Doentes faltam 600 vezes por dia nos hospitais de Santa Maria e Pulido Valente
Média diária aponta para mais de 550 consultas não dadas nestes centros hospitalares lisboetas.
Mais de 135 mil consultas não foram realizadas porque os doentes faltaram no ano passado só no Centro Hospitalar Lisboa Norte, uma tendência que tem crescido nos últimos anos.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Mais de 135 mil consultas não foram realizadas porque os doentes faltaram no ano passado só no Centro Hospitalar Lisboa Norte, uma tendência que tem crescido nos últimos anos.
Dados do Centro Hospitalar que engloba o Santa Maria e o Pulido Valente, a que a agência Lusa teve acesso, mostram que as consultas não realizadas por falta do doente representam mais de 15% do total de 700 mil consultas feitas em 2018 naqueles hospitais.
Em média, por dia, o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN) tem cerca de 600 consultas por dia que não são feitas porque os doentes não comparecem, se forem descontados os fins-de-semana, altura em que não há consultas externas.
Comparando, por exemplo, com as consultas não realizadas por motivo de greve em 2018 (um total de 2.262), as que não aconteceram por falta do doente são cinquenta vezes mais.
O presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar assume que é “um número muito elevado” o das consultas perdidas porque o doente não comparece e recorda que geralmente não há aviso prévio por parte do utente.
Em declarações à Lusa, Carlos Martins adianta que já foi criado dentro do CHULN um grupo para estudar esta questão e que deve, até ao final deste semestre, apresentar propostas para melhorar a forma de comunicação com os cidadãos.
O administrador reconhece que “nem sempre as falhas serão apenas do cidadão” e admite que seja necessário criar mecanismos mais eficazes de contacto para as consultas, de forma que os utentes não se esqueçam da marcação, por exemplo.
“Vamos ter que repensar o nosso “contact center” e a formação de recursos humanos para termos profissionais dedicados a esta missão de contacto”, acrescentou.
O sistema de aviso por mensagem telefónica ou por email são alguns dos exemplos de avisos aos utentes, mas Carlos Martins recorda que há uma população “com média etária elevada” e que o contacto telefónico não pode também ser esquecido.
O Centro Hospitalar acrescenta ainda que a partir da segunda falta sem aviso já não é remarcada automaticamente nova consulta.
Os dados das consultas a que os doentes faltaram mostram que nos últimos três anos houve uma tendência de subida e que as especialidades com mais faltas se mantêm as mesmas.
Dermatologia, psiquiatria e saúde mental, pediatria médica, oftalmologia e pneumologia são os cinco serviços com maior número de consultas não realizadas por falta dos doentes.
Os serviços que têm apresentado menor número de faltas dos doentes são a cirurgia cardiotorácica, a neonatologia, a cirurgia torácica, o serviço de medicina e a radioterapia.
Os números têm vindo a subir desde 2016, pelo menos. Entre 2016 e 2017 as consultas não realizadas por falta do doente no CHULN subiram 6% e entre 2017 e 2018 voltaram a crescer quase 3%.
Dados do primeiro trimestre deste ano, indicam que o peso de consultas não realizadas por ausência do doente permanece com um peso de 15,5%.
Nos primeiros três meses deste ano houve já mais de 34 mil consultas não realizadas por falta dos utentes nos hospitais Santa Maria e Pulido Valente, o que significa uma média diária de mais de 550 consultas não dadas.