Quem subiu e quem desceu nas eleições espanholas
As vitórias e as derrotas em política são mais do que a mera aritmética dos números, conjugando outros factores, como os objectivos traçados, as expectativas criadas por discursos ou sondagens. A jornada eleitoral espanhola deste domingo não foi excepção
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Pedro Sánchez
O Partido Socialista (PSOE) subiu de 85 deputados em 2016 para 123 e mais 38 deputados é sem margem para dúvida uma vitória, mesmo assim, no seu conjunto, o resultado eleitoral não é totalmente satisfatório para os socialistas. Primeiro, o partido não teve sozinho uma votação confortável que lhe permita arriscar governar sozinho com acordos pontuais à esquerda e à direita; em segundo, a soma à esquerda ficou aquém da maioria, sobretudo, pela queda do Unidas Podemos; em terceiro, os resultados também não permitem uma maioria juntando os partidos não independentistas; em quarto, a possibilidade de um novo acordo com o Cidadãos (como aquele que foi chumbado no Parlamento em 2015), que ambos os partidos já rejeitaram na campanha e depois, mas a pressão para que se concretize é muita, deixa Sánchez com uma alternativa viável ao acordo com os independentistas.
Santiago Abascal
Quando um partido que vinha de 0,2% (em 2016) e nenhum deputado consegue 10,2% e 24 deputados é forçoso que esteja no lado dos vencedores. E, no entanto, há nuances neste irromper do Vox na política nacional espanhola. As sondagens foram-lhe dando um peso nas urnas que não se concretizou: chegou-se a falar na possibilidade dos 15%, de superar o Unids Podemos como quarta força política, de uma bancada de 38 a 40 deputados. É certo, como afirmou Abascal, que no Congresso espanhol passa a estar representada a extrema-direita (ideologia política que sempre lá esteve, mas que se abrigava na respeitabilidade do PP), mas é uma bancada que não vai somar para nada porque a direita saiu derrotada, não é o mesmo que aconteceu na Andaluzia, onde o apoio do Vox é essencial para governar. E uma coisa é a política dos comícios e das redes sociais, outra, muito diferente, é a política das instituições.
Para o lado
Albert Rivera
Obter mais um milhão de votos que em 2016 e mais 25 deputados (passando de 32 para 57 deputados) é um excelente resultado para o Cidadãos e para Albert Rivera. O partido assume-se cada vez mais como a grande força do centro-direita liberal espanhol. Só que a agressividade e a euforia de Rivera no último terço da campanha, quando se afirmava a ponto de superar o PP, com dados de sondagens que colocavam o partido empate técnico com os populares, contrasta com os números saídos das urnas. Nem na pior hora do PP, a grande subida do Cs chegou: menos 220 mil votos e nove deputados. E das duas uma, ou o PP está a caminho da extinção, ou esta foi a pior hora dos populares e a diferença entre os dois será maior nas próximas eleições. Não basta repetir que se é líder da oposição, como Inés Arrimadas, a número dois do partido, o fez esta segunda-feira, é preciso que os números correspondam a esse epíteto.
Pablo Iglesias
Como em tudo na vida política, uma vitória pode ser uma derrota e vice-versa. O Unidas Podemos (UP) foi um derrotado da noite eleitoral, ao perder 1,3 milhões de votos e 29 deputados em relação a 2016. E Pablo Iglesias admitiu o fraco resultado no discurso da noite eleitoral (“gostava de ter tido um resultado melhor”). Mesmo assim, o bloco da direita não ganhou e o UP pode acabar no governo ou pelo menos a influenciar as políticas do próximo executivo de Pedro Sánchez, o que, dentro do mau, resulta positivo para uma formação política que sofre as dores de um movimento de rua que se institucionalizou como partido.
Para baixo
Pablo Casado
Se há um derrotado claro destas eleições espanholas é Pablo Casado. O Partido Popular não só obteve a sua pior votação de sempre, como se viu reduzido a menos de metade dos deputados que elegeu em 2016 (passou de 137 para 66). O único consolo de uma noite aziaga para o PP, e a que o partido se agarrou aferradamente, é o de se manterem como o maior partido da direita espanhola, evitando que o crescimento do Cidadãos se transformasse num pesadelo de dimensões cataclísmicas. Casado também está a pensar que, em 2015, Pedro Sánchez também não se demitiu quando o PSOE tinha tudo para ganhar e perdeu e hoje é primeiro-ministro.