Joana Amaral Dias: a personalidade interfere na política? “Mas em que aspecto da vida a personalidade não interfere?”

Esta semana, no podcast Quarenta e Cinco Graus, Joana Amaral Dias é a convidada de José Maria Pimentel para conversar sobre psicologia política, a propósito do seu livro O Cérebro da Política - Como a personalidade, emoção e cognição influenciam as escolhas políticas

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Esta semana, no podcast Quarenta e Cinco Graus, Joana Amaral Dias é a convidada de José Maria Pimentel para conversar sobre psicologia política, a propósito do seu livro O Cérebro da Política - Como a personalidade, emoção e cognição influenciam as escolhas políticas

Psicologia política é o estudo de como as diferenças psicológicas entre as pessoas - como a personalidade, as emoções, os valores ou mesmo a cognição - ajudam a explicar, por exemplo, como (ou porque) é que duas pessoas igualmente capazes e ​bem intencionadas chegarem a visões políticas antagónicas. 

Joana Amaral Dias é psicóloga, política e comentadora, e fala aqui sobre uma série de aspectos da influência da psicologia na política. A conversa começa por uma das descobertas fundacionais desta área: o facto de o nosso julgamento moral e político começar sempre por uma intuição, isto é, de forma inconsciente. É dessa forma inconsciente - e muitas vezes emocional - que formamos a nossa visão (positiva ou negativa) sobre, por exemplo, o que defende determinado partido ou político. Só depois é que a nossa “mente racional” entra ao serviço e vai sobretudo ter o trabalho de justificar aquela conclusão apriorística - e só muito raramente rever criticamente essa conclusão. A comprovação de que o nosso julgamento moral é, primeiramente, intuitivo deve muito ao trabalho do psicólogo moral Jonathan Haidt.

Compreendendo que as nossas opiniões são formadas sobretudo de forma inconsciente, rapidamente percebemos que a nossa forma de pensar - o nosso software mental - tem um papel importante. Por isso, as diferenças de personalidade são essenciais para explicar porque é que pessoas diferentes têm visões distintas do mundo e da política. É nesta direcção que segue a conversa, usando como referencial o chamado “modelo dos cinco factores”, o modelo com maior validação empírica na Psicologia da Personalidade. Estas características de personalidade são facilmente observáveis sobretudo nos próprios políticos.

Das diferenças de personalidade entre as pessoas partimos para as diferenças ao nível dos valores com que cada um se identifica. A principal diferença é que a personalidade tem sobretudo que ver com a nossa forma de pensar, enquanto os valores representam juízos concretos, isto é, aquilo que acreditamos, que sentimos estar certo ou errado, ser importante ou irrelevante. A propósito dos valores, socorremo-nos do livro de Jonathan Haidt The Righteous Mind (algo como A Mente Íntegra), que organiza os valores universais da Humanidade (encontrados em todo o tipo de culturas) em cinco dimensões:

  • O cuidado e a empatia pelo outro
  • A justiça, que pode implicar princípios de igualdade ou, pelo contrário, de meritocracia
  • A lealdade ao grupo
  • A autoridade e tradição
  • A liberdade, isto é, a rejeição de restrições externas à liberdade individual

Diferentes valores estão associados, de uma forma até mais clara do que as diferenças de personalidade, a preferências políticas diferentes entre as pessoas, e por vezes contraditórias.

Durante o resto da conversa, houve ainda tempo para falar sobre o grande mistério de qual é a origem de todas estas diferenças entre as pessoas: quanto é culpa genes? Quanto é causado pelo meio em que crescemos ou a educação que tivemos? Fala-se ainda sobre liderança na política e a distinção entre líderes que procuram “poder sobre” e aqueles que buscam “poder para”, que tem sido muito estudada na psicologia política. Mesmo a terminar, José Maria Pimentel pergunta a Joana Amaral Dias, que sempre se assumiu de esquerda, que valores tradicionalmente da Direita é que tinha ficado a ver de uma forma mais positiva depois deste trabalho de investigação.

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