Serviço militar dos ultra-ortodoxos cria dificuldade a Netanyahu para formar Governo

Netanyahu foi mandatado para formar Governo, mas o primeiro obstáculo surgiu mesmo antes do início formal das negociações entre os partidos de direita e de direita radical, nacionalista e religiosa.

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O Presidente fez uma não muito velada crítica a Netanyahu: "Acabou o 'nós e eles'" RONEN ZVULUN/Reuters

Benjamin Netanyahu está a enfrentar o primeiro desafio para a formação de um governo para o qual recebeu a maioria das recomendações necessárias para o Presidente o encarregar de formar governo: um desacordo entre dois potenciais parceiros de coligação sobre o serviço militar obrigatório dos ultra-ortodoxos em Israel.

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Benjamin Netanyahu está a enfrentar o primeiro desafio para a formação de um governo para o qual recebeu a maioria das recomendações necessárias para o Presidente o encarregar de formar governo: um desacordo entre dois potenciais parceiros de coligação sobre o serviço militar obrigatório dos ultra-ortodoxos em Israel.

Esta foi precisamente a questão que levou o primeiro-ministro israelita a antecipar as eleições, depois de uma divisão no Governo. Netanyahu marcou as eleições convencido de que as venceria, mas acabou por ficar empatado com o partido recém-criado do antigo chefe do Exército Benny Gantz. No entanto um bloco do Likud, de Netanyahu, com vários partidos desde o centro-direita até à direita radical e religiosa conseguiu ter uma maioria de votos.

Mas para essa maioria se traduzir numa coligação é preciso que consigam um acordo. E ainda antes de começarem as negociações formais, já dois dos partidos diziam que se tivessem de escolher entre ceder e ir de novo a eleições, escolheriam ir de novo a eleições.

A questão do serviço militar dos ultra-ortodoxos (haredim) está longe de ser nova. Na altura da fundação do Estado de Israel, David Ben-Gurion, o primeiro chefe de governo do país, concedeu aos estudantes das yeshivas (escolas religiosas) a possibilidade de não terem de fazer serviço militar. Existem apenas duas excepções em Israel: uma é a dos haredim, a outra dos árabes israelitas.

O serviço militar em Israel é de quase três anos para homens e dois para mulheres e, depois de terminado, os reservistas podem ser chamados com alguma regularidade. É difícil sobrevalorizar a importância do exército num país com várias duras guerras e que está numa região onde tem acordos de paz com apenas dois vizinhos, a Jordânia e o Egipto.

Mais, como a comunidade ultra-ortodoxa tem uma taxa de natalidade superior à média, o que era uma pequena parte da sociedade no tempo da fundação do Estado - e justificou assim a excepção há 70 anos - é agora uma fatia considerável da população.

Um dos potenciais parceiros de Netanyahu, Avigdor Lieberman, do partido de direita nacionalista Israel Beitenu (Israel Nossa Casa) já disse que a sua prioridade num acordo de coligação é fazer aprovar uma lei para um aumento faseado da participação dos ultra-ortodoxos no exército, com metas graduais e quotas nas yeshivas, e sanções para as escolas que não cumpram estas metas.

Esta lei foi redigida por militares e especialistas de defesa, e defendida por Lieberman enquanto ministro da Defesa, cargo que ocupou no último Governo de Netanyahu. Em Julho, a lei passou o primeiro passo no Parlamento (com os votos favoráveis do partido de Yair Lapid, na oposição).

Mas para os partidos ultra-ortodoxos qualquer medida que implique serviço militar para os haredim é uma linha vermelha que não estão dispostos a ultrapassar. Cada vez que há iniciativas legislativas para mudar a excepção, irrompem protestos, por vezes violentos, em Jerusalém.

O líder do Judaísmo Unido da Torah, Moshe Gafni, disse mesmo que um dos principais objectivos na coligação é uma lei para a isenção do serviço militar para os ultra-ortodoxos. Esta quinta-feira, responsáveis do partido insistiram que vão manter a exigência, mesmo que isso implique eleições antecipadas.

Isto deixa Netanyahu numa posição especialmente difícil, porque não consegue ter uma maioria sem ambos os partidos – excepto se tentasse antes uma solução de tipo bloco central com o partido de Gantz. Algo que não deverá querer dado a insistência deste na questão da corrupção; um bloco conservador poderia ser mais favorável a aprovar leis de imunidade que prevenissem a iminente acusação de Netanyahu em três casos em que é suspeito de corrupção. 

A campanha eleitoral foi dura e renhida entre Netanyahu e Gantz - um anúncio do Likud chegou a sugerir que Ganz poderia ter problemas mentais ao usar uma imagem em que o antigo general se mostrava pouco à vontade acompanhada do tema do filme “Voando sobre um ninho de cucos”, que se passa num hospital psiquiátrico.

Depois de receber recomendações de partidos representando 65 deputados em 120, o  Presidente, Reuven Rivlin, encarregou na quarta-feira Netanayhu de negociar uma coligação.

Rivlin, que é do campo político de Netanyahu, deixou uma mensagem apelando à unidade: “Acabou o ‘nós e eles’. A partir de agora, é apenas ‘nós’”, sublinhou. “Para lutar pela nossa casa, um local onde seculares, religiosos e ultra-ortodoxos, judeus e árabes, esquerda e direita possam encontrar o seu lugar, como parceiros iguais”.

Netanyahu prometeu “servir” os que votaram nele “e os que não o fizeram”. Mas o diário de grande circulação Yediot Ahronot nota que será difícil para o primeiro-ministro desistir da tática que lhe permitiu, apesar de tudo, vencer.