Caetano Reis e Sousa eleito membro da Royal Society britânica, primeiro português em 200 anos
Investigador trabalha na área da imunologia e mudou-se para o Reino Unido desde meados dos anos 80.
O investigador português Caetano Reis e Sousa foi eleito membro da Royal Society, tornando-se o primeiro português em 200 anos a entrar como fellow para a academia de ciências britânica e a mais antiga do mundo, foi anunciado esta quarta-feira.
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O investigador português Caetano Reis e Sousa foi eleito membro da Royal Society, tornando-se o primeiro português em 200 anos a entrar como fellow para a academia de ciências britânica e a mais antiga do mundo, foi anunciado esta quarta-feira.
O especialista em imunologia foi eleito devido às suas “contribuições para perceber os mecanismos pelos quais o sistema imunitário detecta a invasão de agentes patogénicos, cancro e danos nos tecidos”, refere um comunicado do Instituto Francis Crick, em Londres, onde é líder de grupo e director adjunto de investigação. A investigação feita pelo laboratório de Caetano Reis e Sousa sobre o cancro levou à descoberta de processos usados pelo sistema imunitário para detectar agentes patogénicos e células mortas, mostrando como funcionam a nível celular e molecular.
Em declarações à agência Lusa, o cientista português mostrou-se satisfeito pelo “reconhecimento de contribuições profissionais ao longo da carreira”, salientando a “honra” pertencer à academia científica mais prestigiosa do mundo, que teve como membros Isaac Newton (1643-1727), Charles Darwin (1809-1882) ou Albert Einstein (1879-1955).
A Royal Society foi fundada em 1660 e apadrinhada pelo rei Carlos II, que foi casado com a portuguesa Catarina de Bragança, com o objectivo de promover a investigação e descobertas científicas. Todos os anos são eleitos para a Royal Society no máximo 52 membros enquanto britânicos ou funcionários de instituições britânicas e mais 10 membros estrangeiros, entre uma média de 700 candidatos propostos por membros actuais.
Desde a fundação, há 359 anos, apenas 25 portugueses foram eleitos membros, a maioria no século XVIII, e o último a entrar foi o matemático Garção Stoeckler, em 1819, de acordo com um estudo do físico português Carlos Fiolhais.
Actualmente, a Royal Society possui perto de 1600 membros (fellows) britânicos e estrangeiros, incluindo 80 vencedores de prémios Nobel.
Caetano Reis e Sousa espera ter “certas obrigações” enquanto membro, nomeadamente a participação em comités sobre políticas para a ciência e a divulgação da ciência, mas, apesar da importante rede de membros, refere que “cada um tem as suas próprias redes de colaboradores e não tem impacto ao nível do trabalho”.
Nascido em 1968 em Lisboa, Caetano Reis e Sousa mudou-se para o Reino Unido em 1984, onde terminou os estudos secundários antes de estudar biologia no Imperial College, em Londres, e ter feito o doutoramento em imunologia em Oxford, tendo também trabalhado nos EUA. Em 1998, voltou ao Reino Unido, onde lidera um grupo que faz estudos sobre a forma como o sistema imunitário responde à presença de uma infecção ou ao desenvolvimento de um tumor.
O português já recebeu diversos prémios e distinções, incluindo, em Portugal, a Ordem de Sant’Iago da Espada, tendo sido um dos dois investigadores europeus distinguidos com o prémio Louis-Jeantet de Medicina 2017, equivalente a 700 mil francos suíços (cerca de 653 mil euros). Dois anos antes, em 2015, coordenou a equipa que publicou um artigo científico na revista Cell que mostrou que dar aspirina a doentes com cancro em simultâneo com imunoterapia pode aumentar significativamente a eficácia do tratamento.