Hoje celebramos a liberdade. E a conjugalidade
O género, construído pela sociedade e na interacção com o outro, nas nossas relações, é mantido através daquilo que as pessoas fazem, das suas acções. Quando as pessoas aceitam os papéis de género e as expectativas sociais, esta estrutura é reproduzida.
Desde 1974, assistimos a grandes transformações que mudaram profundamente a família e a forma como se vive a conjugalidade, nomeadamente as questões de género, a distribuição e a vivência do poder.
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Desde 1974, assistimos a grandes transformações que mudaram profundamente a família e a forma como se vive a conjugalidade, nomeadamente as questões de género, a distribuição e a vivência do poder.
A Constituição de 1933 declarava a igualdade dos cidadãos perante a lei, “com ressalvas, quanto à mulher”, devido às “diferenças resultantes da sua natureza e do bem da família”, sendo o marido considerado a principal autoridade, detendo o poder de decisão sobre os destinos da família: “O marido é o chefe da família, competindo-lhe nessa qualidade representá-la e decidir em todos os actos da vida conjugal comum (…)” (artigo 1674.º do Código Civil de 1966).
Após o 25 de Abril, o “poder marital” atribuído ao marido desapareceu e os cônjuges passam a ter os mesmos direitos e deveres, passando a direcção da família a pertencer ao casal.
Ocorreram mudanças históricas, sociais e culturais nas dinâmicas conjugais devido à alteração da lei, à descentralização do poder do homem no seio conjugal. A profissionalização da mulher tornou inevitável a constituição de uma esfera profissional diferenciada da esfera doméstica/familiar, transformou a sua imagem social e contribuiu para um modelo mais igualitário da distribuição de papéis e da divisão de tarefas no sistema conjugal. Contudo, através da literatura e da investigação, compreende-se que ainda permanecem diferenças no que se refere à distribuição das responsabilidades, sobretudo domésticas e parentais no seio conjugal, que estão ainda a cargo, principalmente das mulheres e mães.
O género parece continuar a ser um critério aceitável para legitimar a distribuição do poder inerente ao exercício dos papéis pessoais/familiares/profissionais. O género, construído pela sociedade e na interacção com o outro, nas nossas relações, é mantido através daquilo que as pessoas fazem, das suas acções. Quando as pessoas aceitam os papéis de género e as expectativas sociais, esta estrutura é reproduzida.
Compreendemos, por isso, que a partilha de poder numa relação conjugal implica que o casal desenvolva uma negociação activa dos papéis de género, a partilha da tomada de decisão e das tarefas familiares e domésticas. Todavia, parece que enquanto os nossos modelos mentais se afiguram como mais igualitários e produzem crenças e atitudes diferentes dos estereótipos de género que têm passado de geração em geração, as mudanças de comportamento não estão tão céleres. Numa actualidade repleta de notícias sobre violência doméstica e no namoro, é urgente intervir sobre as diferenças de género, bem como compreender o impacto positivo e preventivo da terapia de casal e/ou do acompanhamento psicológico.
Na terapia de casal é imprescindível atender às particularidades de cada indivíduo, de cada relação conjugal. Dada a importância da conjugalidade na vida dos seres humanos, é igualmente importante aceder às percepções e construções do casal acerca dos papéis de género, consciencializando-o para o facto de algumas delas estarem associadas a construções sociais/culturais.
Assim, será relevante perceber como é que os papéis de género influenciam a dinâmica conjugal, sensibilizando a díade para a importância do conhecimento e da valorização do outro e não tanto para o papel que, supostamente, este deve exercer dentro do casal e socialmente. Será então necessário intervir sobre a aliança conjugal no sentido de estabelecer parcerias que assegurem a satisfação, o respeito, a confiança, segurança, a intimidade e a reciprocidade.