Ex-primeiro-ministro turco Davutoglu critica Erdogan e o seu partido

Foi empurrado para fora do cargo de primeiro-ministro de Erdogan, onde parecia de pedra e cal. Agora, Davutoglu é o primeiro rosto do AKP a criticar abertamente o Presidente.

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Ahmet Davutoglu Dado Ruvic/Reuters

Um antigo primeiro-ministro e aliado próximo de Erdogan, Ahmet Davutoglu, criticou duramente as políticas do Presidente turco e o seu Partido Justiça e Desenvolvimento, atribuindo-lhe as culpas pelo mau resultado nas eleições locais de Março.

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Um antigo primeiro-ministro e aliado próximo de Erdogan, Ahmet Davutoglu, criticou duramente as políticas do Presidente turco e o seu Partido Justiça e Desenvolvimento, atribuindo-lhe as culpas pelo mau resultado nas eleições locais de Março.

O partido, cuja sigla em turco é AKP, foi derrotado nas principais cidades, entre elas Ancara e Istambul.

Davutoglu, é membro do AKP e deixou o cargo de primeiro-ministro há três anos, após uma crise com Erdogan. O cargo foi entretanto extinto, com a concentração de poderes nas mãos do Presidente da nova Constituição. Agora, disse que o mau resultado eleitoral se deveu à política económica do partido no poder e às restrições à comunicação social, e falou ainda dos danos à separação poderes e às instituições turcas.

Davutoglu foi primeiro-ministro entre 2014 e 2016. Foi afastado por Erdogan, que queria abrir caminho para concentrar os poderes de chefe de Estado e de Governo. 

Num sério revés para o Presidente - que só Davutoglu criticou publicamente -, O AKP perdeu o controlo da capital e da maior cidade turca nas eleições de 31 de Março. Há 25 anos que o partido de Erdogan e os seus antecessores islamistas governavam as duas cidades.

“Os resultados das eleições mostram que políticas de aliança prejudicaram o nosso partido, quer no número de eleitores quer na identidade do partido”, disse Davutoglu num documento de 15 páginas agora divulgado. 

O AKP e o Partido do Movimento Nacionalista (MHP, extrema-direita) formaram uma aliança antes das eleições presidenciais e legislativas de Junho de 2018. Erdogan venceu-as, mas viu cair o apoio ao seu partido.

Davutoglu disse que a génese reformista e liberal do partido foi substituída nos últimos anos por uma abordagem mais estática, ancorada num Estado securitário, o que foi motivado pela preocupação de preservar o status quo.

Considera ainda que decisões económicas tomadas recentemente mostram um afastamento dos princípios do mercado livre, quando “afastar o investimento global necessário ao desenvolvimento do país é um beco sem saída”.

A economia turca entrou em recessão no último trimestre de 2018 depois de uma crise monetária que desvalorizou a lira em 35%.

“A única razão da crise económica é a crise administrativa”, acusou Ahmet Davutoglu. “A confiança na administração desaparece se as decisões de política económica estão fora da realidade”.

Nos últimos anos tem havido especulação na imprensa turca de que algumas das principais figuras do AKP podem sair do partido para criar uma nova formação. Davutoglu não faz qualquer referência a essa possibilidade.

Em vez disso, sublinha a necessidade de reformas: “Peço aos dirigentes do nosso partido para ponderarem todas estas questões e pensarem no futuro com sensibilidade e cabeça fria”.