Partido de extrema-direita tenta afastar o mais acutilante entrevistador político da Áustria
Armin Wolf fez uma pergunta que incomodou o cabeça de lista do FPÖ às eleições europeias, Harald Vilimsky. O político não respondeu mas avisou que a atitude do jornalista ia ter consequências.
Políticos do Partido da Liberdade (FPÖ, extrema-direita) sugeriram publicamente o afastamento de um dos mais famosos e acutilantes jornalistas de política da Áustria, Armin Wolf, pedindo que fosse suspenso da estação de televisão pública, ORF.
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Políticos do Partido da Liberdade (FPÖ, extrema-direita) sugeriram publicamente o afastamento de um dos mais famosos e acutilantes jornalistas de política da Áustria, Armin Wolf, pedindo que fosse suspenso da estação de televisão pública, ORF.
O responsável pelo conselho de supervisão da ORF – Norbert Steger, do FPÖ, que está no poder em coligação com o chanceler conservador Sebastian Kurz – sugeriu-lhe que tirasse uma “sabática”, a “custo dos contribuintes”, para “viajar pelo mundo e encontrar-se de novo a si mesmo”.
O problema recente do FPÖ com Wolf foi uma pergunta do jornalista ao cabeça de lista do partido às eleições europeias, Harald Vilimsky, em que Wolf mostrava um cartaz do partido com imigrantes muçulmanos e perguntava como é que esta representação era diferente da que era feita dos judeus pelo regime nazi. O responsável não respondeu à pergunta e ameaçou que havia “consequências”.
Wolf ganhou notoriedade com entrevistas muito bem preparadas e em que não desistia face a evasões dos entrevistados - uma espécie de versão austríaca do programa de entrevistas “Hard Talk” da BBC.
Algumas entrevistas foram marcantes. Uma por exemplo a Heinz-Christian Strache, hoje o “número dois”, do Governo, enquanto este era líder do FPÖ, em que Wolf tentou que Strache explicasse um cartoon anti-semita que este negava que tivesse algo a ver com judeus (Wolf levou várias ampliações do cartoon até que Strache já não conseguisse negar que havia estrelas de David nos botões de punho do banqueiro do cartoon que engordava à custa do povo). Ou ainda uma entrevista tensa a Vladimir Putin, em que questiona o líder russo sobre ligações a hackers ou a ligação a partidos anti-euro, pressionando-o ainda sobre provas do envolvimento russo na Ucrânia.
O partido Rússia Unida, do qual Putin foi o líder desde a fundação (agora é Dmitri Medvedev), tem um acordo de cooperação com o FPÖ que ninguém sabe exactamente o que implica. As ligações estreitas de Putin ao FPÖ (desde o acordo à presença do líder russo no casamento da ministra austríaca dos Negócios Estrangeiros) provocou mal-estar entre os parceiros europeus da Áustria, levando-os a cortar a partilha de informações dos serviços secretos.
Armin Wolf é ouvido em seminários e workshops sobre como entrevistar políticos populistas - num deles, na revista Der Spiegel, em Hamburgo, em 2016, contava como ao confrontar estes políticos com afirmações polémicas era essencial ter não só a impressão do jornal com a frase proferida como a gravação da frase pronta a ser reproduzida ao entrevistado para que este deixe de a poder negar - Wolf pedia mesmo aos colegas dos jornais as gravações quando necessário. Parece uma lição simples mas mesmo jornalistas experientes nem sempre a seguem: numa entrevista na CNN, a jornalista Christiane Amanpour confrontou a então candidata à Presidência francesa, Marine Le Pen, da Frente Nacional, com uma declaração sobre imigrantes e está negou tê-la feito (“O que é a hospitalidade? Aceitaria uma dúzia de clandestinos em sua casa, que lhe iam tirar o papel de parede, roubar o porta-moedas e agredir a sua mulher? Não, não aceitaria”). A produção encontrou mais tarde a declaração de Le Pen e pode assim provar a mentira de Le Pen - mas perdeu a oportunidade de a confrontar.
Wolf declarou que declinou a oferta da sabática. A mera sugestão provocou choque - o editor de política internacional da revista alemã Der Spiegel, Mathieu von Rohr, comentou: “Nunca imaginei que a liberdade de imprensa pudesse voltar a estar em perigo na Áustria”.