Um corredor verde para um rio que já foi o mais poluído da Europa
Matosinhos lançou concurso público para primeira fase de despoluição e requalificação da envolvente do rio Leça, que criará um corredor verde de 18 quilómetros.
Longe vão os tempos em que as margens do Leça eram chamariz de forasteiros para uma zona balnear que competia directamente com as praias de água salgada de Matosinhos. Era ali, que, dizem os que ainda guardam memória disso, barcos de recreio cruzavam-se com quem mergulhava nas águas deste rio, que furava as muitas pontes históricas que ainda ali existem e servia de força motriz aos vários moinhos, alguns deles, ainda hoje, encostados à linha de água.
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Longe vão os tempos em que as margens do Leça eram chamariz de forasteiros para uma zona balnear que competia directamente com as praias de água salgada de Matosinhos. Era ali, que, dizem os que ainda guardam memória disso, barcos de recreio cruzavam-se com quem mergulhava nas águas deste rio, que furava as muitas pontes históricas que ainda ali existem e servia de força motriz aos vários moinhos, alguns deles, ainda hoje, encostados à linha de água.
De estância balnear secular passou por uma fase, já ultrapassada, em que chegou a ser considerado um dos mais poluídos da Europa. Desde esses tempos, há pelo menos três décadas que várias projectos foram gizados para a despoluição e requalificação da envolvente do rio com nascente no monte Córdova, em Santo Tirso. Após mais de trinta anos, lançou-se ontem, nos paços do concelho de Matosinhos, a primeira etapa para a criação do Corredor Verde do Leça, que, quando concluído, se prolongará ao longo de 18 quilómetros, unindo o interior ao litoral do concelho, com áreas de fruição para visitantes e ligações ao centro das cidades circundantes.
Está lançado o concurso público internacional para a a primeira fase da empreitada de construção do Corredor Verde do Leça. Esta primeira fase, orçada em 7,2 milhões de euros, corresponde ao troço entre Ponte de Moreira e Ponte da Pedra, com ligação a Picoutos, ao longo de uma extensão de cerca de 6,9 quilómetros. A intervenção, dividida por três fases, será realizada ao longo dos 18 quilómetros, entre o Parque das Varas, em Leça do Balio, até à foz do rio Leça, no Porto de Leixões.
No total, a obra custará 19,7 milhões de euros, 85% por cento com origem em fundos comunitários, sendo que 900 mil euros correspondem ao valor despendido em expropriações de terrenos. Nesta fase, de acordo com a autarquia, um quarto desse valor já foi desembolsado. A segunda etapa diz respeito ao troço entre Ponte de Moreira e Ponte do Carro e a terceira ao troço entre Ponte do Carro e Porto de Leixões, com ligações ao centro de Matosinhos e Leça da Palmeira. Por agora, só está definido prazo de execução para este primeiro lanço – Fevereiro de 2021. Depois do concurso lançado, espera-se que em Agosto a obra esteja adjudicada, para num prazo de 18 meses estar concluída. Para as fases seguintes, deverão ser abertos novos concursos públicos no decorrer deste primeira intervenção.
Mais 13 hectares de área verde
Fruto da intervenção, desenhada pela arquitecta Laura Roldão, que apresentou o projecto para esta primeira fase, nascerão quatro novas pontes pedonais e sete passadiços entre Ponte de Moreira e Ponte da Pedra. O ponto-chave do trabalho que desenvolveu era “devolver o rio à população”. A estratégia a aplicar passa por criar um corredor verde que sirva como “elemento estruturante intermunicipal”. Recorde-se que a bacia do rio é dividida por mais três concelhos vizinhos – Maia, Valongo e Santo Tirso. De resto, além de Matosinhos, os três municípios estiveram representados na apresentação do projecto.
Mantendo a identidade do vale do Leça, serão aumentadas as áreas de recreio e lazer ao longo das suas margens. A área verde passará dos actuais 17 hectares para 30 hectares. Paralelamente ao rio serão plantadas 820 árvores autóctones – sobreiros, amieiros e carvalhos. Para que esta área seja usada durante todo o ano, haverá ainda um investimento forte na iluminação do corredor, que terá acessos a partir da rede viária.
As “zonas de estadia” junto ao rio e ciclovias (algumas divididas com peões) serão construídas em betão permeável e pedra de granito, de forma a evitar as cheias que por vezes ocorrem nalgumas zonas do percurso. As novas pontes serão essencialmente de metal, mas desenhadas com formas arredondadas de forma a remeterem para as históricas.
Outro elemento da equipa, Pedro Teiga, responsável pela engenharia da empreitada, sublinha que o processo de despoluição do rio Leça faz parte de um programa de limpeza maior de carácter nacional. “Portugal tem 120 mil quilómetros de rios. Em Matosinhos há 110 quilómetros. A despoluição do Leça marca o início deste processo”. Reforça ainda que na lista de prioridades está a contenção das espécies exóticas e invasoras, estabilização da erosão e a plantação de árvores autóctones. E sublinha uma preocupação maior: “No Leça abunda o plástico. Temos que o conter e impedi-lo de chegar ao mar”.