Quase metade das mulheres em todo o mundo não tem autonomia reprodutiva
Relatório do Fundo das Nações Unidas para a População salienta as melhorias registadas nos últimos 50 anos, mas sublinha que ainda há um longo caminho a percorrer.
Mais de 40% das mulheres, um pouco por todo o mundo, não podem decidir sozinhas sobre aspectos essenciais das suas vidas, como a actividade sexual com os seus parceiros, o uso de métodos contraceptivos e o acesso aos cuidados de saúde. No relatório de 2019 sobre o Estado da População Mundial, divulgado esta quarta-feira, as Nações Unidas salientam os avanços feitos nos últimos 50 anos, mas deixam um alerta: “A luta pelos direitos e pelas escolhas deve continuar até serem uma realidade para toda a gente.”
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Mais de 40% das mulheres, um pouco por todo o mundo, não podem decidir sozinhas sobre aspectos essenciais das suas vidas, como a actividade sexual com os seus parceiros, o uso de métodos contraceptivos e o acesso aos cuidados de saúde. No relatório de 2019 sobre o Estado da População Mundial, divulgado esta quarta-feira, as Nações Unidas salientam os avanços feitos nos últimos 50 anos, mas deixam um alerta: “A luta pelos direitos e pelas escolhas deve continuar até serem uma realidade para toda a gente.”
“No caminho em direcção aos direitos e às escolhas, as mulheres e as raparigas têm enfrentado barreiras económicas e sociais a cada passo”, sublinha o Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA), criado em 1969 para melhorar a saúde reprodutiva e alargar o uso da contracepção em todo o mundo.
Apesar das melhorias registadas em meio século, é preciso “repelir as forças que empurram o mundo para uma era em que as mulheres quase não tinham influência nas decisões sobre reprodução, nem sobre qualquer outra área das suas vidas”, disse a directora executiva da UNFPA, Natalia Kanem, no comunicado da organização.
Nos 51 países que disponibilizam informação, “só 57% das mulheres casadas ou que estão num relacionamento podem tomar as suas próprias decisões em todas as três áreas” – a actividade sexual, o número de filhos e os cuidados de saúde.
A autonomia reprodutiva é maior na Ucrânia e nas Filipinas, onde 81% das mulheres têm informação e meios para tomarem as suas próprias decisões, e menor no Mali, Níger e Senegal, com apenas 7%.
Apesar de o cenário estar ainda longe do que a ONU considera ser ideal, foram registados muitos avanços nos últimos 50 anos.
Em 1969, o número médio de nascimentos por mulher era de 4,8 – um valor que caiu para 2,9 em 1994 e para 2,5 nos dias de hoje. Só nos países menos desenvolvidos, a queda foi de 6,8 há 50 anos para 3,9 no ano passado.
Também o número de mulheres que morrem por questões relacionadas com a gravidez caiu de forma significativa – de 369 por cada 100 mil em 1994 para 216 em 2015. E a melhoria no uso de contraceptivos foi ainda mais pronunciada: há 50 anos, apenas 24% das mulheres usam métodos contraceptivos, um valor que subiu para 52% em 1994 e para 58% actualmente.
Ainda assim, o relatório salienta que há muito por fazer. Todos os dias, mais de 500 mulheres e adolescentes morrem durante a gravidez ou no momento do parto. E 800 milhões de mulheres que estão vivas actualmente casaram-se quando eram crianças.