Fantasma do “poucochinho” aflige muito o PS
Equipa de Pedro Marques pede às concelhias para aparecerem “pelo menos aos sábados” na campanha e a enviarem a “reportagem fotográfica” para o Largo do Rato. Partido festeja os 46 anos com o cabeça de lista nos nos Açores.
Em apenas três meses, Pedro Marques desperdiçou a vantagem com que partiu para o combate das eleições europeias de 26 de Maio. O PS continua a cair nas intenções de voto enquanto o PSD sobe, mostrando que aquilo que parecia uma caminhada confortável para a candidatura de Pedro Marques passou a ser uma disputa renhida pela vitória entre o socialista e o social-democrata Paulo Rangel.
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Em apenas três meses, Pedro Marques desperdiçou a vantagem com que partiu para o combate das eleições europeias de 26 de Maio. O PS continua a cair nas intenções de voto enquanto o PSD sobe, mostrando que aquilo que parecia uma caminhada confortável para a candidatura de Pedro Marques passou a ser uma disputa renhida pela vitória entre o socialista e o social-democrata Paulo Rangel.
O estudo de opinião Aximage desta quinta-feira, para o Jornal de Negócios e Correio da Manhã, atribui 33,5% das intenções de voto à lista do PS e 31,1% à do PSD. Há uma semana, o barómetro da Aximage dava ao PS 34,6% das intenções de voto e ao PSD 27,3%, números que já evidenciam uma tendência de descida continuada do PS nas intenções de voto.
Acontece que na sondagem desta quinta-feira os dois partidos aparecem praticamente empatados e, a confirmarem-se estas percentagens, socialistas e sociais-democratas podem eleger oito eurodeputados cada. Ou seja, o PS manteria o mesmo número de representantes, um resultado demasiado curto para as expectativas do partido; já o PSD iria conquistar um eurodeputado, por comparação com as eleições europeias de 2014, ano em que os sociais-democratas concorreram coligados com o CDS.
O empate técnico que resulta da sondagem desta quinta-feira deixou o PS desorientado, consciente de que o caso familygate teve peso na queda do partido nos estudos de opinião. Por outro lado, estes indicadores, a pouco mais de um mês das europeias, sugerem uma vitória apenas por “poucochinho”, que só não desagradará à franja do partido que nunca deixou de ser fiel ao antigo secretário-geral, António José Seguro, que, refira-se, tem mantido um grande distanciamento em relação à vida do partido. Em 2014, Costa justificou a decisão de disputar o cargo a Seguro com o argumento de que o PS não podia aceitar como boa a vitória “por poucochinho” obtida nas europeias.
“O ambiente no partido está muito pesado por causa desta sondagem”, confidenciava nesta quinta-feira ao PÚBLICO fonte socialista, adiantando que António Costa se prepara para fazer uma “limpeza nos gabinetes ministeriais, afastando primos, primas, tios, tias…depois das eleições europeias”, numa tentativa de arrumar a casa antes do combate das legislativas.
Até lá, o partido tenta passar uma imagem de unidade e de mobilização que, contudo, não é visível na pré-campanha das europeias. A pré-campanha de Pedro Marques começou cedo, em meados de Fevereiro, e tem sido muito activa, com deslocações, intervenções e jantares por todo o país, mas, ao mesmo tempo, assiste-se a uma fraca participação do partido e de figuras com peso político nas iniciativas.
Conforme o PÚBLICO escrevia esta segunda-feira, basta espreitar a conta do Twitter do candidato para esta ausência ficar clara. Deve ser por isso, que a direcção de campanha recomendou às concelhias do PSque marquem presença nas iniciativas de campanha de Pedro Marques “pelo menos aos sábados” e que façam “reportagem fotográfica” do evento, enviando-a posteriormente para o Largo do Rato. O recado foi entendido e há quem já esteja a publicar a “reportagem fotográfica” no seu Facebook, mostrando estar alinhado com a escolha do secretário-geral do partido para as europeias.
“Reportagem fotográfica”
João Azevedo, director de campanha de Pedro Marques, recusa a ideia de que o partido está pouco envolvido na campanha e contrapõe que, em Fevereiro, aquando da apresentação a candidatura, em Vila Nova de Gaia, “o PS estava exemplarmente presente nessa acção”. “Como é que o PS pode estar fora de uma candidatura que é sua? Já estivemos em concelhos como Felgueiras, Paredes, Lousada, Melgaço, Braga, Cabeceiras de Bastos, Gaia, Matosinhos…Andamos a percorrer toda a latitude e longitude das nossas gentes, ou seja, continentes, ilhas e diáspora”, reforça João Azevedo, também presidente da Câmara de Mangualde. Outra fonte socialista ligada à candidatura acrescenta mais uma mão-cheia de concelhos ao rol: Serpa, Portimão, Macedo de Cavaleiros, Póvoa de Varzim, Gondomar…
Ao PÚBLICO, o director de campanha diz não se impressionar com sondagens, preferindo “aguardar com serenidade” o resultado das eleições. “Nós sabemos o que estamos a fazer, estamos a trabalhar de forma profissional”, afirma João Azevedo, convicto de “nunca se fez uma campanha europeia assim”, onde tudo se joga “na proximidade das pessoas”.
“O exercício do Governo português é um exemplo para a Europa e nós queremos passar a mensagem de que podemos replicar na Europa o exemplo do Governo, que tem excelentes resultados”, defende o socialista, negando, uma vez mais, a falta de envolvimento das estruturas do partido na candidatura.
Esta segunda-feira o PS comemora o seu 46.º aniversário (o partido foi fundado a 19 de Abril de 1973) com um jantar no Centro de Congressos de Lisboa, tendo como figura de cartaz o secretário-geral, António Costa. Mas o cabeça de lista às europeias não poderá aproveitar esse palco: nessa altura estará a fazer campanha em Angra do Heroísmo, nos Açores. Fonte socialista explicou que este ano o partido decidiu realizar uma dupla jornada comemorativa do aniversário: uma em Lisboa; e outra nos Açores.
Numa altura em que são conhecidas queixas da parte do estado-maior de Pedro Marques de “total ausência de combate político” no PS, há socialistas a criticar a ausência do cabeça de lista às europeias no jantar comemorativo em Lisboa, e a aposta em Angra do Heroísmo, onde o PS venceu à vontade em 2014, com 41% e 3157 votos. Mas outra fonte socialista contrapõe que não há aqui qualquer desorientação: “É uma iniciativa com uma simbologia política”, disse ao PÚBLICO, recordando que o PS deve aproveitar o facto de, nestas eleições para o Parlamento Europeu, o PSD-Açores não contar com nenhum representante – Rui Rio não assegurou um lugar elegível a Mota Amaral e o PSD-Açores decidiu não indicar ninguém.