Lisboa recebe a “primeira grande exposição” de obras de Banksy — sem o aval de Banksy

Banksy: Génio ou Vândalo chega em Junho a Lisboa sem o reconhecimento do artista e com cerca de 70 obras vindas de colecções privadas.

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Provavelmente o mais conhecido artista urbano do mundo mesmo sem o mundo conhecer o seu rosto, Banksy vai ter a sua primeira exposição em Portugal. A Cordoaria Nacional vai receber em Lisboa, a partir de 14 de Junho, a exposição Banksy: Génio ou Vândalo com mais de 70 obras originais, anunciou a promotora da mostra na manhã desta segunda-feira. A exposição itinerante, que já passou pela Rússia e Espanha, não tem o aval do artista, que se manifestou contra ela.

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Provavelmente o mais conhecido artista urbano do mundo mesmo sem o mundo conhecer o seu rosto, Banksy vai ter a sua primeira exposição em Portugal. A Cordoaria Nacional vai receber em Lisboa, a partir de 14 de Junho, a exposição Banksy: Génio ou Vândalo com mais de 70 obras originais, anunciou a promotora da mostra na manhã desta segunda-feira. A exposição itinerante, que já passou pela Rússia e Espanha, não tem o aval do artista, que se manifestou contra ela.

A exposição tem por base obras — “esculturas, instalações, vídeos e fotografias” além de serigrafia — em empréstimo por “vários coleccionadores privados internacionais”, escreve a Everything is New em comunicado. A entidade, associada sobretudo à promoção e organização de concertos e festivais de música, tem feito várias incursões na produção de exposições de arte, como foi o caso da mostra recordista dedicada ao trabalho de Joana Vasconcelos no Palácio da Ajuda. Agora, traz a Portugal uma exposição que tem curadoria do geórgio Alexander Nachkebiya, gestor da IQ Art Management Corporation que se apresenta como empresa de “produção e apresentação comercial de arte e multimédia” e que já esteve em Moscovo, São Petersburgo e Madrid em 2018 a ser vista por mais de 600 mil pessoas, diz a organização.

A mostra, que terá bilhetes à venda a partir de sábado, tem como título internacional Banksy: Genius or Vandal e conta com a colaboração, diz a promotora na mesma nota, da “Lilley Fine Art / Galeria de Arte Contemporânea”, que no seu site se apresenta como a “curadora líder de obras do artista ‘Banksy’” e que “foi uma das pioneiras a negociar impressões secundárias de Banksy há mais de 10 anos”. No final do comunicado enviado às redacções, a organização indica que esta exposição, “como todas as que foram dedicadas anteriormente a Banksy, não é autorizada pelo artista, que busca defender seu anonimato e a sua independência do sistema”. No seu site, Banksy tem um aviso na secção “exposições": “Os membros do público devem estar cientes de que tem havido uma vaga recente de exposições Bansky, nenhuma das quais consensuais. Foram inteiramente organizadas sem o conhecimento ou envolvimento do artista. Por favor tratem-nas como tal”.

Conhecido como artista de intervenção, Banksy manifestou-se publicamente desagradado com esta mostra, que inclui na lista de exposições “falsas” no seu site, acompanhadas dos preços de bilhetes cobrados. “Não cobro às pessoas para ver a minha arte a não ser que haja uma roda gigante”, disse Banksy na troca de mensagens que publicou em Agosto de 2018 na sua conta de Instagram e onde mostraria o momento em que alguém lhe deu a conhecer a existência da exposição. Referia-se ao seu anti-parque de diversões Dismaland que montou em 2015 nos arredores de Bristol e para o qual convidou um dos Young British Artist, o consagrado Damien Hirst, ou a artista portuguesa Wasted Rita.

“Banksy é sempre contra exposições que ele próprio não organize”, argumentou na altura Alexander Nachkebiya à televisão estatal russa, citado pelo Guardian em Agosto do ano passado. “Mas sobre o Banksy posso dizer que ele ainda trabalha na rua, ainda é um rebelde, ainda faz trabalho muito relevante e urgente. Por isso acho que isto não é importante para ele.” Na troca de mensagens partilhada na mesma altura, Banksy escreve “gostava de poder achar isto engraçado. O que é o contrário de LOL [o acrónimo sorridente para “laugh out loud”, rir alto]?”.

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Big Gold Frame é uma das obras que vai estar em exposição em Lisboa Banksy

O facto de produzir trabalho não autorizado e de resistir ao circuito convencional da arte levou o próprio artista, na mesma troca de mensagens que publicou online, a admitir que não seria “a melhor pessoa para se queixar de pessoas que exponham imagens sem obter autorização”. Mas a conclusão, “por uma questão de princípio” por se estar a fazer dinheiro com a exposição do seu trabalho segundo o interlocutor na mesma conversa, foi de que publicar a dita troca de mensagens mostraria a sua posição. Banksy é um artista da rua, mas não , com enorme valor no mercado institucional da arte — proliferam as exposições da serigrafia, desaparecem os trabalhos murais para reemergir em leilão.

A exposição estará em Lisboa até 27 de Outubro e os bilhetes normais custam 13 euros. Este ano, também o Porto acolheu uma mostra, desta feita de um fotógrafo que se dedicou a recolher imagens do trabalho do artista. A exposição de Lisboa incluirá “a serigrafia original da série ‘Menina com um balão’, semelhante à recentemente destruída pelo próprio artista em uma acção inédita na Sotheby's”, entre outras obras, diz a Everything is New em comunicado.