Eslováquia escolheu a primeira Presidente: “É possível não sucumbir ao populismo”
Ambientalista, liberal, nova na política, pró-União Europeia. O que a Eslováquia procurava na luta contra a corrupção e o populismo encontrou agora na primeira mulher Presidente da Europa Central: Zuzana Caputova.
De cada vez que Zuzana Caputova discursa, ouvem-se palavras como “justiça”, “confiança”, “solidariedade”, “verdade”. E “tolerância”. A advogada eslovaca, ecologista, activista anti-corrupção, pró-União Europeia, liberal-democrata e praticamente desconhecida na política, é a primeira mulher a chegar a Presidente de um país da Europa Central. Quando tomar posse a 15 de Junho, com 45 anos, Caputova vai ainda tornar-se a Presidente mais jovem na história da Eslováquia. E quer mostrar que aquelas não são só palavras bonitas.
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De cada vez que Zuzana Caputova discursa, ouvem-se palavras como “justiça”, “confiança”, “solidariedade”, “verdade”. E “tolerância”. A advogada eslovaca, ecologista, activista anti-corrupção, pró-União Europeia, liberal-democrata e praticamente desconhecida na política, é a primeira mulher a chegar a Presidente de um país da Europa Central. Quando tomar posse a 15 de Junho, com 45 anos, Caputova vai ainda tornar-se a Presidente mais jovem na história da Eslováquia. E quer mostrar que aquelas não são só palavras bonitas.
“Estou contente, não só pelo resultado, mas, principalmente, por ser possível não sucumbir ao populismo, dizer a verdade, criar interesse sem recorrer a vocabulário agressivo”, disse, no discurso de vitória nas eleições do último fim-de-semana de Março, depois de agradecer aos eleitores em eslovaco, mas também em húngaro, checo, romani e rusin. “Isto começou na eleição local no ano passado, confirmou-se nas presidenciais e acredito que se confirmará nas europeias”, em Maio.
A também vice-presidente do Progresívne Slovenko — um partido tão recente que ainda nem teve oportunidade de entrar nas eleições parlamentares — era uma cara relativamente desconhecida na política nacional, a concorrer contra Maroš Šefčovič, o vice-presidente da Comissão Europeia que acabou por angariar apenas 41,6% dos votos contra os 58,4 da Presidente eleita. Mas isto pode bem ter sido uma vantagem. Zuzana Caputova decidiu concorrer depois do duplo homicídio de Jan Kuciak e Martina Kusnirova, a noiva do jornalista de investigação que expôs crimes de corrupção entre a classe política e se preparava para publicar uma história que, alegadamente, mostrava a ligação entre políticos eslovacos e a máfia italiana.
O assassinato a tiro chocou um país que saiu à rua contra o governo e a corrupção, levando ao despedimento do primeiro-ministro Robert Fico, em Março de 2018. E o combate à corrupção guiou a campanha de uma cara que, longe da política, já era conhecida no país depois de, em 2016, ter ganhado o Goldman Environmental Prize. Conhecido como a maior distinção na luta pelo ambiente, o prémio chegou depois de 14 anos a lutar contra um aterro de resíduos tóxicos que iria “envenenar terra, ar e água” de Pezinok, a cidade onde nasceu e onde trabalhou depois de se licenciar em Direito.
Nesta eleição, com o populismo e a corrupção assinalados como os novos adversários, a batalha que Zuzana se dispôs a travar “para um país mais justo” ainda agora começou. “O populismo não é a única forma de resolver frustrações, ou crises, ou a perda de confiança nos políticos”, disse à BBC, na primeira entrevista com os media internacionais que se entusiasmaram com a vitória de uma progressista num país rodeado pelo discurso nacionalista dos vizinhos húngaros, polacos e austríacos. “Um tom construtivo e emoções mais positivas — e não trabalhar com medo ou ameaças; isto é muito mais eficaz e mantém muito mais esperança.”