Vamos abrir uma Pupil Referral Unit em Portugal?
Pupil Referral Unit é o nome dado às escolas no Reino Unido cuja função é continuar a educar os alunos da primária e secundária após a sua expulsão da escola. Creio ter chegado a altura de abrir uma, ou mais, em Portugal.
Não por me apetecer, não apetece, já trabalho numa e agora de férias a última coisa que me apetece é falar sobre, e das, Pupil Referral Units (PRU). E, Sr. Ministro, não fosse pelos desenvolvimentos recentes e os repetidos casos de abusos físicos de alunos sobre professores e por aqui continuaria, calado que nem um rato, a aproveitar as férias.
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Não por me apetecer, não apetece, já trabalho numa e agora de férias a última coisa que me apetece é falar sobre, e das, Pupil Referral Units (PRU). E, Sr. Ministro, não fosse pelos desenvolvimentos recentes e os repetidos casos de abusos físicos de alunos sobre professores e por aqui continuaria, calado que nem um rato, a aproveitar as férias.
Pupil Referral Unit é o nome dado às escolas no Reino Unido cuja função é continuar a educar os alunos da primária e secundária após a sua expulsão da escola. Sim, no Reino Unido um aluno pode ser expulso do ensino regular desde o 1.° ano por mau comportamento. Em Portugal, só depois de fazer 18 anos, quando já não estão abrangidos pela escolaridade obrigatória. Porquê, Sr. Ministro?
Não porque a expulsão, a consequência, seja em si uma solução para os problemas de mau comportamento. Não é. Antes pelo contrário, a expulsão é a mensagem de como certos comportamentos não podem ser tolerados, para bem dos professores agredidos, dos alunos agredidos e restante população escolar, população essa interessada, espantem-se, em continuar a aprender. Mas mais. Porque a expulsão é o sinal de que o aluno precisa de mais apoio para além do já recebido no ensino regular. E aqui, Sr. Ministro, entram as PRU.
Com um corpo docente de cerca de 30 professores e assistentes para um total de 40 alunos distribuídos por oito turmas de cinco alunos, é nosso dever, é nossa obrigação, começar por criar uma relação com cada aluno, cada família, em estreita ligação com assistentes sociais, psicólogos educacionais e clínicos, polícia, terapeutas da fala, serviços de apoio à família e ao aluno de modo a compreender a raiz dos problemas de comportamento, a origem dos problemas de comportamento. Só depois começa o verdadeiro trabalho.
Entretanto, os alunos continuam a escolaridade, com aulas de 45 minutos, quatro de manhã e uma à tarde, de segunda a sexta, das 9h30 às 14h45. A escola é pequena, facto que promove as relações entre professores e alunos, os professores reúnem-se todos os dias de manhã e duas vezes por semana à tarde depois das aulas.
Os elementos da direcção estão presentes ao longo do dia nos corredores, no intervalo da manhã e na hora de almoço, e a escola está equipada com câmaras de vigilância nos corredores e ao redor do edifício, num esforço conjunto entre o ser humano e a máquina para dissuadir determinados comportamentos.
O apoio individualizado está presente todos os dias, seja a nível académico ou psicológico, e as reuniões com pais e alunos são uma constante. A oferta académica inclui também cursos profissionalizantes e uma estreita colaboração com escolas técnicas para promoção dos estudos de quem nos deixa no fim do secundário.
Em Portugal, Sr. Ministro, o corpo directivo fecha-se a sete chaves entre gabinetes e reuniões fora da escola, os professores estão por sua conta nas salas de aula e quando há problemas de comportamento são os auxiliares, pagos com o ordenado mínimo, os únicos que lhes podem valer.
Tal como referido, os alunos em Portugal não podem ser expulsos antes dos 18 anos, ao invés suspensos ou transferidos de escola em situações extremas, sem por isso tratar a causa do problema, antes deslocando o mesmo, juntamente com o aluno, para outro estabelecimento de ensino onde o problema continuará o seu destrutivo mester. E, Sr. Ministro, não é só nas PRU que há circuito fechado de televisão, é também nas escolas do ensino regular, do 1.° ano ao secundário.
Nunca tive jeito para negócios, Sr. Ministro, nem acredito ter. Sou um professor e, desde o fim da licenciatura, sempre trabalhei por conta de outros. Não sou um empreendedor, Sr. Ministro, mas já estou cansado de empreender e desenvolver as escolas, o ensino e as vidas das crianças com quem trabalho todos os dias.
E não, não temos uma varinha de condão nem conseguimos ajudar todos os alunos que nos passam pelas mãos. Mas para a maioria a fórmula existe e a fórmula resulta, muitas vezes graças ao apoio constante a pais igualmente à deriva. Sem melhorar a vida de uma criança fora da escola não é possível melhorar a sua educação ou as suas perspectivas de futuro.
A minha escola faz parte da chamada educação alternativa. Não confundir com uma alternativa à educação pois a mesma existe e tem de existir a partir do momento em que o aluno nos entra pela porta. Quando o governo e os noticiários berram a bom berrar sobre as vantagens de trazer de volta a Portugal todos os emigrantes mais o saber amealhado lá fora, não consigo deixar de pensar no meu caso e no trabalho desenvolvido ao longo dos últimos 11 anos, desde que daqui saí em Setembro de 2007 por não ter emprego.
Por tudo isto, Sr. Ministro, creio ter chegado a altura de abrir uma, ou mais, PRU em Portugal. Não por precisar do seu favor, não preciso, Sr. Ministro, e sem condições de trabalho de pouco me valerá poder regressar, mas porque as escolas precisam do seu favor, para bem dos professores, mas mais, para bem dos alunos.