2017 bateu recorde de emissões de poluentes atmosféricos

Zero diz que Portugal tem de abandonar a produção de electricidade com recurso a carvão bem antes de 2030 e de fomentar uma floresta resiliente e multifunções

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A floresta é uma espécie de arma contra o monóxido de carbono Adriano Miranda

A Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável analisou os dados finais da Agência Portuguesa do Ambiente, a entidade responsável pela realização anual dos inventários de emissões de poluentes atmosféricos. E concluiu que, para que o cenário de 2017 não se repita, Portugal tem de abandonar a produção de electricidade com recurso a carvão bem antes de 2030 e de apostar numa floresta resiliente e multifunções.

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A Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável analisou os dados finais da Agência Portuguesa do Ambiente, a entidade responsável pela realização anual dos inventários de emissões de poluentes atmosféricos. E concluiu que, para que o cenário de 2017 não se repita, Portugal tem de abandonar a produção de electricidade com recurso a carvão bem antes de 2030 e de apostar numa floresta resiliente e multifunções.

Em comunicado, usa a expressão “desastre climático” para se referir a 2017. É o ano com maiores emissões associadas ao uso do solo e floresta desde que há registo (desde 1990): emissões positivas de 7,2 milhões de toneladas de dióxido de carbono-equivalente. E é também o terceiro com maiores emissões de gases de efeito de estufa: 77,8 milhões de toneladas de dióxido de carbono-equivalente.

Em 2017, houve duas grandes tragédias em Portugal. A primeira aconteceu no dia 17 de Junho. O incêndio deflagrou em Pedrógão Grande e propagou-se a concelhos vizinhos: 64 pessoas morreram, mais de 250 ficaram feridas. Já depois da época oficial de incêndios, as chamas devastaram 27 concelhos da região Centro. O saldo de 15 para 16 de Outubro é 45 mortos, cerca de 70 feridos.

Não foram os únicos sinistros que devastaram o território continental e insular nos meses mais quentes daquele ano. No total, as chamas consumiram 539.921 hectares, 329.514 dos quais povoamentos florestais. E esse é o valor mais elevado desde que há registo (1980). O mais próximo disso remetia para 2003 e para 2005, com 471.740 e 346.718 hectares, respectivamente.

Seca intensa 

Para isso, diz Francisco Ferreira, presidente daquela organização, terão contribuído diversos factores. Entre eles, as alterações climáticas. Recorde-se que o Outono de 2017 foi o mais seco dos 46 anos anteriores, com o valor médio da temperatura máxima do ar mais elevado dos 86 anos precedentes, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

A floresta é uma espécie de arma contra o monóxido de carbono. Não só produz oxigénio como retira da atmosfera grandes quantidades de CO2, que vai usando para crescer e reproduzir-se. Naquele ano, porém, a floresta portuguesa não conseguiu cumprir a sua típica função de sumidouro. Pelo contrário, assumiu o papel de emissor substancial de dióxido de carbono.

Os números não deixam margem para dúvida. Entre 2006 e 2016, houve uma média anual de retenção de dióxido de carbono pelo solo e florestas de 10 milhões de toneladas. Já em 2017, saltou-se de um valor negativo (sumidouro) para um valor positivo de 7,2 milhões de toneladas.

Extenso uso de carvão

O desastre não terminou aí. Por causa da seca, as hidroeléctricas produziram muitíssimo menos. E 2017 acabou por ser também o pior ano desta década em termos de emissões associadas à produção de electricidade. Tudo por causa do extenso uso de carvão, quer na central térmica de Sines, quer na do Pego, com emissões de 12,2 milhões de toneladas de dióxido de carbono.

Os números agora analisados pela Zero foram divulgados pela Agência Portuguesa do Ambiente. Respeitando os compromissos internacionais, todos os anos submete às Nações Unidas um inventário dos gases com efeito de estufa e outros poluentes atmosféricos. E é com base nessa informação que se define a quantidade atribuída a Portugal e se verifica o cumprimento das metas acordadas.

No entender de Francisco Ferreira, Portugal terá de se esforçar mais para cumprir o compromisso que assumiu de alcançar em 2050 a neutralidade carbónica, isto é, que as emissões de gases de efeito de estufa sejam idênticas ao carbono retirado pela floresta no nosso país. Até para garantir que uma situação como a de 2017 não se repete, o país tem de ir além das discussões políticas.

“A grande aposta tem de ser evitar o carvão”, considera aquele professor na área de ambiente na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. O país comprometeu-se a abandonar até 2030 a produção de electricidade com recurso ao uso de carvão. Deve fazê-lo “bem antes”. O caminho, aponta, são as energias renováveis e a melhoria de eficiência energética.

Os ambientalistas defendem também que é preciso passar das palavras à prática quando o assunto é fomentar uma floresta resiliente e multifunções. Não basta promover a reflorestação das áreas ardidas. É preciso garantir mais diversidade. “Temos de ter os pinheiros intermediados por outras espécies, os eucaliptos intermediados por outras espécies”, exemplifica Francisco Ferreira. “E é preciso uma política de prevenção de incêndios que permita ao país estar preparado para um clima que vai sendo mais quente”, remata.