Nasceu bebé com com material genético de três pessoas na Grécia

Técnica de fertilização in vitro usa material genético da mãe, do pai e de uma dadora para resolver problemas de infertilidade de uma mulher. Bioquímico português esteve envolvido no terceiro nascimento com recurso a este processo.

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Equipa envolvida no nascimento do bebé EMBRYOTOOLS

Nasceu na Grécia um bebé com informação genética de três pessoas diferentes. A mulher de 32 anos — que tinha problemas de infertilidade — conseguiu engravidar através de uma técnica de fertilização in vitro (FIV) que usa material genético da mãe, do pai e de uma mulher dadora, socorrendo-se ao método da transferência de fuso materno (MST, na sigla em inglês). É o terceiro caso reportado mundialmente.

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Nasceu na Grécia um bebé com informação genética de três pessoas diferentes. A mulher de 32 anos — que tinha problemas de infertilidade — conseguiu engravidar através de uma técnica de fertilização in vitro (FIV) que usa material genético da mãe, do pai e de uma mulher dadora, socorrendo-se ao método da transferência de fuso materno (MST, na sigla em inglês). É o terceiro caso reportado mundialmente.

Nuno Costa Borges é o director científico da empresa Embryotools e esteve envolvido neste processo. Em conversa com o PÚBLICO, não escondeu a alegria pelo nascimento do bebé: “O parto foi de cesariana na terça-feira de manhã. Foi muito rápido e uma grande emoção quando vimos que o bebé era saudável.” Nuno Borges já tinha falado com o PÚBLICO em Janeiro, quando foi anunciada a gravidez da mulher grega. Na altura, elogiou a esperança que esta técnica trazia a casais com problemas de fertilidade, aspecto que volta a frisar. “Muitas vezes é uma última tentativa. Antes, a única solução que tinham era aceitar a doação de óvulos que não têm qualquer tipo de relação genética com a progenitora”, nota.

Este nascimento resultou de um estudo-piloto desenvolvido na Grécia. Apesar de o bioquímico considerar esta técnica segura, países como os Estados Unidos proíbem a sua realização, por ser “incluída no pacote das técnicas de edição genética cujas modificações são transmissíveis às gerações seguintes”. Mas, afinal, o que implica este processo?

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O bioquímico português Nuno Costa Borges Arduino Vannucchi

A técnica utilizada consiste em extrair o núcleo de um ovócito de uma dadora com mitocôndrias saudáveis, substituindo-o pelo núcleo de um ovócito da mãe do bebé. Depois, fertiliza-se o ovócito com o espermatozóide do pai e implanta-se no útero da mulher com infertilidade, neste caso da mulher grega de 32 anos.

Esta técnica é utilizada para evitar uma doença que afecta as mitocôndrias – organelos que estão no citoplasma das células e produzem grande parte da energia das células, apelidados de “baterias” das células. Em geral, uma célula pode ter centenas a milhares de mitocôndrias, consoante a função. Na fecundação do ovócito pelo espermatozóide, que dá origem a uma nova vida, as mitocôndrias do futuro bebé estão no citoplasma do ovócito, sendo sempre herdadas da mãe.

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Momento em que se faz a transferência do núcleo de um ovócito para outro ovóvito sem núcleo EMBRYOTOOLS

Se no grupo de mitocôndrias de um ovócito fecundado uma percentagem substancial delas tiver uma mutação genética nefasta, então o futuro bebé poderá adoecer e morrer. É por isso que se discute a aplicação de técnicas FIV alternativas para evitar as doenças mitocondriais. Isso implica que haja uma “mãe” dadora de mitocôndrias saudáveis para o futuro bebé. Ou seja, este bebé possui material genético de três pessoas.

O bebé que nasceu na terça-feira com 2,9 quilogramas e foi o terceiro nascimento bem-sucedido usando este procedimento. O primeiro bebé com material genético de uma segunda mulher nasceu em Setembro de 2016, no México. Foi, curiosamente, uma equipa norte-americana a levar a cabo o processo, apesar de nenhuma das técnicas de FIV estarem aprovadas no país. A 5 de Janeiro de 2017, na Ucrânia, nascia uma menina filha de um casal infértil graças a esta “nova” técnica.

“Três pais é termo sensacionalista”

Apesar de, muitas vezes, se atribuir a parentalidade destes bebés a três indivíduos distintos, Nuno Costa Borges rejeita esse argumento, afirmando que a genética nuclear pertence em exclusivo aos pais biológicos. “Dizer que o bebé tem três pais é um termo sensacionalista que foi usado em Inglaterra. É verdade que são três pessoas envolvidas, mas o bebé é de quem o pare e dos responsáveis pela genética nuclear. Isto é, exclusivamente dos pais biológicos.”