Uma performance para nos sentarmos à mesa com um homem ocidental

Diet Plan for the Western Man, que por estes dias chega ao Ateneu Comercial do Porto, pretende promover uma reflexão sobre os bastidores do processo que traz a comida até às nossas mesas e o simbolismo que lhe está inerente.

Foto
O público é convidado a sentar-se em volta de uma mesa em ziguezague Sander Marsman

“Criar uma inquietação no público sobre a complexidade do sistema que governa a forma como a comida acaba na nossa mesa” é o objectivo a que Carlos Azeredo Mesquita se propõe a partir desta quinta-feira, no Ateneu Comercial do Porto, com a performance Diet Plan for the Western Man. Um projecto que surgiu da mistura de dois elementos: o interesse pessoal que o criador e intérprete nutre por comida, juntamente com a necessidade que sente de decifrar e discutir tópicos menos conhecidos.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

“Criar uma inquietação no público sobre a complexidade do sistema que governa a forma como a comida acaba na nossa mesa” é o objectivo a que Carlos Azeredo Mesquita se propõe a partir desta quinta-feira, no Ateneu Comercial do Porto, com a performance Diet Plan for the Western Man. Um projecto que surgiu da mistura de dois elementos: o interesse pessoal que o criador e intérprete nutre por comida, juntamente com a necessidade que sente de decifrar e discutir tópicos menos conhecidos.

Embora a peça seja descrita como uma conferência-espectáculo sobre alimentos, Carlos ressalva que a componente performativa é residual, com o destaque a ser dado à teoria. “É dito muito texto e o espectáculo é fundamentalmente uma palestra, uma conferência.” A vertente artística provém dos pratos que são apresentados ao público, uma “estratégia” que visa “transmitir informação de forma mais eficaz e criativa”.

Durante a performance, o público é convidado a sentar-se à volta de uma mesa em ziguezague, com quatro “andares” – uma mesa diferente do expectável. Os pratos criados pelo chef Vasco Coelho Santos, do premiado Euskalduna, seguem a mesma linha e passam ao lado do “óbvio”, devido às suas especificidades “bizarras e chocantes”. Estes aspectos cénicos, que servem o propósito da reflexão, não pretendem proporcionar uma experiência gastronómica irrepreensível à audiência. A escolha obedece, aliás, ao critério da complementaridade que se pretende construir entre a narrativa e estes elementos.

O intuito é “desalojar a audiência de uma posição confortável” e portanto desfavorável à reflexão pretendida. Ainda assim, Carlos recusa embarcar em extremismos. “A peça não é um exercício de pedagogia que gera uma situação causa-efeito. Não devem esperar algo cáustico.”

A ideia que deu origem a Diet Plan for the Western Man foi ganhando forma através de vários inputs, nomeadamente o convite da Bienal de Berlim de 2018, cuja principal temática foram as questões coloniais. A este ponto de partida, Carlos juntou os contributos de amigos, com os quais, em conversa, discutiu e aprofundou o tema. Assim se justifica a inclusão do nome de Andrés Sarabina, co-autor do texto, na ficha técnica e artística do espectáculo.

Para além de Andrés, também o chef Vasco Coelho Santos e a coreógrafa Luísa Saraiva integram a equipa. Segundo o criador e intérprete, o contributo dos dois foi “imenso e essencial”. No caso do chef, “a criatividade e a diversão” que imprimiu tanto no processo de escolha dos pratos como na confecção são factores distintivos do projecto. A participação de Luísa Saraiva também foi uma “mais-valia”, nomeadamente ao nível da vertente cénica e performativa, âmbito em que Carlos Azeredo Mesquita não possui tantos conhecimentos – as belas artes são a sua área de especialização.

O feedback recebido na Bienal de Berlim foi “muito positivo”, pelo que as expectativas para a apresentação que ocorre por estes dias (quinta, sexta e sábado: 11, 12 e 13 de Abril), incluída na programação do Teatro Municipal do Porto, são altas. Segundo Carlos Azeredo Mesquita, o público que se deslocar ao Ateneu Comercial pode esperar uma recepção “bizarra”, um cenário “especial” e “chamadas de atenção”. No final, espera que a palavra usada para descrever a sua performance seja “diversão”. 

Texto editado por Inês Nadais