Rui Mão de Ferro diz que mal conhecia José Sócrates
Arguido suspeito de ajudar ex-primeiro-ministro a lavar dinheiro alega que cumpriu ordens de Carlos Santos Silva mas que nunca foi seu testa-de-ferro.
Rui Mão de Ferro, um dos arguidos da Operação Marquês suspeitos de intermediar as transferências de dinheiro entre Carlos Silva e José Sócrates, garantiu esta terça-feira em tribunal que mal conhecia o ex-primeiro-ministro, só o tendo visto ao vivo uma única vez, na companhia daquele empresário.
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Rui Mão de Ferro, um dos arguidos da Operação Marquês suspeitos de intermediar as transferências de dinheiro entre Carlos Silva e José Sócrates, garantiu esta terça-feira em tribunal que mal conhecia o ex-primeiro-ministro, só o tendo visto ao vivo uma única vez, na companhia daquele empresário.
Ouvido no Tribunal Central de Instrução Criminal pelo juiz Ivo Rosa, este economista repetiu ainda algumas das coisas que já tinha dito às autoridades na fase de investigação do processo: que agiu sempre a mando de Carlos Santos Silva, nunca tendo equacionado a hipótese de estar a cometer qualquer ilegalidade. No fundo, disse, só cumpria ordens. Negou ter sido testa-de-ferro fosse de quem fosse.
Rui Mão de Ferro era sócio e gerente de várias empresas ligadas ao empresário amigo de José Sócrates, tendo suscitado a atenção do Ministério Público desde os primeiros tempos da investigação a Carlos Santos Silva e ao antigo líder do PS, ou seja, 2012. Está acusado dos crimes de falsificação de documento e branqueamento de capitais.
Segundo a acusação, terá recebido cerca de 400 mil euros como contrapartida para ser testa de ferro em várias transferências de dinheiro – que o arguido alega, porém, ter recebido a título de salários. Mas a convicção do Ministério Público é que a sua participação nestas sociedades tinha como objectivo dissimular a proveniência das luvas alegadamente pagas a José Sócrates, dinheiro que depois de branqueado era reintroduzido na chamada economia legítima.
“Aceitou que tais sociedades viessem a ser utilizadas para, a coberto de circuitos de facturação e de contratos de conveniência, sem correspondência com a realidade, receber quantias pecuniárias obtidas através da prática de crime e realizar pagamentos com as mesmas a terceiros, segundo indicações recebidas de Carlos Santos Silva e, por via deste, de José Sócrates”, defende o Departamento Central de Investigação e Acção Penal.
O livro de Sócrates
Os investigadores acusam ainda o economista de ter sido uma das pessoas a que recorreu Santos Silva para efectuar as aquisições em massa do livro do ex-primeiro-ministro A Confiança no Mundo. Terá comprado exemplares em livrarias quer de Lisboa quer de Braga. Só numa dessas ocasiões terá adquirido 35 livros.
Durante a investigação, o Ministério Público apurou ainda que ao longo de oito meses aquele que defende ter sido o verdadeiro autor da tese do ex-primeiro-ministro, o professor universitário Domingos Farinho, terá recebido 4000 euros mensais de uma empresa de Rui Mão de Ferro. O contrato de prestação de serviços de apoio e assessoria na área jurídica estabelecido entre Farinho e a RMF Consulting vigorou entre Janeiro e Agosto de 2013. Ou seja, o escritor-fantasma terá recebido 40 mil euros pelo seu trabalho.
Esta quarta-feira será ouvido no Tribunal Central de Instrução Criminal outro arguido, o advogado Gonçalo Trindade Ferreira, que será interrogado a pedido de Rui Mão de Ferro.