Arbitragem: fugas de informação, as origens e as soluções
O assunto do momento em termos de arbitragem é efectivamente esta “fuga de informação” no que à divulgação das nomeações diz respeito, algo que nesta fase final do campeonato acrescenta um ruído nada saudável e traz de novo à tona os eternos climas de suspeição que giram em torno do sector. Hoje gostava de reflectir sobre este assunto em duas vertentes: fazendo o enquadramento das nomeações, pelo facto de não serem logo tornadas públicas, e adiantando uma breve explicação dos aspectos burocráticos que envolvem este processo, desde a nomeação à chegada do árbitro ao estádio para onde foi nomeado.
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O assunto do momento em termos de arbitragem é efectivamente esta “fuga de informação” no que à divulgação das nomeações diz respeito, algo que nesta fase final do campeonato acrescenta um ruído nada saudável e traz de novo à tona os eternos climas de suspeição que giram em torno do sector. Hoje gostava de reflectir sobre este assunto em duas vertentes: fazendo o enquadramento das nomeações, pelo facto de não serem logo tornadas públicas, e adiantando uma breve explicação dos aspectos burocráticos que envolvem este processo, desde a nomeação à chegada do árbitro ao estádio para onde foi nomeado.
Desde cedo que se percebeu que um sector como a arbitragem, quanto mais fechado for e secretismo tiver, maior será o ruído e a especulação causados, daí que “abrir as portas” e tornar público o que se faz e como se faz é, de uma maneira geral, muito mais proveitoso para a imagem do sector. Dentro dessa linha, as nomeações do Conselho de Arbitragem (CA) desde há muito tempo que eram tornadas públicas no mesmo dia em que eram enviadas para os árbitros. O que este CA, a dado momento, constatou foi que face ao período de tempo que mediava entre o dia da nomeação e o jogo propriamente dito, os árbitros e respectivas famílias começaram, quer pelas redes sociais, quer em alguns casos de forma presencial, a serem ameaçados e coagidos. Nesse sentido, foi pensado protegê-los tornando secreta a divulgação dos nomeados, que são divulgados apenas no dia do próprio jogo.
O facto é que esta medida veio a revelar-se positiva, pois nunca mais essas ameaças e coacções ocorreram, regressando assim uma paz aparente ao sector até ao dia do jogo. Mais: as especulações e críticas feitas nos mais diversos órgãos de comunicação social, assim como da parte dos clubes em relação aos árbitros nomeados, deixaram de ter espaço e tempo nas conversas.
O panorama, contudo, mudou radicalmente e passou a ser assunto a divulgação da folha oficial dos nomeados ainda antes de ser tornada pública. Conclusão: todo o sector voltou a ser descredibilizado por causa desta fuga de informação, passando de novo a haver um clima de desconfiança. No meu ponto de vista, e uma vez mais muito bem, o CA tomou uma medida que vai acabar com esta discussão e torná-la num “não assunto”, passando de novo a divulgar de forma atempada as nomeações.
Só espero, que em simultâneo, sejam tomadas medidas preventivas no sentido de os árbitros que forem nomeados para os jogos dos “ditos grandes” sejam apoiados e protegidos, pois neste momento e contexto do futebol português, é importante ser-se proactivo.
Esta fuga de informação, porém, é possível de acontecer, porque entre a nomeação e a ida para o jogo existem várias entidades envolvidas no processo logístico e burocrático. Basta perceber que a equipa de arbitragem, quando recebe a nomeação, tem de enviar de volta, em função do dia e hora do jogo, um plano de viagem, que contempla (entre outras coisas) a hora a que a empresa que conduz os árbitros vai buscar cada um dos elementos, ou seja, tanto a Liga, como a empresa que transporta, como o próprio motorista destacado, ficam a saber os nomes dos árbitros. Depois é só enquadrar isso com os horários dos jogos e é fácil relacionar o nome com a nomeação. E se o jogo for nas ilhas, há bilhetes de avião a comprar com a designação nominal, assim como os transportes terrestres a utilizar após a aterragem, entrando neste processo também as unidades hoteleiras onde ficam alojados.
Para além disso, como os árbitros não são profissionais e muitos trabalham por conta de outrém, basta um árbitro ser nomeado para um jogo à sexta-feira ou à segunda-feira para fazer com que tenha de pedir dispensa no seu trabalho — logo, patrão e colegas ficam a saber para onde vai.
Ou seja, são muitas as possibilidades de fuga de informação, por isso não me espanta nada que, no meio deste processo, escapem as nomeações. De qualquer forma, fez bem o presidente do CA ao tentar resolver, nas instancias próprias, um problema que poderia ganhar maior dimensão. E se, por um mero acaso, se vier a comprovar que esta fuga de informação surgiu de dentro do próprio sector, que sejam tomadas medidas exemplares.