Dia Mundial do Livro: Contra a ignorância, marchar, marchar

Uma manifestação a favor da leitura assinala em Lisboa o Dia Mundial do Livro. A marcha parte, nesta terça-feira, às 14h30, da Praça Luís de Camões. Leituras, música e artes performativas entram na festa

Foto
Andre Rodrigues/Arquivo

Porque a “leitura é uma boa causa”, porque “não ler não é opção” e porque “não se pode dar a democracia por adquirida”, a comissária do Plano Nacional de Leitura 2027, Teresa Calçada, convida “todos os que gostam de livros, leitura e palavras” a manifestarem-se no Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor, que se comemora a 23 de Abril.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Porque a “leitura é uma boa causa”, porque “não ler não é opção” e porque “não se pode dar a democracia por adquirida”, a comissária do Plano Nacional de Leitura 2027, Teresa Calçada, convida “todos os que gostam de livros, leitura e palavras” a manifestarem-se no Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor, que se comemora a 23 de Abril.

Foto

“ManiFESTA-te pela leitura” foi o nome dado ao desfile, em que se destaca propositadamente a palavra “festa”, e que partirá, às 14h30 desta terça-feira, da Praça Luís de Camões rumo aos Armazéns do Chiado, com a participação de artistas e músicos do Chapitô. Na divulgação, fala-se num “momento festivo de celebração do livro, dos autores e dos leitores”.

A marcha irá contar com a presença de alunos e professores já mobilizados, mas não se resume aos estudantes e ao ensino, “é uma causa de todos nós”, diz Teresa Calçada ao PÚBLICO, lembrando que nesta fase do Plano Nacional de Leitura (PNL) “se valoriza bastante a formação e cultura dos adultos”. Acrescenta ainda: “Nós não damos o exemplo aos mais novos, não temos atitudes leitoras.”

Traz um livro também

A comissária do PNL aplaude a leitura “de qualquer tipo e em qualquer suporte” e acredita que “ler é o melhor do mundo”. Realça ainda o desejo de “dar a ler” por parte de quem experimentou “o sabor da leitura literária”. Para concluir: “Ler é algo que não se pode perder.”

Ainda que se possa ler em vários suportes, Teresa Calçada diz não se envergonhar de dizer: “Viva o livro em papel!” Por isso convida os participantes a levar um livro para a manifestação. A organização irá erguer o “simulacro de um livro, com algo escrito como ‘eu leio’ ou ‘eu sou o que leio’”, antecipa.

Pediram aos miúdos que fizessem cartazes com frases à sua escolha e realçando aspectos particulares da leitura. E porque se trata de uma manifestação, “haverá um megafone” e os manifestantes terão à disposição na Praça Luís de Camões canetas, sprays, cartões e demais materiais para que possam criar os seus próprios cartazes.

“Sabemos que as pessoas se inibem, mas não podemos dar a democracia por adquirida”, diz aquela responsável, formada em Filosofia, e que escolheu para o seu cartaz a frase “abaixo a ignorância”. Argumenta ainda: “Temos de saber escolher e validar as nossas leituras, sem nos envergonharmos.”

Honrar bibliotecas e livrarias

Teresa Calçada, que esteve na origem da criação das redes de bibliotecas municipais e escolares, lembra como estas continuam a ser imprescindíveis: “Pensa-se que basta o Google e já está. Mas não. Ainda que seja útil e os bibliotecários o usem — e fazem bem —, não basta.”

Nesta marcha, o PNL quer também honrar as livrarias, “que, mesmo com muitas dificuldades, não desistem de fazer chegar o livro aos leitores, com muitas variedades e possibilidades”. Por isso haverá breves paragens para leituras em livrarias de natureza diferente: BD Mania, Bertrand, Férin e Fnac Chiado. Autores, editores e livreiros escolherão textos, inéditos ou não, para dar a conhecer aos manifestantes.

Ainda na Praça Luís de Camões, poder-se-á escutar um pouco d’ Os Lusíadas, pela voz do actor e encenador António Fonseca; mais adiante, será a vez de se ouvir o escritor José Luís Peixoto, a editora e proprietária do café literário Menina e Moça, Cristina Ovídio, entre outros profissionais do livro e da leitura.

Pelo caminho, além de breves apontamentos musicais, haverá uma pequena peça, interpretada por actores do Chapitô, “trata-se uma elegia à leitura”, diz Teresa Calçada.

À chegada ao Chiado, nova performance do Chapitô e um jovem a ler da janela dos armazéns. Seguir-se-á uma breve saudação do secretário de Estado da Educação, João Costa, e da própria Teresa Calçada. Aí, os manifestantes serão informados de que no fórum da Fnac haverá uma conversa sobre o livro e que jovens do ensino secundário prosseguirão com leituras no café Menina e Moça (Cais do Sodré).

“Ler ou não ler não é questão”

O Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor foi instituído pela Unesco em 1995 e, como se descreve no site da Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, “pretende promover o livro, os autores, os ilustradores e os editores. Esta data foi escolhida com base na tradição catalã segundo a qual, neste dia, os cavaleiros oferecem às suas damas uma rosa vermelha de S. Jorge e recebem em troca um livro, testemunho das aventuras do heróico cavaleiro. Em simultâneo, é prestada homenagem à obra de grandes escritores, como Shakespeare e Cervantes, falecidos em Abril de 1616”.

A esse propósito, Teresa Calçada invoca o autor de Hamlet e da famosa frase “ser ou não ser, eis a questão”, adaptando-a: “Ler ou não ler não é questão.” Para ela, “não ler não é opção”.