Quer deixar de fumar? O seu companheiro pode ajudá-lo
Estudo britânico defende que os casais que deixam de fumar em conjunto têm mais sucesso do que as pessoas individualmente. Este trabalho foi apresentado num congresso científico em Lisboa.
Entre os vários riscos para a saúde do tabaco convencional, as doenças cardiovasculares estão no topo da lista – 90% das pessoas com alto risco de contrair doenças cardiovasculares são fumadores. Um estudo britânico vem demonstrar que a difícil tarefa de deixar de fumar pode ser facilitada se a luta for partilhada pelos casais. Os resultados desta investigação foram apresentados na última sexta-feira no EuroPrevent 2019, o congresso anual da Associação Europeia de Cardiologia Preventiva, que decorreu na última semana no Centro de Congressos de Lisboa.
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Entre os vários riscos para a saúde do tabaco convencional, as doenças cardiovasculares estão no topo da lista – 90% das pessoas com alto risco de contrair doenças cardiovasculares são fumadores. Um estudo britânico vem demonstrar que a difícil tarefa de deixar de fumar pode ser facilitada se a luta for partilhada pelos casais. Os resultados desta investigação foram apresentados na última sexta-feira no EuroPrevent 2019, o congresso anual da Associação Europeia de Cardiologia Preventiva, que decorreu na última semana no Centro de Congressos de Lisboa.
“Os casais conseguem apoiar-se mutuamente [para deixar de fumar] ao se envolverem em actividades em conjunto – como caminhadas, idas ao cinema ou meditação – e ao conseguirem distrair-se um ao outro dos estímulos exteriores que despertam a vontade de fumar”, disse ao PÚBLICO Magda Lampridou, principal autora do estudo, enfermeira e investigadora no Imperial College de Londres.
O estudo contou com a participação de 222 fumadores com alto risco de desenvolverem doenças cardiovasculares e os seus respectivos companheiros – 45% destes companheiros também eram fumadores, 18% eram ex-fumadores e 37% nunca fumaram.
Estes casais foram convidados a participar num dos vários programas de cardiologia preventiva durante 16 semanas. No final do programa, 64% dos fumadores deixaram de consumir cigarros e 20% dos cônjuges que ainda fumavam deixaram de o fazer. Durante as sessões, para além da interrupção do tabaco, os voluntários do estudo criaram rotinas de actividade física, fizeram uma alimentação saudável e o controlo médico de diabetes, da hipertensão arterial e do colesterol. “A probabilidade de abandonar o tabaco foi significativamente maior nos casais que tentaram deixar de fumar em conjunto, comparando com os voluntários que tentaram deixar o tabaco sozinhos”, nota um comunicado da Sociedade Europeia de Cardiologia sobre a investigação.
Os resultados deste estudo “ainda não foram publicados num artigo científico, mas esse será o próximo passo”, explica Magda Lampridou. No entanto, este trabalho centra-se apenas nos fumadores com um grande risco de desenvolverem doenças cardiovasculares. No futuro, a investigadora gostaria de testar estes resultados em fumadores sem este padrão clínico. O seu objectivo com esta investigação, enquanto cientista e profissional de saúde, é “fornecer resultados que podem levar a melhores práticas clínicas”.
Um cigarro, 70 substâncias cancerígenas
Desta forma, este poderá vir a ser mais um passo no controlo do tabagismo que afecta milhões de pessoas por todo o mundo. Em Portugal, o número de fumadores acima dos 15 anos está abaixo da média europeia – 28% de fumadores na Europa e 20% em Portugal. Mesmo assim, o objectivo das autoridades de saúde até 2020 é baixar este valor para 17%. Em 2016, morreram em Portugal mais de 11.800 pessoas por doenças atribuíveis ao tabaco, de acordo com um relatório do Programa Nacional para a Prevenção e Controlo do Tabagismo apresentado pela Direcção-Geral da Saúde.
O tabaco está associado a 17 tipos de cancros – embora o cancro do pulmão seja o mais comum, também contribui para o desenvolvimento do cancro do fígado ou da bexiga. Um cigarro é composto por 7000 substâncias, das quais 70 são cancerígenas, como o alcatrão, o chumbo e o mercúrio. O cancro é causado por mutações no ADN e o tabaco contribui para essas mutações. Sabe-se que um maço de tabaco por dia, ao fim de um ano, provoca, em média, 150 mutações genéticas nas células dos pulmões. Nesse mesmo período de tempo, as células da laringe sofrem 97 mutações genéticas e as da faringe 39. Isto significa um aumento da probabilidade de cancro em todas estas zonas do corpo humano.
Por isso mesmo, em Portugal, as campanhas de luta contra o tabagismo intensificaram as suas mensagens para alcançar sobretudo o público mais jovem e as mulheres, o segmento de população em que o consumo de tabaco tem aumentado. No ano passado, foi divulgado pelo Ministério da Saúde um pequeno filme intitulado de “Deixe de fumar. Opte por Amar Mais”, que conta a história de uma jovem mãe que contrai um cancro dos pulmões devido ao tabaco com o objectivo de sensibilizar e tentar diminuir o número de fumadores em Portugal.
No EuroPrevent 2019, Lisboa recebeu mais de 1400 profissionais de saúde de mais de 50 países. Foi apresentado não só este estudo de Magda Lampridou sobre tabagismo, mas também várias investigações sobre doenças do coração. As doenças cardiovasculares provocam cerca de quatro milhões de mortes por ano na Europa, sendo a maior causa de mortalidade neste continente.
Texto editado por Teresa Firmino