Marcelo vê relações com China no “melhor momento” e defende cooperação com “dois sentidos”
Em Dezembro, o Presidente chinês esteve em Lisboa, numa visita de Estado.
O Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, que viaja para a China na quinta-feira para uma visita de Estado, considera que as relações luso-chinesas “atravessam porventura o melhor momento” e defende uma cooperação económica “com dois sentidos”.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, que viaja para a China na quinta-feira para uma visita de Estado, considera que as relações luso-chinesas “atravessam porventura o melhor momento” e defende uma cooperação económica “com dois sentidos”.
O chefe de Estado português, que há perto de cinco meses recebeu o Presidente da República Popular da China, Xi Jinping, em Portugal, afirmou nessa ocasião que os dois países podem também trabalhar em conjunto no plano internacional, incluindo pelos direitos humanos, pelo multilateralismo e pelo combate às alterações climáticas.
Marcelo Rebelo de Sousa qualificou este momento do relacionamento bilateral como “porventura o melhor de sempre na história”, antevendo um “futuro promissor”.
Já um ano antes, tinha dito que as relações luso-chinesas “atravessam porventura o melhor momento” e estão numa “nova fase” que é “qualitativamente muito mais rica do que as anteriores, e bem mais diversificada”
No final da visita de Estado de Xi Jinping, Marcelo Rebelo de Sousa enquadrou desta forma o relacionamento com a China: Portugal tem “aliados”, uns mais antigos e outros menos, e depois tem “amigos que não são aliados, mas podem ser parceiros”, como a China, referiu. “Nós sabemos distinguir entre aliados e amigos parceiros e sabemos colaborar com uns e com outros”, acrescentou.
No dia 4 de Dezembro, com o Presidente chinês ao seu lado, no Palácio de Belém, em Lisboa, o chefe de Estado português sustentou que, embora os dois países estejam “longe em termos geográficos” e tenham “aliados muito diferentes”, isso não impede um trabalho “em conjunto para a valorização do papel do directo internacional, das organizações internacionais, a começar nas Nações Unidas”.
“Nem de defender o multilateralismo, os direitos humanos, a resolução pacífica dos conflitos, nem de apoiarmos o livre comércio e as pontes de entendimento entre Estados e povos e estarmos em permanência atentos ao ambiente e às alterações climáticas”, completou.
Nessa noite, num jantar oficial oferecido ao Presidente chinês, Marcelo Rebelo de Sousa reiterou que gostaria de ver Portugal e China “com uma cooperação internacional em defesa dos valores do multilateralismo, do direito internacional, do Estado de direito, da paz, do desenvolvimento e dos direitos humanos”.
No plano bilateral, o Presidente português manifestou a vontade de ver os dois países “mais próximos no conhecimento dos seus povos, na educação, na ciência, na cultura”, salientando que pela parte portuguesa é rejeitada “uma visão mercantil” das relações entre os dois países.
No que respeita às relações económicas, em entrevista ao canal de televisão chinês internacional em língua inglesa, CGTN, divulgada na véspera da chegada de Xi Jinping a Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa contestou a ideia de “uma invasão chinesa”, contrapondo que “é bom para Portugal equilibrar o investimento estrangeiro” e que deve haver “uma cooperação com dois sentidos, não somente com um sentido”.
Portugal “também quer estar mais na China”, com “empresas portuguesas lá, a trabalhar nas infraestruturas, na energia também, nos sectores industrial, comercial, cultural”, realçou.
Em funções desde Março de 2016, Marcelo Rebelo de Sousa reagiu ao recente ambiente de “guerra comercial” entre Estados Unidos da América e a China opondo-se reiteradamente ao “proteccionismo” e falou publicamente em território norte-americano sobre o investimento chinês em Portugal.
“Defendemos, desde sempre, a entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC), que foi um processo longo e complexo, e defendemos que não haja neste momento entraves à livre circulação - que deve ser, naturalmente, dos produtos, como deve ser também das pessoas, mas aqui, concretamente, falando do proteccionismo comercial. Essa é a posição de Portugal, foi a posição de Portugal”, frisou, em Abril de 2018.
Num encontro com a Câmara de Comércio Luso-Americana, em Nova Iorque, em Setembro de 2016, o Presidente português disse que “os chineses perceberam que Portugal era uma boa porta de entrada na Europa” e investiram no sector energético e no sector financeiro, “mas ainda há possibilidades para o investimento americano ser estudado e negociado”.
“Na política e na economia não há vazios. Se se deixa um espaço vazio, alguém o preencherá. É sempre melhor ter aliados de há muito tempo a preencher espaço do que aliados recentes ou investidores recentes. Mas não podemos obrigar os investidores a investir, podemos convidá-los e criar boas oportunidades”, observou. No final desse mês de Setembro de 2016, o chefe de Estado português ratificou a participação de Portugal no Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (BAII), como membro fundador desta nova instituição proposta pela China.
Foi novamente em território norte-americano, num encontro com a comunidade portuguesa na Virgínia, em Junho de 2018, antes de se encontrar na Casa Branca com o Presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, que Marcelo Rebelo de Sousa anunciou que iria receber o Presidente da China em Portugal no final do ano.
No actual contexto global, o Presidente português tem elogiado o posicionamento da China face à União Europeia que, no seu entender, quer ver “unida, e não dividida” e com “um papel cada vez mais forte no mundo”, como contraponto “àqueles que querem a divisão europeia”.