Partido Popular, em pânico, passa ao ataque ao Vox
Pablo Casado e “barões” do PP tentam desesperadamente encontrar uma nova estratégia a 26 dias das eleições europeias e regionais. “regressar ao centro” é o lema mágico.
Pablo Casado, líder do Partido Popular espanhol, ensaia uma mudança de estratégia após o descalabro eleitoral de domingo. Sob pressão de vários “barões” do partido, que pedem um “regresso ao centro”, qualificou nesta terça-feira o Vox e o seu líder, Santiago Abascal, como sendo de “ultradireita” ou “extrema-direita”. Quatro dias antes oferecera-lhe ministérios. Não é exagero dizer que o partido está em pânico, a 26 dias das eleições europeias e, sobretudo, das autonómicas e municipais, de 26 de Maio. Mas não é altura para abrir crises e para “ajustes de contas”.
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Pablo Casado, líder do Partido Popular espanhol, ensaia uma mudança de estratégia após o descalabro eleitoral de domingo. Sob pressão de vários “barões” do partido, que pedem um “regresso ao centro”, qualificou nesta terça-feira o Vox e o seu líder, Santiago Abascal, como sendo de “ultradireita” ou “extrema-direita”. Quatro dias antes oferecera-lhe ministérios. Não é exagero dizer que o partido está em pânico, a 26 dias das eleições europeias e, sobretudo, das autonómicas e municipais, de 26 de Maio. Mas não é altura para abrir crises e para “ajustes de contas”.
Numa reunião do comité executivo nacional, realizado nesta terça-feira em Madrid à porta fechada, Casado fez uma autocrítica, mudou palavras de ordem e os chefes das campanhas eleitorais que se seguem. Admitiu erros tácticos, como ter-se fiado no Cidadãos e não se ter confrontado com o Vox, um partido “populista de direita que se desmascarará nas europeias”. Lançou um novo lema: “Centrados no teu futuro.” Antes da reunião, diversos “barões” e dirigentes frisavam que o PP devia recuperar o voto do centro em vez de imitar o Vox. Mas, na véspera de novas eleições, ninguém pede a demissão da Casado.
Alberto Nuñez Feijóo, presidente da Junta da Galiza, avisou que o PP sempre foi “um ponto de encontro entre muitas sensibilidades”, entre pessoas “que são mais de direita, mais liberais, mais conservadoras, mais de centro, mais reformistas” e, até, “mais do centro-esquerda”. Feijóo teria sido o candidato de “consenso” à sucessão de Mariano Rajoy mas recusou avançar. Outro dirigente relevante, Juan Manuel Moreno, presidente da Andaluzia, sintetizou as críticas numa breve frase: “Nunca se deve abandonar o centro.”
A “batalha de Madrid”
Segundo o El País, o pânico do PP diz respeito sobretudo à região de Madrid, onde fracassou nas legislativas e foi ultrapassado pelo Cidadãos. O partido governa a região desde 1995 e está em risco de a perder. “Se o eleitor do PP que foi para o Vox não voltar ao PP e não se unificar o voto, a esquerda governará em Madrid”, declarou um elemento da equipa da sua candidata, Isabel Diaz Ayuso. O que se debate é a estratégia para neutralizar o Cidadãos e o Vox. A luta pela liderança da oposição, entre o Cidadãos e o PP vai acentuar-se. “A batalha da direita ameaça a sobrevivência do PP como força hegemónica da direita em Madrid”, conclui El País. Perder em Madrid lançará o PP numa “crise absoluta”.
No La Vanguardia, Carles Castro faz uma análise cruel da “estratégia catastrofista” que Casado lançou contra a esquerda e que, graças ao Vox, acabou por “provocar uma contramobilização de sentido contrário”. E lembra: “Quando Pablo Casado tomou os comandos do PP e iniciou a sua marcha da aprendiz de feiticeiro, mediante apelos de salvação da Pátria, a ultradireita mal se notava nos radares das sondagens. Nove meses depois, o Vox obtém 10,3% dos votos. (…) A artilharia retórica de Casado multiplicou as capacidades hipnóticas de um espectro como o Vox.”
O analista José António Zarzalejos, no El Confidencial, sublinha outro aspecto da relação entre o PP e a extrema-direita. “O Vox entrou no Congresso com menos força do que se supunha. (…) No entanto, o partido de Abascal alcançou plenamente o seu propósito de destruir a direita liberal-conservadora.” A dimensão do desmoronamento dos populares “não admite paliativos e exige uma resposta: revisão do discurso e uma nova direcção.”
Social-democracia feliz
Em compensação pelas agruras do PP, os socialistas espanhóis são felicitados pela social-democracia europeia. “Às portas das eleições europeias, a vitória do PSOE foi uma autêntica injecção de moral nas fileiras dos sociais-democratas europeus”, escreve o correspondente do El País em Bruxelas.
Depois de muitos revezes, os sociais-democratas vêem uma luz no fundo do túnel: “Regressou a social-democracia europeia” é uma mensagem que percorreu as redes sociais. O trabalhista holandês Frans Timmermans, vice-presidente da Comissão Europeia, não escondeu a euforia e aproveitou o exemplo espanhol para mandar uma farpa a Manfred Weber, candidato do Partido Popular Europeu à presidência da comissão: “Se tentas derrotar a extrema-direita copiando-a, acabas perdendo.”
O grupo de análise Eurointelligence assinala a surpresa. “Quem na Europa teria pensado, há cinco ou há sete anos, que de todos os partidos sociais-democratas, seria o PSOE espanhol, tão envolvido em escândalos e associado ao fracasso da economia espanhola, aquele que experimentaria a ressurreição eleitoral [de domingo]?”