Sete mortos em naufrágio em São Tomé. Não se sabe se há portugueses desaparecidos

Navio Amfitriti fazia ligação entre São Tomé e Príncipe. Foram resgatadas 55 pessoas com vida e as buscas pelos dez desaparecidos foram retomadas na manhã desta sexta-feira.

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As buscas para encontrar os dez desaparecidos na sequência do naufrágio do barco Amfitriti, ocorrido na quinta-feira em São Tomé e Príncipe, foram retomadas na manhã desta sexta-feira, disse à Lusa fonte do governo regional. Há um navio português a ajudar nas buscas, o NRP Zaire, com uma equipa de mergulhadores.

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As buscas para encontrar os dez desaparecidos na sequência do naufrágio do barco Amfitriti, ocorrido na quinta-feira em São Tomé e Príncipe, foram retomadas na manhã desta sexta-feira, disse à Lusa fonte do governo regional. Há um navio português a ajudar nas buscas, o NRP Zaire, com uma equipa de mergulhadores.

O navio-patrulha da Marinha portuguesa “permaneceu no local desde ontem [quinta-feira]”, disse o assessor de comunicação do gabinete do presidente do Governo regional do Príncipe, Teobaldo Cabral, à Lusa, mas só nesta sexta-feira é que os mergulhadores começaram a entrar dentro da embarcação no âmbito das operações de busca.

“É um mergulho que comporta algum risco. A embarcação está virada para baixo e não se sabe o estado dela”, disse o porta-voz do Estado-Maior General das Forças Armadas, o comandante Pedro Coelho Dias ao Jornal de Notícias.

O naufrágio do navio Amfitriti, que fazia a ligação entre as ilhas de São Tomé e do Príncipe, causou a morte de sete pessoas – quatro crianças e três adultos – e dez pessoas continuam desaparecidas. Foram resgatadas com vida 55 pessoas.

A dúvida sobre a existência de vítimas portuguesas permanece: na lista de passageiros há dois nomes que “efectivamente são portugueses”, continua o comandante Pedro Coelho Dias, “mas não é incomum haver nomes portugueses de são-tomenses, podendo dar-se o caso, até, de ser alguém com dupla nacionalidade”. “Há o testemunho de alguém que faz o check-in no barco e diz que não passaram por lá portugueses”, afirma ainda.

Também o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, diz que há dois nomes que poderão ser portugueses, “todavia, não é possível confirmá-lo porque não temos registo desses nomes nos nossos serviços consulares”, disse à agência Lusa, reforçando que as famílias ainda não tentaram contactar o consulado.

Existem listas oficiais de passageiros, mas, de acordo com os relatos, havia muitas pessoas dentro dos navios sem registo oficial.

Apesar das dúvidas, o presidente do Governo regional do Príncipe, José Cassandra, endereçou condolências ao Governo português e francês. “Ao povo português e aos familiares desses estrangeiros, manifestar a nossa total solidariedade”, disse o governante são-tomense.

Excesso de peso poderá ter sido a causa do naufrágio

As informações iniciais eram de que a embarcação teria naufragado devido ao excesso de peso, relata a RTP, salvaguardando, no entanto, que há informações que contrariam essa tese – como, por exemplo, que terá sido o vento a virar a embarcação.

Num balanço provisório na quinta-feira, relatado na edição portuguesa da Rádio França Internacional (​RFI), o presidente do Governo regional do Príncipe desmentiu a hipótese de sobrelotação do navio, afirmando que “o mau tempo e eventualmente uma má repartição do peso na embarcação” poderiam explicar o acidente.

Também segundo fonte da guarda costeira são-tomense, em declarações ao jornal digital Téla Nón na quinta-feira, a causa do “capotamento” da embarcação poderá ter sido “a turbulência marítima que comum nas imediações do ilhéu Boné de Jóquei, associada a algum desnível da carga que o navio transportava”.

O navio Amfitriti zarpou do porto de São Tomé com destino à cidade de Santo António e adornou já perto da ilha do Príncipe, afundando-se em seguida. A embarcação tinha capacidade para 250 passageiros sentados, além da carga. Transportava 64 passageiros e oito tripulantes, e ainda 212 toneladas de carga. 

O navio é habitualmente utilizado por residentes da ilha do Príncipe, que se deslocam à capital para fazer compras e era considerado um dos navios mais seguros para fazer a travessia entre as ilhas. 

O Governo são-tomense anunciou a abertura de um inquérito ao naufrágio do navio poucas horas depois do acidente. “Todas as medidas estão a ser tomadas para, em primeiro lugar, se encontrar rapidamente os desaparecidos e garantir toda a assistência aos sobreviventes, e, num segundo momento, se proceder à abertura imediata de um inquérito para se apurarem as causas deste trágico acidente e assacar as eventuais responsabilidades”, afirmou Jorge Bom Jesus.

“Em meu nome pessoal e do governo central, quero endereçar profundos sentimentos de pêsames às famílias enlutadas e a toda a população no geral, assegurando ao governo regional todo o apoio e solidariedade institucional que a situação impõe”, disse o chefe do Governo de São Tomé e Príncipe.

Três dias de luto

Também o presidente do governo regional do Príncipe, José Cassandra, afirmou que o naufrágio do navio Amfitriti “não pode ficar impune”, lamentando que a ilha venha sendo afectada por acidentes marítimos nos últimos anos.

“Eu quero apelar a toda a população do Príncipe para que estejamos unidos. Pensamos que essa tragédia não pode ficar impune, tem que se fazer um inquérito profundo para se apurar responsabilidades e actuar em conformidade”, disse na sua comunicação na cidade de Santo António, capital da ilha do Príncipe. O governante lamentou que os acidentes marítimos já se arrastem “há mais de 15 anos”, prejudicando a população da região.

O executivo regional reuniu-se de emergência durante a tarde, na sequência do acidente. Decretou três dias de luto e suspendeu as festividades do Dia da Autonomia da região, que se celebraria este fim-de-semana, adiantou fonte do presidente do governo regional.

O chefe do governo regional afirmou estar em “permanente comunicação” como o Presidente da República, Evaristo Carvalho, o presidente da Assembleia Nacional, Delfim Neves, bem como com o primeiro-ministro, que, referiu, “estão a acompanhar de perto a situação, manifestando a solidariedade total”, que agradeceu “de coração”.

A ilha do Príncipe comemora a partir deste fim-de-semana a festividade do 24.º aniversário da autonomia da região.

Terceiro incidente em dois anos

Este é terceiro acidente marítimo grave na ligação entre as duas ilhas. Há cerca de dois anos, o navio Ferro-Ferro desapareceu com pelo menos 12 passageiros e tripulantes, não se sabendo até hoje exactamente o que aconteceu.

Há cerca de dois meses, uma outra embarcação ficou à deriva no alto mar durante cerca de cinco horas, por falta de combustível, com mais de 51 passageiros a bordo.