Relatório Mueller é divulgado hoje, com passagens censuradas
Documento com 400 páginas vai ser enviado ao Congresso esta tarde e depois será publicado online. Investigação do procurador Robert Mueller sobre suspeitas de conspiração entre a campanha de Trump e a Rússia durou 22 meses.
O Departamento de Justiça dos EUA vai enviar ao Congresso norte-americano, esta quinta-feira, as 400 páginas do relatório sobre as suspeitas de conspiração entre a campanha eleitoral de Donald Trump e a Rússia nas eleições de 2016. Espera-se que o relatório tenha muitas passagens censuradas, por questões legais, e que o Partido Republicano e o Partido Democrata reforcem as suas posições em defesa e contra o Presidente Trump.
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O Departamento de Justiça dos EUA vai enviar ao Congresso norte-americano, esta quinta-feira, as 400 páginas do relatório sobre as suspeitas de conspiração entre a campanha eleitoral de Donald Trump e a Rússia nas eleições de 2016. Espera-se que o relatório tenha muitas passagens censuradas, por questões legais, e que o Partido Republicano e o Partido Democrata reforcem as suas posições em defesa e contra o Presidente Trump.
O documento vai chegar ao Senado e à Câmara dos Representantes entre as 11h e as 12h (hora em Washington D.C., entre as 16h e as 17h em Lisboa). E será publicado online, acessível a qualquer pessoa, até ao final do dia.
Mas antes disso, às 9h30 locais (14h30 em Lisboa), o responsável pelo Departamento de Justiça, o attorney general William Barr, vai falar sobre o relatório numa conferência de imprensa.
Até agora, o que se conhece do relatório final do procurador especial Robert Mueller é um sumário de quatro páginas que o attorney general e o seu adjunto publicaram há quase um mês, no dia 24 de Março.
Nesse sumário, William Barr disse que os 22 meses de investigação da equipa de Mueller resultaram em duas grandes conclusões: não foram encontradas provas de conspiração entre Donald Trump e a Rússia; e os indícios de obstrução da Justiça por parte do Presidente norte-americano, que foram recolhidos durante as investigações, não permitem chegar a nenhuma conclusão.
“Apesar de este relatório não concluir que o Presidente cometeu um crime, também não o exonera”, escreveu o responsável máximo do Departamento de Justiça no seu sumário do relatório de Robert Mueller.
A grande questão
A divulgação do documento, com várias partes censuradas, vai servir para que o Partido Democrata perceba o que quis o procurador especial dizer ao deixar em aberto a questão da obstrução da Justiça – não acusou o Presidente norte-americano porque o Departamento de Justiça tem como política, há décadas, não acusar formalmente um Presidente em exercício, e as leis sobre obstrução da Justiça são sujeitas a várias interpretações; ou acredita ter encontrado exemplos de graves falhas éticas e indignas de um Presidente, embora não sejam necessariamente actos criminosos segundo as leis do país?
É a resposta a esta questão que vai guiar a estratégia do Partido Democrata nos próximos tempos, numa altura em que a campanha eleitoral para as Presidenciais de 2020 começa a fazer parte dos cálculos políticos nos EUA.
Antes da divulgação do relatório, os congressistas do Partido Democrata apontaram baterias ao attorney general, por ter decidido falar sobre o documento numa conferência de imprensa.
O presidente da Comissão de Assuntos Judicias da Câmara dos Representantes, Jerry Nadler, acusou William Barr de estar a preparar o terreno para que a opinião pública fique com uma ideia geral das conclusões antes de os jornais – e o próprio Partido Democrata – terem tempo para analisar o documento.
“O attorney general Barr disse-me no dia 1 de Abril: ‘Acho que não seria do interesse público que eu tentasse resumir o relatório.’ Então, porque é que vai fazer uma conferência de imprensa para falar sobre o relatório Mueller?”, questionou o congressista no Twitter.
Para além da conferência de imprensa, Nadler disse que está “profundamente preocupado” com a notícia de que a Casa Branca foi informada sobre o relatório antes da sua entrega ao Congresso.
O sumário de quatro páginas feito por William Barr em Abril também levantou dúvidas ao Partido Democrata – e, segundo o New York Times e o Washington Post, alguns elementos da equipa do procurador Mueller dizem que o resumo deixou de fora partes muito importantes e prejudiciais para o Presidente Trump.
Robert Mueller, um antigo director do FBI muito respeitado nos dois partidos, foi nomeado procurador especial em Maio de 2017, depois de Trump ter despedido o então director do FBI, James Comey. A sua tarefa era liderar uma investigação do Departamento de Justiça às suspeitas de conspiração entre a campanha eleitoral de Donald Trump e a Rússia.
A nomeação de Mueller irritou o Presidente Trump, que acusou o então attorney general, Jeff Sessions, de a ter facilitado ao afastar-se das investigações – Sessions tinha conversado várias vezes com o embaixador russo em Washington, em 2016, quando era um dos mais destacados responsáveis da campanha eleitoral de Trump.
Depois da demissão de Jeff Sessions, em Novembro de 2018, o Presidente Trump escolheu William Barr para o cargo de attorney general (uma espécie de ministro da Justiça e procurador-geral ao mesmo tempo). Antes da sua nomeação, Barr defendeu publicamente a ideia de que a investigação sobre obstrução da Justiça por parte do Presidente é “asinina”.
Posições reforçadas
Como o relatório final terá várias passagens censuradas, é provável que o Partido Democrata continue a exigir ter acesso ao documento na íntegra – e é possível que o venha a fazer nos tribunais, contestando a autoridade do Departamento de Justiça para recusar uma ordem do Congresso. E as investigações sobre as suspeitas de obstrução da Justiça vão prosseguir em várias comissões da Câmara dos Representantes, onde o Partido Democrata está em maioria.
Também é provável que o Partido Republicano se mantenha ao lado do Presidente Trump após a divulgação do relatório, não sendo esperadas revelações sensacionais e muito diferentes das que foram sendo feitas pelos jornais nos últimos dois anos, e que não foram suficientes para que o partido se afastasse de Trump – como, por exemplo, as reuniões com representantes russos, os negócios imobiliários em Moscovo durante a campanha eleitoral e a proximidade de figuras como Michael Flynn ou Paul Manafort à Rússia.