destino, os alunos portugueses, responsáveis pela colocação de um cartaz claramente discriminatório em plena campanha para a Associação Académica, não.
De acordo com o dito cartaz, um aluno brasileiro passou à frente no curso de mestrado. Conclusão: lapidação, como se estivéssemos de volta ao tempo dos romanos (no Brunei estão) e em mais de 2000 anos de história não houvesse evolução nenhuma.
Pelos vistos não houve. Ainda para mais num mundo onde agora se legitimam os discursos de ódio e violência contra o outro, o que não é nosso igual, por falar com sotaque, por ter uma cor de pele diferente, um credo diferente, uma orientação sexual diferente.
Se os alunos de Direito não estão de acordo com o resultado do “zuca” que lhes passou à frente, devem apresentar queixa nos devidos órgãos da faculdade. Mas não, é melhor o apedrejamento.
Se estes alunos de Direito são os advogados do futuro, que Deus nos salve. E alguém que me explique, por favor, os processos de admissão a este curso quando são claros como a água os princípios, a má formação pessoal e cívica de quem fez tal cartaz.
Não é uma questão de bom senso. É uma questão de Direito. E estes alunos estão a anos-luz do direito e do respeito para com o outro, o qual não vêem como igual. A consequência só pode ser uma: quem não conhece as premissas fundamentais do Direito e da convivência em sociedade não deve frequentar este curso.
Em nome dos nossos irmãos brasileiros, povo da mesma língua e cultura, a quem muito devemos e continuamos a dever. Mas não só, em nome de todos os povos. Como dizia o José Wilker na telenovela brasileira Renascer: “É justo, é muito justo, é justíssimo.”