Cruz Vermelha vai triplicar ajuda humanitária para a Venezuela
O Banco Mundial diz que pretende um “envolvimento profundo” na ajuda para a Venezuela, mas não se pronuncia sobre reconhecimento de Guaidó.
O Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) anunciou ter chegado a acordo com o Governo venezuelano para desbloquear mais de 20 milhões de euros para ajuda humanitária. Também o Banco Mundial revelou estar preparado para apoiar o país que enfrenta uma grave crise humanitária.
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O Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) anunciou ter chegado a acordo com o Governo venezuelano para desbloquear mais de 20 milhões de euros para ajuda humanitária. Também o Banco Mundial revelou estar preparado para apoiar o país que enfrenta uma grave crise humanitária.
O acordo foi fechado após uma visita de cinco dias do presidente da organização, Peter Maurer, à Venezuela durante a qual se encontrou com o Presidente Nicolás Maduro. “Alegra-me ver que as autoridades estão dispostas a trabalhar connosco para fazer frente às necessidades humanitária que identificámos de forma consensual”, disse Maurer, através de um comunicado citado pelo jornal El Universal. A Cruz Vermelha pretende triplicar o orçamento que destina à Venezuela, e que será de cerca de 21,8 milhões de euros. No total, a ajuda da Cruz Vermelha irá apoiar 28 hospitais e oito centros de saúde, que “vão beneficiar de formação, água, e materiais médicos e higiénicos”.
Referindo-se às negociações, Maduro disse que a ajuda “respeita a soberania” da Venezuela e é concedida “sem politização de qualquer tipo”. O Presidente venezuelano acrescentou que toda a ajuda é bem-vinda “desde que seja legal”.
Também o Banco Mundial se mostrou disponível para ficar “profundamente envolvido” na ajuda humanitária para a Venezuela, de acordo com o recém-nomeado presidente, David Malpass. Porém, qualquer decisão sobre o reconhecimento do auto-proclamado Presidente venezuelano, Juan Guaidó, irá depender dos accionistas da instituição, acrescentou.
Luta pela ajuda
A distribuição de ajuda humanitária na Venezuela tornou-se num dos campos de batalha mais disputados no combate pela legitimidade que domina o país desde o início do ano. Em Janeiro, o presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, acusou Maduro de “usurpação” e assumiu a presidência interina do país. Em poucos dias, meia centena de países, incluindo os EUA, Canadá, a maioria da União Europeia, e vários latino-americanos, anunciaram o reconhecimento de Guaidó como chefe de Estado legítimo.
Porém, para além do apoio internacional, Guaidó – que com grande parte da liderança da oposição na prisão se tornou no protagonista anti-Maduro – dispõe de poucos instrumentos para exercer o controlo efectivo sobre as instituições do país. O Executivo, os tribunais, as forças de segurança e, de forma decisiva, as Forças Armadas, permanecem fiéis ao sucessor de Hugo Chávez.
Neste contexto, Guaidó fez da distribuição da ajuda humanitária internacional um dos grandes objectivos para exercer a sua legitimidade e, em Fevereiro tentou viabilizar a entrada de camiões através da fronteira colombiana. O Exército, contudo, obedeceu às ordens de Maduro e manteve as fronteiras fechadas.
A Venezuela sofre uma crise humanitária sem precedentes, com grande parte da população sem acesso a bens alimentares básicos e medicamentos, fruto da inflação galopante dos últimos anos. Porém, o regime de Maduro aponta o dedo às sanções internacionais e durante muito tempo recusou sequer admitir a necessidade de recorrer a ajuda humanitária.